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No Maranhão, intelectualidade
é exercício de vaidade, deleite ou qualquer outra coisa, mas bem pouco tem a
ver com compromisso acadêmico e responsabilidade com o conhecimento científico.
Impera, desde os primórdios, uma intelectualidade predominantemente estética e poética.
Agora, no entanto, o achismo começa a assumir o controle do pensamento. Difícil
encontrar uma exposição fundamenta ou que seja fruto de observações e
investigações cuidadosas. As generalizações nascem e são lançadas movidas
exclusivamente pelas idiossincrasias.
Nesse meio há uma
dificuldade enorme de fazer uso de aspas e de indicar o que está parafraseando.
Cada um procura dizer de um jeito “inovador” o que já foi dito para não citar o
trabalho alheio. Essa arrogância é recorrente. Não é à toa que diariamente
encontramos textos onde os autores repetem: “Eu já disse isso”, “eu escrevi isso anteriormente”,
“como escrevi no passado”. Enfim, todos são donos, ninguém toma nado
emprestado, tudo nasce originalmente dessas super-cabeças.
A Crônica é a ferramenta da narrativa
desse meio “analítico”, “crítico”, “reflexivo”, “interpretativo”. Observa-se
que são poucos os adeptos da forma padrão - narrativa na primeira pessoa.
Outros desconsideram a ordem cronológica dos acontecimentos. No entanto, há uma
notável impecabilidade no subjetivismo. Também de grande monta o uso dos
recursos literários: metáfora, ambiguidade, antítese... Porém, é o estilo que
encontra leitor. Quem vai ler textos na forma de artigos científicos?
Consolidou-se no Maranhão
tratar os fenômenos políticos por uma via literária e humorística. Existe nessa
literatura uma dificuldade de considerar a totalidade e o contexto, além de
tratar de forma indiferenciada conjuntura e estrutura. Porém, os problemas mais
agudos são: monocausualismo e coisificação dos fenômenos sociais. Essa visão
torna imperativo ver os fenômenos como coisa para fora, tudo acontece de um
lado de fora, como se fosse possível existir um lugar desligado e imune aos
efeitos e à composição da totalidade, do contexto. Soma-se diluição e
enfraquecimento da complexidade dos fenômenos, que são multiplamente produzidos.
A dimensão multicausal parece ser algo herege. Prepondera uma dialética-sem-mundo.
O que deveria ser exploração
de conceitos não passa de reprodução naturalizada dos mesmos. Não informa, não
descreve o dado, mas mistifica. O problema da subjetividade não é ela existir,
é ignorar a necessidade do esforço de seu policiamento. É amiga e inimiga (E.Morin).
A palavra jogo pouca vezes é utilizada enquanto conceito e referida à teorias. Por exemplo, teoria dos jogos, das escolhas racionais. Tão pouco é entendido sobre o jogo que o mesmo não é visto com disputa que possui regras e diversos níveis de complexidade,
dentro de uma dada configuração (N.Elias).
O achismo tem feito assento em
clivagens a partir de categorias que não possuem comprovação de terem
centralidade e grande influência nas interações e ações políticas, não motivam
e não dão sentido as mesmas. Isto é, categorias que nunca foram comprovadas
como elementos ordenadores dos posicionamentos e tomadas de decisões políticas.
O sarneísmo é uma
manifestação contemporânea de mandonismo. As oposições com a mentalidade
corrente estão produzindo, nesse espaço político, um paradoxo ortodoxo, similar
ao formulado por Kahler.
Estamos confortavelmente
tomados por crenças e dogmas puristas, coisificação de fenômenos sociais, dualismo
determinista e falseamento. Nunca fomos
tão obscuros e superficiais... Realidade. O que é realidade?