sexta-feira, junho 29, 2012

Bumba-meu-boi e o óbvio tantas vezes dito

Francisco Araujo São Luís-MA Brasil
Foto: Francisco Araujo.
Caboclo de pena do Bumba Meu Boi da Maioba. 
Os arraiais estão perdendo o formato de terreiro e assumindo as características de arenas de show. Hoje já tem palco para o bumba meu boi dançar e, sobre o batalhão, jogos de luze. Cada grupo é apresentado por um mestre de cerimônia (um locutor do arraial que muitas vezes fala um monte de coisas desnecessãrias e quer para si a atenção do público) . Mudança! A mudança é um fenômeno presente em qualquer arranjo socialmente produzido. O problema maior é o sentido das mudanças. A tradição é resistir aos eventos modificadores ao longo do tempo, não exclui e nem elimina modificações, mas transaciona as alterações para manter o que há de mais essencial. 

Perdurou por muito tempo uma concepção de tradicional na forma mumificada, congelada. Era uma herança "teórica" dos ensaístas da cultura que pensavam o folclore como algo estático, atividade extinta ou do passado, um fazer socialmente morto. Hoje sabemos que folclore é antes de tudo aquilo que é de domínio de todos e pertence a um todo - uma configuração social. O folclore é socialmente vivo, tem a ver com o presente. 

Volto ao sentido das mudanças. O palco alto torna mais visível a brincadeira ao longe, mas não precisa ser tão alto. Cabe também perguntar: todo o grupo precisa ficar sobre o palco?, não é possível manter o palco e o formato do terreiro? A iluminação ampliada e melhor distribuída faz ressaltar as cores e o brilho, mas jogo de luz à maneira de show de banda de rock não ficou bom, a constante mudança de luz, o apaga e acende, cria dificuldade de localização e distância para os brincantes, que não ensaiam sobre palco. 

Presenciei, nessa última quarta-feira, um fato inédito: um brincante do Boi de Morros se machucou. Por quê? Porque caiu do palco, a altura do palco tornou o tombo mais grave. A iluminação não pode ser de improviso e tem que ser pensada a segurança dos brincantes. Nesse particular, segurança, a contenção feita, envolta do palco, são cordas presas a estacas de pinho. Madeira frágil e que produz muita farpa, isto é, totalmente inadequada. 

O óbvio tantas vezes dito: precisamos estender mais esse período de festejo, a fim de aproveitar mais o período de férias escolares. Os arraiais hoje movem grande volume de recursos e não podem ser tão pouco aproveitados. Imaginem se é lógico montar e desmontar toda essa estrutura em tão pouco tempo. Esse  encerramento logo no dia 30 de junho é contraprodutivo. 

O prolongamento dos festejos de São João até a metade do mês de julho é crucial para alavancar o turismo e para viabilizar maior retorno financeiro para os diversos grupos e brincadeiras tradicionais. Esses grupos precisam ter sustentabilidade financeira, gerar renda e se manter tanto pelo mercado interno como externo. Em Salvador o carnaval-baiano é o ano todo, o que tem possibilitado as bandas e os blocos carnavalescos obterem maior retorno do investimento feito no período de Carnaval propriamente dito. Precisamos pensar em saber oferecer MAIS o que temos de MELHOR: Bum-meu-boi, tambor de crioula e cacuriá. 

Crianças e jovens entrando de férias, turistas chegando, mas os arraiais vão fechar. 
Em qual parte do mundo o setor turístico desperdiçaria uma oportunidade como essa? No Maranhão. Só aqui mesmo. 

quarta-feira, junho 27, 2012

Ruídos no ninho



Hoje FUI tomado de surpresa pelo jornal da Mirante, do meio dia. Motivo: notícia sobre o pronunciamento do Deputado Cutrim. A âncora disse: "Abre aspas". Ao informar o conteúdo do pronunciamento do deputado e, em seguida fez a citação: "moleque". Isso foi o tratamento e qualificação dada pelo deputado ao secretário de segurança do Governo Roseana. 

Isso tudo aconteceu na Tribuna da Casa Legislativa do nosso estado. O parlamentar ainda teria dito, segundo a citação da apresentadora: "na bala". Essa afirmação para dizer como resolveria uma situação sem recorrer a intermediários. É preciso dizer que estamos diante uma versão da emissora citada. cabe uma verificação nos registros taquigráficos da Assembleia. 

