segunda-feira, novembro 08, 2010

PODER,COESÃO E CATÁSTROFE.

TEXTO ENVIADO (LEITORA)
"Desde que os supostos pacotes bomba começaram a explodir nos noticiários, uma frase também tem explodido diariamente dentro de mim: "Se a coesão da nossa sociedade era mantida outrora pelo imaginário de progresso, ela o é hoje pelo imaginário da catástrofe". Essa frase do Baudrillard me parece descrever exatamente o que o mundo tem vivido.

Não apenas os noticiários e os jornais têm me inquietado com suas imagens e versões diversas, mas, mudanças mínimas que numa simples fotografia ou conversa numa esquina vê-se o quanto tudo mudou e tem mudado rapidamente para quem vive aqui no Oriente Médio.

Parece que é senso comum que esse mundo, ainda governado pelos yankees, têm levado à cabo essa premissa, ainda mais após os tais atentados de 11 de setembro... uma premissa perigosa que a história tem mostrado e ensinado que nada constrói, além de medo e terror. Até meados da década de 80 vivíamos uma “guerra fria”, que na verdade não foi tão fria assim, pelo menos não nessa parte do globo onde estou vivendo... em especial, marcada pelos conflitos regionais alimentados pelas tais superpotências que se aliavam convenientemente mas nunca se enfrentavam diretamente.

São décadas de invasões, seqüestros, assassinatos, torturas, novos aliados, novos inimigos que vão se sucedendo e se completando no jogo de disputas pelo poder.

Parece pueril, no entanto, esta é máxima: o que está em jogo é o petróleo, é o poder...

Mas desde que a humanidade se organizou com este fito (pelo menos desde que é possível refletir as civilizações ao longo da História) – e aqui cabe inclusive incluir nossos vizinhos mediterrâneos, quando por anos, controlaram o mar mediterrâneo e conseqüentemente a rota das especiarias —petróleo da Antiguidade, os europeus buscaram novos caminhos e novas rotas para “suprir” suas necessidades econômicas, expandir seus territórios e possivelmente dar vez ao ego subjacente nestas disputas que necessariamente não se tratam de abastecer os bolsos ou os pratos dos menos favorecidos.

Pois bem, esta não é minha questão, a ressalva é feita para justamente me fazer entender como os caminhos da história podem ser cíclicos de vez em quando. Talvez não nas suas formas mais concretas e simbólicas, porém na essência, temos a sensação de um de já vu.

Ao reduzir os conflitos – que não são apenas os ligados à 3 semanas atrás com o seqüestro de soldados israelenses no sul do Líbano, nem aos pacotes suspeitos de conter bomba enviados para os Estados Unidos— mas sim tudo que vem se desenvolvendo desde a Guerra Fria, e para ser ainda mais “contemporânea” (não conseguir imaginar nenhum outro adjetivo que defina o que agora tento pensar) os atentados do 11 de setembro, Afeganistão, Osama Bin Laden, invasão do Iraque, ataque no sul do Líbano, homens bomba, ataque aos navios com missão de socorro à faixa de Gaza, enriquecimento de Urânio pelo Irã, aproximação do Brasil com os países do Oriente Médio e também com o Irã, expansão econômica do Governo Lula em acordos bilaterais fora do eixo Estados Unidos Europa, crise energética, alarmada auto suficiência da Petrobrás, venda de armas histórica para a Arábia Saudita realizada pelos Estados Unidos, aumento em mais de 30 anos do preço do ouro e da prata... Enfim, poderia listar uma série de outros fatos que no meu entender não são meramente coincidências.

A máxima do Baudrillard, com a qual comecei a refletir este pequeno texto, me faz rever uma série de posturas, inclusive nas eleições à presidente no Brasil.

