domingo, janeiro 19, 2014

A racionalização da desigualdade é a nossa maior especialidade

A Maior, mais poderosa e genuína habilidade brasileira é a racionalização da desigualdade. 
Não sou a favor nem contra rolezinho. Sou contra a distância social, a hierarquia social exercida e manifestada de forma sórdida, perversa e cruel. 

No Brasil, não basta ter, o indivíduo só se sente possuidor se  o tempo todo ficar dizendo que outro não tem nada. Aqui, para os mais endinheirados, a melhor parte da ostentação é a humilhação que podem impor aos outros. Rolezinnho tem mais de versão do que de conteúdo. O conteúdo real é o ódio aos pobres e a falta real do Direito como um valor. O outro nunca é visto em termos de igualdade, mas pela desigualdade hierárquica.  

A parte mais real do rolezinho é aquilo que não é tratado como direito: áreas de lazer, de entretenimento, de esporte, de produção e consumo de bens culturais nas periferias das cidades.

O direito de ir vir não se impõe à repressão ao rolezinho, porque é natural ver o pobre como não possuidor de direitos e como sujeito perigoso ao patrimônio. Prevalece sempre, entre nós, o interesse privado, mesmo quando envolve questões de dimensões públicas. O rolezinho, de roler, expõe a artificialidade "utópica" da promessa neoliberal que o Mercado é capaz de responder às demandas sociais. O livre mercado e a livre iniciativa têm como indivíduos livres os que se encaixam no seu público alvo de consumo e somente para consumo. 

Tudo que configure ameaça às desigualdades sociais, ao distanciamento social, à humilhação dos inferiorizados aciona e excita a racionalização da desigualdade, que prontamente produz, em cadeia, argumentos justificadores e legitimadores da hierarquia, da ordem, do disciplinamento, dos bons modos, da competência e da manutenção do patrimônio privado. 

Aos ricos é oferecido o segredo de justiça, aos pobres o escárnio do noticiário policial.

O rolezinho é perigoso porque ultrapassa a faixa do espaço em que o pobre pode circular de forma tolerada. 

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