Não é do meu interesse discutir "a bala" ou as supostas acusações endereçadas ao ex-secretário de Segurança. Isso é de competência da polícia e da justiça. A proposta aqui é da consequência política do pronunciamento. Primeiro, se foi em tal tom e com tais adjetivos divulgado pela imprensa... cabe perguntar sobre quebra de decoro, houve ou não?. Ao deputado compete tanto legislar como parlamentar (do francês   parlementer), no entanto, essa última prerrogativa não pode ser efetivada na foram de xingamento. Compreensível indignações e exaltações, mas o Parlamento necessita de decoro. O confronto em debate tem que se servir de argumentos, reflexões, análises, críticas etc. em linguagem tratada, para que o discurso não fira o que representa a própria imagem da soberania popular.


O outro filigrana desse discurso de Cutrim é que isso afeta o Governo, a Governadora e a liderança do Senador Sarney. Teria o deputado anunciado sua ruptura com o grupo e enveredado pelo caminho do anti-sarneísmo? Isso não foi declarado de forma direta, mas  olhando a marca deixada, figura como um claro não-crédito às qualidades políticas da Governadora e uma forma de medir força com o Grupo Sarney. Por quê? 


O governo de cada estado-membro segue o modelo presidencialista, onde o  Chefe de Estado também é Chefe de Governo. A competência do Executivo é da Governadora, ela nomeia e forma sua equipe de governo. Se o secretário de Segurança é de tal nível, cabe à Governadora responder por sua nomeação. Qual e que tipo de Governo nomearia um "moloque" para uma pasta tão importante?


Quero crer que foi um deslize verbal sob o calor da emoção, pois põe em xeque não só a qualidade política-administrativa da  Governadora, mas também a do Senador Sarney, tendo em vista que o secretário de segurança é uma pessoa de sua confiança e tem serviços prestados à família. O líder Sarney não manda mais? Perdeu o comando e seu grupo está fragmentado ao ponto de um de seus membros poder levantar a voz em tom de desqualificação a um outro do grupo? 


O Governo é composto de "moleque"? O sarneísmo sempre teve uma marca: comando. Isso associado às balizas de negociação e acomodação dos interesses dos seus membros. Ninguém desqualificava ou expurgava alguém sem o aval do comandante. 


Porém, amanhã será um novo dia... talvez o deputado faça algumas recolocações que enalteça o Governo Roseana. Se nada disso ocorrer... o roteiro vai seguir seu curso de ruídos no ninho. 


A capacidade de identificar quantidade faz parte do senso de quantificação, mas isso não quer dizer que haja contagem. Diversos animais possuem senso de quantificação, mas não sabem contar. Contar é uma coisa mais elaborada... Isto é, não é obra pura do instinto.



domingo, junho 24, 2012

O Futuro na perspectiva da Caritas



Texto da Caritas:
O futuro na perspectiva da Caritas: Todos com fome de justiça, equidade, sustentabilidade ecológica e co-responsabilidade!