“Eu tenho medo do Lula”(há 8 anos atrás dizia uma renomada atriz de televisão no Brasil) ... “eu tenho medo do Serra”... “Dilma no poder, ela já fez o que?” Oras, parece que essa guerra fria é algo que tem se reinventado cotidianamente sob o porrete do medo yankee , construindo preconceitos, solidificando xenofobias, crimes contra o "outro", uma sociedade à espera da catástrofe... sob as inúmeras formas de violência física e simbólica que se pode imaginar. Inclusive à ponto de constantemente vermos pessoas torcendo para que o governo dê errado , só para provar o quanto estamos certos, esquecendo-se de que tal egocentrismo é mais um sintoma desta ferida que vem crescendo em nossas sociedades.

O mote deste “poder” não é apenas o petróleo, mas há toda uma trajetória de egos em disputa, um espírito de conquista medieval pautado na incapacidade de tolerância, na incapacidade de coexistência linear, horizontal...

Esse meu blá-blá-blá todo, na verdade tem uma razão ainda mais direta. Acho que passa da hora do mundo prestar mais atenção no que lê e no que assiste... esse cara no vídeo em anexo –acho que você deve ter assistido ao vídeo antes de estar aqui lendo esse meu desabafo — George Galloway, puxa vida, joga no ventilador um pouco da poeira colocada debaixo do tapete...

À nível de informação, ele é um parlamentar britânico, vice presidente da Stop the War Coliation, criada em setembro de 2001 com o objetivo de ser uma voz de oposição à tal Guerra contra o Terror, base da atual/velha política externa americana(dá uma olhada no Google se você quiser saber um pouco mais).

George Galloway tem uma posição dura ao se colocar em defesa dos grupos palestinos e principalmente por questionar de forma muito lúcida esse “terror”.

Estou morando no Líbano há quase 1 ano e muita coisa é preciso que seja dita e esclarecida...estudada...analisada...

Eu mesma tenho me repensado todos os dias. Vejo e descubro em mim uma casca ocidental que olha com repúdio, com pré-conceito, com superioridade de quem acha que sabe mais... Essas minhas palavras são exercício deste estranhamento que passa a ser cada dia mais forte, diante de uma crise política que o país se vê mergulhado novamente.

Que o mundo se pergunte o que é afinal esse terrorismo, que o mundo veja quem e o porquê desta guerra que jamais terá fim! Até mesmo porque não há interesse para que haja um fim... Salvo todos os judeus, que também estão nessa situação de viver sob a égide do medo e do terror, Israel hoje tem uma postura terrorista...tanto quanto o Hezbollah se nos pautarmos nesse modelo disseminado pelo tio Sam.

Aliás, vivendo aqui posso dizer ouvindo cristãos e sunitas, que o Hezbollah não é um grupo TERRORISTA, assim como comunista não come criancinha!!! No mundo árabe inteiro, o Hezbollah passa a gozar de uma imensa credibilidade, provendo com assistência médica (possui 43 hospitais no Sul do Líbano) escolas, projetos de agricultura de subsistência dentre outras coisas, e se consolida a cada dia como parte de uma resistência contra as sucessivas invasões em seu território que vêm sofrendo há anos. O Hezbollah é uma milícia, porém suas contradições não podem ser resumidas à sua postura criminosa, como querem os pró-israelenses, nem muito menos amenizada pela concepção de que os fins justificam os meios.

A milícia é uma estratégia que também foi usada pelos americanos durante sua histórica guerra civil. E pelo pouco que sei, uma estratégia de milícia se torna mais útil quando não se pode enfrentar o inimigo mais forte usando as mesmas armas que ele possui, quando o mais fraco não pode utilizar das mesmas moedas que o mais forte lhe impõe.

Ao contrário do que as pessoas pensam a guerra de 2006 aqui, no Líbano, não teve um vencedor, a prova disso é que o Hezbollah está aqui firme e forte...além disso, se houvesse “vencedores” como explicar a crise atual e o tal “julgamento” que sequer teve seu inquérito concluído, apontar meses antes que o culpado pela morte do Rafic Hariri foram membros do Hezbollah??? ( me refiro à corte internacional que investiga o atentado que culminou com o assassinato do presidente sunita Rafic Hariri e que havia apontado sírios como os responsáveis, e depois de tantos anos agora passa a apontar o Hezbollah sem sustentação real alguma).

