quinta-feira, junho 04, 2015

Corpos tristes: violência em São Luís

Hoje amanheci refletindo sobre a perda dessa moça morta dentro de um ônibus de transporte coletivo de São Luís. Porque é algo que expressa vários problemas na nossa conturbada vida nas cidades.

Primeiramente quero expressar meus votos de pesar à família dessa moça que teve sua vida interrompida dessa forma, nessa situação absurda. Jovem estudante de 19 anos que ao usar o transporte "público" teve sua vida retirada. A dor da família dessa moça deve ser o que temos que olhar mais atentamente. Será que alguma autoridade, algum órgão, alguma entidade, alguma comissão de direitos humanos foi até essa família? O Estado como expressão da sociedade política não deveria se manifestar às pessoas de bem que sofrem com atos como esse? Não devemos um pedido de desculpa por tal absurdo contra essa moça e sua família? Devemos como um todo: sociedade civil e Estado. 

O transporte "publico". Esse modelo e a total independência dos donos das empresas de ônibus é um absurdo. A violência cresce, os assaltos aumentaram e os investimentos preventivos e em equipamentos não foram feitos. Cadê as imagens desse atirador dentro do ônibus? Não existe nenhum dispositivo de alerta instalado nesses ônibus para acionar a viatura da polícia que estiver mais próxima? 

Os assaltos e a criminalidade crescente. Quem vive em São Luís a bastante tempo está muito assustado. Quem conheceu São Luís nas décadas de 70, 80... deve estar absurdamente assustado com o número de homicídios registrados nas últimas décadas. São Luís foi praticamente invadida por uma massa de pessoas que a jogou para uma população com mais de 1 milhão. Sem que nada de significativo tenha sido feito para melhor as condições de infraestrutura e, principalmente, investimento no desenvolvimento social. 

Aqui como no resto do Brasil, criou-se o estúpido e tendencioso discurso que a transferência direta de renda estava "magicamente" criando uma grande transformação social. Postura ideologizada e perversa. A transferência direta de renda tem seus limites e não pode por si só mudar diversos outros aspectos da vida social. Existes áreas bem mais empobrecidas que a nossa e que não convive com essa explosão de violência. A verdade é que não existe no país e, obviamente aqui, nenhuma política ampla e integrada de redução da violência e à criminalidade. Falo de políticas de Estado, programas e ações específicas com continuidade e alcance amplo. Todo o esforço é em manter o aparato repressivo e de sustentação de uma guerra. Hoje os policiais não saem mais de suas casas para fazer um serviço de segurança pública. Não é isso, os sucessivos governos estão jogando todos os dias os policiais para um combate com características de guerra. Com isso, cresce o número de criminosos, civis e policiais mortos a cada ano, mas a violência e a criminalidade não pára de crescer. 

Hoje o que testemunhamos no Maranhão é consequência do agravamento da defasagem do sistema de segurança pública, a ampliação do contexto de produção do criminosos e das ofertas de oportunidades para a criminalidade. Soma-se a isso a falência de valores e instituições de controle que formavam o indivíduo em uma perspectiva não violenta. Faliu a educação para a paz. Independentemente de ser visto ou não como um criminoso, as pessoas estão mais violentas, agressivas. A violência que chega na rua, ela já tem existência prévia nos espaços privados, particularmente nos lares. 

O indivíduo que sai de casa com uma arma de fogo já assumiu a responsabilidade do que fazer com uma arma. Ele está reivindicando para si a responsabilidade de garantir sua própria segurança? Ou se sente na responsabilidade de defender toda a sociedade na forma de um "justiceiro"? Ou ele estava a serviço da segurança de terceiros, no caso o ônibus? A questão do cidadão armado é sempre complicado. Porque não existir só o criminoso como alvo, mas todos nós seremos alvos uns dos outros. Essa jovem virou alvo sem nada ter com o criminoso. 

O Maranhão vive uma expansão do negócio das drogas sem precedente na nossa história. O crack, pelo preço e capacidade de viciar, tem recrutado uma massa de indivíduos para as atividades do tráfico. Por conta do preço da droga, o volume da oferta e a expansão do consumo muitos entraram para negócio. Hoje existem traficantes dos mais variados tipos. Do outro lado, o sistema total de controle do Estado não foi expandido e nem qualificado na mesma proporção. 

Existem pequenas ações que, sem consumir volumes alarmantes de recursos, funcionam bem. Agora isso requer planejamento, conhecimento de todas essas situações e atuações constantes na desmobilização e desconstituição dos contextos favoráveis à criminalidade. Pergunto: O que efetivamente tem sido feito nas escola para promover uma cultura de paz? O que significativamente está sendo feita nos bairros para promover o desarmamento e o respeito à vida? Que oportunidades não criminosas estão sendo oferecidas aos jovens? Combater violência e criminalidade é complexo e requer investimento, ações continuadas e tempo. O foco não pode ser na repressão e enfrentamento direto em situações críticas. 

Atualmente existem coisas que gritam e saltam aos olhos e por mais óbvias que sejam, até o momento não foram discutidas publicamente. Falo da quantidade de arma de fogo ilegais que estão entrando e circulando no Maranhão. Como tanta armas estão entrando em São Luís? 

Vou dar alguns palpites de leigo: 1- Seria bom o Governador  ouvir, por vez, todos os oficiais e praças (graduados e não graduados) da Polícia Militar, na forma de reuniões de trabalho, onde esses profissionais pudessem deixar livremente suas sugestões (sem se identificar); 2- Fazer uma avaliação do serviço de inteligência, ver o que pode ser melhorado; 3- Aumentar a ação da Polícia Militar Rodoviária; 4- Popularizar e ampliar o disque-denúncia; 5- Buscar mobilizar os moradores dos bairros em torno  de ações preventivas elaboradas e gestadas pelos membros da própria comunidade com a participação do MP, Polícia, Entidades Religiosas etc. Isso funcionaria como núcleos de segurança pública e através deles também a comunidade e as autoridades ficariam permanente informados e atualizados sobre as condições de segurança e índice de criminalidade em cada comunidade. 6- Buscar com cada município e, especialmente em São Luís, uma regulamentação e disciplinamento do transporte coletivo intermunicipal (táxi lotação e van) que possibilite uma melhor monitoramento e fiscalização desses serviços.  

Como cidadão... vou torcer para que o atual governo tome medidas acertadas e que sejam exitosas. É óbvio que tudo isso que estamos presenciando não foi gestado ontem, nem nos últimos cinco meses. No entanto, quem está à frente do poder agora carrega o ônus do próprio lugar que ocupa, isto implica não só em responder verbalmente, mas responder, antes de tudo, com medidas concretas e compostura serena. Está tendo muita pressa em apresentar respostas verbais. Muitas no calor do acontecimento sem ter tido tempo de ter um aprofundamento sobre a questão. Tem muita gente falando demais e de forma muito apaixonada e passional. 

Pitaco (não é conselho, nem sei o que é isso) de um torcedor pelo sucesso dessa gestão: pensem mais antes de responder e busquem também escutar as vozes dos não confrades. Busquem evitar "bate-boca" em redes sociais, isso é uma armadilha. Melhor é produzir peças informativas sobre as ações do governo e o que está acontecendo de bom. Sorte para todos nós! 

 Meus pêsames para essa família que perdeu essa jovem! 

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