O mundo atravessa, há alguns anos, uma crise sem precedentes que se caracteriza por suas dimensões sistêmicas e internacionais. Esta crise é, na realidade, uma conjugação de várias crises (alimentar, energética, climática, financeira, humanitária, econômica e social), que tem como consequência o aumento das desigualdades, da exclusão, da violência, dos conflitos, das migrações forçadas, do empobrecimento de um número cada vez maior de pessoas e o escândalo de 1 bilhão de pessoas que passam fome.
Frente a esta crise, a Caritas Internationalis, uma confederação mundial de 164 organizações solidárias católicas, reafirma seu enfoque em um desenvolvimento integral humano solidário, entendido como uma perspectiva completa, que leva em consideração a interdependência da família humana e seu bem-estar, em suas diferentes dimensões: econômica, social, política, cultural, ecológica e espiritual, com o fim de alcançar uma sociedade baseada nos princípios de fraternidade, justiça, equidade e solidariedade.
A Caritas defende o enfoque do desenvolvimento humano, por meio do respeito e da realização dos direitos humanos (incluindo o direito ao desenvolvimento). Erradicar a fome, a pobreza e a exclusão são prioridades fundamentais para a Caritas.
Conclamamos a uma mudança de paradigma, a uma nova civilização do amor pela humanidade, que coloque a dignidade e o bem-estar de homens e mulheres no centro de toda ação. Todo compromisso que se assuma na cúpula da Rio+20 deve validar esta perspectiva. Conclamamos os líderes do mundo a enfrentar este desafio, com valentia e confiança, a fim de que esta cúpula seja uma mensagem de esperança para a humanidade, sobretudo para os pobres e excluídos.
"Sem verdade, sem confiança e sem amor pelo verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atuação social se deixa a mercê de interesses privados e de lógicas de poder, com efeitos desagregadores sobre a sociedade, ainda mais em uma sociedade em vias de globalização, em momentos difíceis como os atuais.” (CiV 5)
No caminho dessa mudança, na qual esperamos que a Cúpula na Rio+20 seja uma pedra angular, cinco elementos/dimensões são fundamentais:
1) Um futuro sem fome
Conclamamos os(as) líderes para fazer da luta contra a fome uma prioridade e assegurar o direito à alimentação. A alimentação é a base para poder desenvolver nossas capacidades e talentos. Sim, como o documento zero afirma, 1/6 da população do mundo está subalimentada (75% deles são pequenos camponeses). Esta mesma população não pode contribuir totalmente para o bem de suas comunidades nem de suas famílias. Estamos desperdiçando importantes recursos humanos, que são essenciais para a saúde do nosso planeta. A única fome que deveríamos sofrer é a fome pela justiça, equidade, sustentabilidade ecológica e corresponsabilidade.
2) Um futuro com visão
Conclamamos a que se mantenha a visão contida nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e o compromisso dos lideres para aplicá-los. Representam hoje um guia para o desenvolvimento sustentável e para um mundo mais justo. É importante aprofundar o sentido desses objetivos com as pessoas mais afetadas adaptando-os às necessidades de hoje. Além disso, é essencial que um marco renovado de tais objetivos contenham compromissos por parte dos países desenvolvidos para que se envolvam na promoção de um modelo de desenvolvimento a favor do bem-estar de toda a humanidade, priorizando a justiça, a equidade, a sustentabilidade ecológica e a corresponsabilidade.
3) Um futuro de cuidados com a nossa casa: A criação
Conclamamos a que a capacidade transformadora do ser humano seja utilizada para o cuidado da criação e se incentivem ativamente projetos, ideias e medidas que cuidem do ambiente. Nossos ambientes de vida, sejam eles rurais ou urbanos, devem caracterizar-se por uma vida digna e sã com máxima sustentabilidade ecológica. O foco de conquista e de exploração dos recursos naturais tem predominado e a se estendido, ameaçando hoje a própria capacidade de acolhida do meio ambiente: o ambiente como ‘recurso’ coloca em perigo o ambiente como ‘casa’. A incontrolada transformação do território pela atividade humana favorece o aumento da vulnerabilidade dos espaços e das sociedades, trazendo também consequências injustas por afetar principalmente os grupos mais pobres e desfavorecidos, que muitas vezes não são sujeitos causadores de práticas arriscadas.
4) Um futuro com o novo marco econômico verde
A Caritas apoia a ideia de uma economia verde, desde que respeite princípios éticos, de equidade e solidariedade. Conclamamos a que a construção de uma visão de "economia verde” não substitua, ou deixe de fora, as premissas correspondentes ao "desenvolvimento humano, integral e sustentável” construídas há décadas, já que existe uma genuína preocupação, da parte das organizações em todo o mundo, de que o novo conceito de "economia verde”, leve em si mesmo o modelo de mercado como eixo fundamental e, por tanto reforça os princípios neoliberais do crescimento como meta; o mercado como gestor da sustentabilidade; o aumento de preços além do imaginável; maior privatização dos bens comuns (água, oceanos, bosques) e planos de ajuste estrutural ambiental. A Doutrina Social da Igreja é definitiva no chamado a buscar novas maneiras de distribuição e a privilegiar a pessoa em toda sua integralidade, sobretudo os sujeitos mais vulneráveis, para que tenham uma vida digna, e isto confronta claramente muitos dos princípios do modelo centrado no mercado. O novo marco econômico não deve centralizar-se na maximização de benefícios, mas deve favorecer o trabalho digno, dando esperança sobre tudo aos milhares de jovens que estão sem trabalho.
5) Um futuro que respeite mulheres e homens criados à imagem de Deus: um novo contrato social
Conclamamos a desenvolver um código de conduta para uma cidadania global solidária, isto significa definir um novo contrato social que leve em conta nossa interdependência e convoque a atuar como cidadãos(ãs) responsáveis pelo bem comum. Todos e todas somos consumidores dos produtos da criação e, como sujeitos responsáveis, podemos optar por maneiras de viver que favoreçam o desenvolvimento, cuide do meio ambiente e reduza os efeitos negativos para os mais pobres. Por isso, propomos um modelo econômico que inclua dinâmicas de democracia participativa e promova a dignidade humana, o desenvolvimento humano sustentável e a distribuição da riqueza. Conclamamos a todas as pessoas de boa vontade a estabelecer uma cultura de respeito e de diálogo que possibilite o acesso aos direitos e à justiça.
Roma, Junho de 2012
Caritas Internacional
http://www.caritas.org