Há uma clara insistência em jogar no colo destes indivíduos, e aqui nem assumo uma postura de defendê-los como vítimas circunstanciais, mas parece que se quer fazer engolir tal qual se legitimou ao mundo uma guerra contra o Afeganistão, ou o tal arsenal atômico do Iraque, agora o Rafic Hariri virou uma instância suprema que poderá servir como mote para uma iniciativa que não será aceita pacificamente e nem deve!

O Hezbollah tem conquistado simpatia até entre os cristãos, pois eles são parte da resistência libanesa há décadas, resistência necessária nesse pequeno país de 10mil hectares apenas... quintal de disputas alimentadas , fabricadas...

A política do terror entre ocidente e oriente tem toda uma construção que é alimentada pelo próprio conflito entre ambos, não é a toa que, quem fornece armas e apoio incondicional à Israel é o mesmo que faz a maior venda de armas da história para a Arábia Saudita. Repito, os fatos falam por si: ha menos de 2 meses o preço do ouro e da prata dispararam em mais de 30 anos, logo a seguir uma venda de armas bilionária também entra para a história e agora pacotes suspeitos e atentados "assumidos" pela Al Qaeda acontecem... UAU... qual será a próxima?

Enquanto isso no sul do Líbano milhares continuam sendo seqüestrados, assassinados ... enquanto isso a água potável do país é controlada a ferro e fogo por Israel...Enquanto isso pessoas são obrigadas a deixar suas casas porque souberam que a casa que herdaram de seus avós não lhes pertence mais... Acho que nós precisamos parar para refletir aquilo que lemos e mediar mais criticamente o ponto de vista de quem fala... A questão palestina não é menos legítima que a dos judeus.

Os homens bomba são parte de uma resistência que sucumbe em suas próprias contradições.

O fato do Irã ter enriquecido urânio e o fato de Israel ter recebido mísseis nucleares de "presente" dos EUA tem sim relação...e porque o sangue de um é mais legítimo que o sangue de outro?? Onde estão as armas nucleares de Saddam Hussein??? Que democracia é essa que impõe? Que condena? Que pré julga que os outros são piores e que "nós" ocidentais temos a verdade a nosso lado???

Muitos não sabem, mas o Marmooud Armadinejah foi eleito. O fato do Brasil se aproximar do Irã não implica que nossa soberania será rebaixada. Ao contrário, as relações diplomáticas devem substanciar-se na afirmação da soberania de ambos os lados.

Acho que é fundamental também levar em conta a imensa crise de energia e de água que os países árabes enfrentam, ao mesmo tempo em que a energia nuclear é uma alternativa...

Por que o mundo deve confiar que os EUA devem ser os detentores da bomba atômica?? Acaso, quem tem começado guerras com pretextos de medos e terrores???

Os caminhos da resistência --hoje chamados de terrorismo-- são formas novas paridas pelo próprio monstro dominador...
lembremos Vietnã...lembremos Afeganistão e o discípulo americano Osama Bin Laden...que não vive em caverna alguma, isso é um grande mito!!

Muitos têm me dito que estou tomando as dores, porque estou morando aqui... talvez... num olhar mais apressado...
porém, ouvir o outro lado tem me feito refletir e isso não me impede de ver o tamanho da corrupção dos estados (Líbano e Jordânia países que transitei) árabes...
é triste a disparidade social... mas também é belo o nível cultural e educacional dos "pobres"...
não há dúvidas de que o mundo perde com tantos conflitos e com tanta mentira...
e minha idéia de democracia não é aquela que condena, pré julga e assassina.

abraço de paz "

Enne Moreira Lima



OBS.: Blog aceita colaborações como essa. Grato!

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