sábado, junho 23, 2012

A morte de Décio e as formas e estruturas elementares do passionalismo político-partidário



O roteiro é plausível... Mas as falas e os argumentos das personagens apresentam falhas, descontinuidades, incoerências etc. Alguns trechos são obscuros. Porém, isso faz parte de qualquer caso, nem todos os envolvidos fazem registros idênticos; a seletividade da memória impera em todos os níveis da realidade social e em qualquer situação.

Os crimes desvendados são os que as lacunas foram em maior grau eliminadas, assim como as omissões e incoerências. Mas sempre vai faltar alguma coisa, pois essa coisa jamais vai ser encontrada entre os envolvidos diretamente.

As coisas que sempre faltam residem nas expectativas, na força imaginativa, nas fantasias e nos desejos que residem no interior dos grupos sociais que compõem aquele dado contexto, aquela realidade social. Isso tem a ver como o caso é representado, interpretado e valorado. Quem alimenta e produz tudo isso? São os diversos indivíduos não envolvidos diretamente no caso, mas empenhados em saber e elucidar o fato. Todos nós somos ávidos em exercitar a imaginação sob o forte impulso da curiosidade.

Um absurdo está sendo consolidado: a versão do assassino tomada como a mais absoluta verdade. Não podemos esquecer que estamos diante de mais uma VERSÃO. Trata-se de um discurso elaborado do lugar que ocupa o assassino, nesse caso o único autor preso. O discurso de quem está preso. Repito: preso. 

Cada informação desse caso precisa ser checada, averiguada e confrontada com outras versões. A delação premiada não faz esse ou qualquer criminoso virar o fiel da verdade. Ao ponto de uma confiabilidade absoluta.

O roteiro apresentado para esse assassinato é plausível, porque esse formato de crime, com tal performance é comum no Maranhão. O diferente foi o setor social onde ocorreu e os vínculos que possuía a vítima. Mas essa prática de barbárie não é rara sobre outros setores sociais que, historicamente, são massacrados de forma continuada em nosso estado, tais como: índios, negros, lavradores, quilombolas etc.

O que ficou evidenciado com o suposto “currículo” desse matador? Que no Maranhão um indivíduo desse naipe leva uma vida tranquila e sem incômodos dos poderes constituídos. Como alguém com tantos crimes ainda estava solto? Só estava porque devia gozar da cumplicidade e parceria de alguns desses poderosos. 

O homicida, na forma de “assassino de encomenda ou de aluguel”, só permanece na atividade onde existe espaço de acobertamento e proteção de pessoas ligadas a um dos poderes. Não existe pistoleiro livre e vivo sem que haja ineficácia do poder coercitivo do Estado. Alguma coisa não está funcionando bem nas instituições existentes nas cidades por onde residiu esse assassino.

Esse tipo de assassino foi escolhido a dedo, pois é o tipo “perfeito” para tal brutalidade.  “Perfeito” porque: (1) - pelo currículo, pela forma como pratica, mata sem precisar muito de “plano”, sem preocupações maiores com o lugar, com testemunhas, com a movimentação. Postura de quem respirava brutalidade. “Perfeito” (2) – Porque ao reunir tais características era mais fácil de ser descartado pelo (s) mandante (s), na forma de queima de arquivo.

Quem contrataria um matador-de-aluguel sem nenhuma discrição e brutal para matar um jornalista conhecidíssimo e funcionário do grupo político mais poderoso do estado sem pensar em se livrar dele logo em seguida? Quem teria tal ideia sem pensar em se livrar, logo em seguida, do matador contratado? 

Quem imagina que o assassino é totalmente despossuído de inteligência? 
Quem cometeria um assassinato nesse padrão e escolheria escalar uma duna para fugir? Essa duna foi plano ou uma saída do plano? 

Alguma pequena coisa pode ter dado errado, provocando o aguçamento do instinto de sobrevivência desse criminoso, fazendo-o descer da moto e se evadir pelo mato. Talvez seja esse o motivo de ter permanecido vivo. O que ele percebeu ou o que seu comparsa percebeu? Ou o que ambos perceberam naquela ação? 

Fugir na madrugada sem camisa e com uma pistola ponto 40 na cintura... ou sei lá onde, não é nada comum, ou é ? Eis uma versão. Livrou-se do carregador, mas não quis se livrar da arma. É plausível? Mais uma versão. Qual foi mesmo a trajetória dele para chegar até a Curva do Noventa? Para onde foi o comparsa?  Eles se dividirem deve ter fugido dos planos de alguém.  

Ainda não constatamos, através de leituras, nada sobre o paradeiro do motoqueiro que estava com o matador. Acharam a moto? Também não vi nada escrito sobre as circunstâncias e os suspeitos de terem matado aquele “envolvido na morte do Décio”, no Araçagi.

Décio teve mesmo a coragem de dizer para os criminosos que sabia quem eles mandaram matar? Quem disse isso? Qual a prova disso? Quem eram os jornalistas presentes nesse almoço? Eles conheciam os bandidos e mantinham diálogos como eles? Essa parte tem uma falha de continuidade. Isso tem alguma comprovação?

Esse texto foi produzido com o objetivo de demonstrar que qualquer pessoa pode achar qualquer coisa. O achismo é uma prática cultural nossa. Qualquer um, do interior da sua casa e lendo blogs, jornais e/ou ouvindo rádio e vendo TV, pode chegara a inúmeras conclusões, suspeitar mais de cem vezes de qualquer coisa, criar sua versão e acreditar no que bem quiser.

Fazendo uma retrospectiva, considero que a Polícia fez um bom trabalho. Inclusive nas omissões e demoras. Só lamento não terem acionado plenamente a polícia técnica para  que os outros envolvidos falassem mais. Deveriam usar mais de recursos científicos de persuasão para que os outros envolvidos dessem mais detalhes. Por que não foi feito isso com esses outros?  

O que pesa bastante nesse processo de esclarecimento é o grau de passionalismo oriundo da política-partidária. O Maranhão vive a miséria do pensamento dualista entre o anti-Sarney e Pró-Sarney. Ser contra ou a favor de maneira automática e cega é compartilhar de uma mesma doença: fanatismo.  Muitos estão descrentes e incrédulos porque o desfecho não foi em conformidade com suas expectativas, nem suas “verdadeiras” suspeitas. No meio disso, o que é mais do que esperado, brotam todo tipo de teoria conspiratória. Quando falaram que tinha um parlamentar envolvido, cada agente dessa teia de passionalidade doentia buscou apresentar seu suspeito. Hoje entender qualquer coisa ou explicar algum fato diante dessas mentes pró e anti é uma tarefa inglória. Por isso, não faltam dúvidas e suposições.


quinta-feira, junho 21, 2012

A miopia dos maranhenses e os óculos da Globo


A miséria no Maranhão é tão ampla e tão antiga que os maranhenses perderam a capacidade de ver com seus próprios olhos as reais implicações dessa situação. Não conseguem ver nem se indignar com tamanha desigualdade social. Incapazes de reagir à violência e ao constrangimento que isso significa para a vida cidadã. Para os maranhenses isso tudo é normal. Impera uma forma naturalizada de conceber a miséria. Não são poucos os que pensam, percebem e definem essa desigualdade como patrimônio cultural - eles gostam de viver assim, dizem eles.  

A Globo tem tido o mérito, com sua capacidade de convencimento e de estabelecer a versão "verdadeira, de ser uma espécie de óculos para os maranhenses. A Globo disse então passa a ser real. As pessoas comentam e mostram-se admiradas. Tudo já estava posto bem perto dos olhos. Tudo que a Globo disse, resumidamente, já foi dito e forma aprofundada por inúmeros pesquisadores locais. Diversas vezes postei sobre essa questão. Tantos outros pesquisadores já fizeram o mesmo. Sobre esse tema já concedi três entrevistas à Rede Brasil, sendo que última foi em rede nacional. Qual a repercussão local? Nenhuma.  

Marajá do Sena como a capital da miséria não é novidade para um estado campeão em miséria. Mas isso não é só uma questão quantitativa e econômica. Quem ver só assim continua tendo uma visão superficial do problema. O Maranhão tem um ethos profundo de extrema desigualdade social: as pessoas que têm não se contentam em ter, precisam o tempo todo dizer que o outro não tem nada. 

Tem uma responsabilidade política-governamental vinculada à persistência dessa miséria, mas há, do outro lado, um modo tradicional (de tipo reacionário) de culto ao distanciamento social, e que não deve ser atribuído como culpa também quem está no poder político. O que dizer de um pai que, em uma reunião escolar de pais, propõe que a escola aumente a mensalidade para evitar a entrada de "gentinha" ? O que dizer dos que reclamam de colegas que são "bolsistas"? A culpa é só dos governantes? Não. Eles são pessoas dessa mesma sociedade que alimenta o distanciamento social extremo como forma de projeção social. Basta observa o alto investimento em status aparente. Ter carro com mais de 03 anos em São Luís é uma heresia. 

O investigador do IPEA falou na Globo agora todos os vão reproduzir o dito. Eis um outro detalhe. Nesse Maranhão profundo,  persiste uma vaidade suicida no meio acadêmico, onde cada intelectual se posta como um supremo gênio e são incapazes de reconhecer os méritos do colega, em geral, boicotam para que o outro não possa parecer que tenha mais brilho do que ele. Uma vaidade obscura, onde todos acabam sendo "mundialmente conhecidos" apenas na sua sala ou nesse inusitados departamentos. Essa operação de ninguém poder ter seu trabalho reconhecido, para que o nivelamento fique sempre no rodapé, tudo que vem de fora é maior, é melhor e grandioso. É preciso algo de fora aparecer para que se possa ver e validar. 

A questão dessa miséria, já escrevi, tem a ver também com a falta de financiamento específicos para cada arranjo produtivo. Não basta só ensinar a cozinhar, não será suficiente, pois quem está na miséria mesmo não monta negócio sem incentivo. Cadê o dinheiro para comprar o fogão, o gás, as panelas, a matéria prima? É preciso desenvolver também capacidade empreendedora. No mais, falta em nós mais humildade e solidariedade no que tange o reconhecimento do outro de ter direito a vida digna. Humilhar pobre não é luxo, é extrema perversidade. 


segunda-feira, junho 18, 2012

João Traquinagem: o ideal de maximizar a miséria política




É óbvio que toda essa configuração política, refletida enquanto miséria política, não é obra de um homem só. Não cabe ao senhor João Castelo responder sozinho por ela, basta ver a inoperância da maioria dos vereadores. No entanto, o Sr. Castelo insiste de agudizar o caráter miserável do fazer "política" em nosso estado, em caricaturas grotescas e piadas. Por último, lançou um trem que, em pouco tempo, já virou ônibus iguais aos de Curitiba. Propaganda antecipadíssima. Quando diz "vai" joga para o futuro. Para não ser propaganda antecipada deveria dizer a data de início e término ainda neste ano. O que dizer da foto?

Para além da pureza e infinita solidão


sábado, junho 16, 2012

A Global crítica ao Bolsa Família e outras intenções



Ontem fui surpreendido por uma manchete do jornal nacional da Globo: Bolsa família desestimula a procura de emprego... Depois aparecia quase definhando "formal". Isso para mostrar e comprovar deficiência do programa. Qual é o momento da história que as taxas de emprego informais não foram altas? Para saber todas as implicações da Bolsa família é preciso comparara aos períodos anteriores à criação desse programa. 

Vamos por parte:
 1 - trabalho informal pode ser um monte de coisas, p. ex.: a não submissão da mão de obra a um empregador, pauta no empreendedorismo individual, vulgarmente chamado de trabalhador por conta própria. No fundo dessa questão está o fato dele não está seguindo os procedimentos regulatórios, no todo ou em parte, formalizado na legislação sobre trabalho e livre iniciativa (empresas). Só lembrando que ocupação e trabalho nem sempre andam juntos com o que é propriamente emprego;
 2 - emprego informal é muito mais um caso que diz respeito à responsabilidade do empregador, do empresário, muitos empresários aumentam seus lucros precarizando as relações de trabalho, minimalizando os vínculos empregatícios. A informalidade do emprego diz que o empregador não está seguindo os procedimentos legais quanto ao processo de submissão da mão de obra;
 3 - O emprego formal ocorre quando a relação de trabalho entre empregador e empregado segue todas as etapas prevista pela legislação específica e visa a formalizar um vínculo que estabelece obrigações e garantias para ambas as partes, ficando o Estado como fiscalizador árbitro de forma direta e inequívoca. 

Perguntas que necessitam ser feitas sobre essa reportagem da Globo: 1- O Bolsa Família não visa, em primeiro plano, uma questão social em termos de mais equidade sobre vida digna e cidadania? 2 - Não precisamos perguntar o porquê as pessoas não estão procurando esse emprego formal? 3 - Não procurar emprego formal é igual a não querer trabalhar e não ter ocupação? 

O que pode existir atrás dessa reportagem da Globo? Existe o descontentamento dos empresários que não estão conseguindo manter o mesmo grau secular de superexploração da mão de obra. As pessoas com o mínimo calórico, garantido pela programa Bolsa Família, passam a valorizar mais sua hora de trabalho e a resistir a uma oferta qualquer. 
O que a Globo não diz que o Brasil, a sétima economia do mundo, tem um vasto leque salarial e está longe de uma justiça salarial e de uma real valorização do trabalho. Os altos custos com a mão de obra, que recorrentemente são apresentados, estão longe de significar real favorecimento do trabalhador. Pois esses encargos não são repassado diretamente para o empregado e nem está sobre seu controle mais direto.

O que está incomodando?  É que parcela significativa da população brasileira saiu de uma situação extrema de pobreza, perdendo um alto grau de vulnerabilidade que a fazia se submeter a qualquer tipo exploração, em troca de remunerações baixíssimas. Vide o setor da construção civil que, nos últimos anos recebeu todos os tipos de incentivos e vantagens por parte do Governo, as empresas aumentaram seus faturamentos e receberam farto financiamento, mas o que isso significou em termos de ganho real e qualidade de vida para os trabalhadores dessas empresas de construção? Teve ganhos, sim. Mais postos de trabalho e maior volume de absorção demão de obra. Mas percentualmente pequeníssimos perto do aumento do faturamento das empresas. O que ganha um pedreiro, um mestre de obras e um ajudante de pedreiro ainda está longe de ser um salário medianamente vantajoso. Não é muito diferente em outros setores.

Recentemente surgiu a ideia no meio empresarial de importar mão de obra do Haiti. Gesto humanitário dos nossos empresários? Não. A velha fórmula de atrair mão de obra bastante empobrecida para manter baixos salários. Atitude vergonhosa e desrespeitosa, no mínimo. 

Não se pode esquecer da liberdade individual. O próprio liberalismo advoga que seja assegurada a liberdade individual, que haja limitação do poder das autores. O que querem então esses críticos? Que o programa promova perda de liberdade em troca de benefícios? Isso é o cúmulo do absurdo. Pois qualquer medida que estabeleça exigências aos inscritos no programa que implique em perda da liberdade e das garantias individuais é um crime. Que fere dimensões democráticas, republicana e até mesmo liberais. 

Nem toda oferta formal de emprego significa realização pessoal, realização profissional, satisfação e melhoria na qualidade de vida. Entre a formalidade que destrói as condições de vida, de sociabilidade e a informalidade que permite sobrevivência digna, autonomia e maior liberdade, prefiro a informalidade. Ser informal não quer dizer plenamente precário. Há um lado da informalidade que muitos desconhecem: a alteridade. O direito de ser o outro, o diferente e que se recusa a se submeter plenamente aos encargos de uma ordem vigente. 

Pergunto: Não houve nenhum ganho ou benefício da Bolsa Família em termos de ocupação e outras melhorias sociais?

No Brasil, persiste não só agudas desigualdades e distanciamentos sociais, mas também um pequena fração de ódio social. Composto por aqueles que se mostram críticos quando alguma medida tende a atender necessidades e demandas dos pobres, que são vistas, por esse segmento do ódio, como privilégio, e não como uma política de buscar justiça social e garantia de vida para todos. Como alguém pode achar que tem vida digna sendo uma ilha de prosperidade cercada por um mar de miséria e sofrimento? Que riqueza carrega esse indivíduo enquanto pessoa ("humano")? 

Finalizando. Perguntem aos pequenos comerciantes do interior, das pequenas cidades, se eles são contra o Bolsa Família. 
Desde o início já foi constado que o programa precisa ser melhorado, agregar mais elementos, ter caráter mais pedagógico, formativo e estimulador de superação das condições sociais. Mas é pertinente lembrar que nenhum program social é, foi ou será perfeito. Não existe política pública perfeita, pronta e acabada. Isso é demagogia, não é crítica e não é análise responsável dos fatos. 

O que não se pode admitir é responsabilizar o Programa por fenômenos  bem mais complexos e que estão para além da competência dele, envolvendo situações que não ficam restritas ao mero ajuste da política governamental. Tão pouco é admissível que seja estabelecido em um programa social cláusulas que restrinjam a liberdade de escolha dos cidadãos ou o coloque em condições inferiorizada diante dos que não participam do programa. Obrigações devem existir, perda de liberdade em prol exclusivamente do barateamento da mão de obra, não pode. 

domingo, junho 10, 2012

400 anos e o Império do atraso: São Luís



Caminhão-pipa sendo abastecido em poço na estrada da Maiobinha. Detalhe: Ao lado passa um rio que está todo poluído de esgoto.  
A questão é: Quem está  fiscalizando a qualidade da água distribuída pelos caminhões pipas? 
Qual o critério utilizado pela Caema para entregar essa água? 
Na foto maior o carro estava no Cohatrac IV.  
O certo é que o grande negócio do século XXI em São Luís é carro-pipa... apenas trocamos os jumentos pelos caminhões.. as pipas e os burros permanecem!

quinta-feira, junho 07, 2012

Tudo em HD e pura abacatada


Levantei e fui tomar uma abacatada, mas cadê a abacatada? Tempão ser tomar abacatada. Nem lembro direito do gosto. Continuando: percebi que não tinha abacatada. Pensei: Como? Bebi a abacatada dormindo? Virei sonâmbulo? Comecei a fazer uma revisão de memória para tentar entender o que aconteceu. É o que segue: Ontem, depois que sair do trabalho, por volta das 21 horas, passei em um supermercado comprei alguns itens alimentícios e um abacate. Chegando em casa, fui limpar o liquidificador, sem uso há tempos, coloquei no escorredor de pratos... etc. Em ação contínua, caminhei até a sala e liguei o notebook, comecei a navegar na internet, mas logo ocorreu aquela curiosidade de saber o que estava passando nos canais da televisão naquela hora. Levantei-me e segui em direção ao quarto, lá chegando, sentei na cama e liguei a televisão... A partir daí tudo ficou HD... Voltei para cozinha, montei o liquidificador, coloquei o abacate dentro do copo do liquidificador e fiz aquela abacatada. Olhei para o relógio de parede (adoro) e vi que já estava muito tarde para um velhinho beber tal coisa. Quando se chega a uma certa idade é melhor não arriscar certas coisas. Resolvi deixar a degustação da abacatada para a manhã seguinte. Pois bem, acordei ainda pouco e fui para cozinha tomar a tal da abacatada. Olhei o liquidificador limpo. O copo do liquidificador limpo e os copos limpos.Tomei aquele susto. Cadê a abacatada? Puzt! Quando liguei a TV e sentei na cama adormeci... tudo o mais foi sonho. Meu primeiro sonho em alta definição, muito realismo e colorido. E o abacate? Ele está intacto na geladeira, vontade enorme de tomar a tal da abacatada, mas agora faltou coragem para fazer, fiz muito esforço no sonho. Hoje é feriado, vou é descansar.

terça-feira, junho 05, 2012

400 anos. O que falta e o que sobra



(foto feita ontem cedinho)... Caminhão pipa levando água para o Tribunal de Justiça do Maranhão, na capital do estado... mas a cena lembra mais uma cidadezinha do agreste em pleno período de estiagem.
Em São Luís e no Maranhão está sobrando péssimos administradores e representantes políticos, e faltando tudo que é básico para uma vida digna. Está aqui um pouco do perfil desses 400 anos (de angústias ). 

 SEM PROPOSTAS - ELEIÇÃO PRESIDENCIAL 2022 O que tem movido os eleitores brasileiro diante das candidaturas à presidência da República este ...