segunda-feira, abril 19, 2010

(com alterações) O SENHOR SERIA A ALTERNÂNCIA?


“ (JB*) O senhor seria a alternância ?

“(FD**) Não eu, propriamente. Há uma geração de lideranças que não estão só na política, estão também no mundo empresarial, estão no mundo dos movimentos sociais e estão no próprio Judiciário, no mundo da magistratura. Há uma demanda social e hoje a minha candidatura é a confluência dessa expectativa. Eu não tenho nenhum tipo de messianismo, nem um tipo de salvacionismo, nem um tipo de bonapartismo ou cezarismo [sic.], dizer “ah, eu serei o salvador do Maranhão”, não tenho essa pretensão. Até porque não existe esse personagem. Mas a candidatura é o caminho para que nós possamos ter o ciclo novo realmente democrático no Maranhão.

“ (JB) Qual a primeira e imediata medida que tomará caso seja eleito governador?

“(FD) Primeiro iria deixar claro para o conjunto da máquina administrativa que ali havia um comando, havia uma direção política, com compromissos bastante nítidos. O primeiro, da probidade, da honestidade na aplicação do dinheiro público. O segundo, da prioridade às políticas sociais. Essa diretriz ficará bem nítida na conduta do governador. Depois eu irei chamar todos aqueles atores que são os responsáveis pela riqueza do Maranhão. O Maranhão não tem uma única vocação econômica. O Maranhão tem múltiplas vocações econômicas. Não são grandes projetos que vão salvar o Maranhão. É o contrário, é exatamente a soma dessas múltiplas vocações econômicas, agricultura familiar, a pesca, o extrativismo, a presença do setor de comércio e serviços. Então nós iremos envolver no projeto de desenvolvimento aqueles que tradicionalmente são esquecidos e essa é a razão principal razão, ao meu ver, do subdesenvolvimento do Maranhão. Eu diria que há uma atitude a ser tomada. E a atitude, ou a postura, é a probidade, a prioridade ao social, desenvolvimento inclusivo, desenvolvimento que leve em conta as múltiplas vocações econômicas.”

Data: Segunda-feira, Abril 19, 2010
Texto enviado pelo colaborador: Marlon Henrique Costa Santos.
Segundo o colaborador essa entrevista com o Deputado Flávio Dino** foi feita pelo Jornal do Brasil*.

Tomei a liberdade de publicar apenas esses dois trechos e de comentá-los brevemente. Porém, espero ser útil na minha empreitada.

Primeiro, o Deputado Flávio Dino (FD) demonstrou muita maturidade política e lucidez quando disse que “Não eu, propriamente”. Isso revela sua consciência diante do seguinte fato: tanto para a tomada do poder como para administrar o Estado há a necessidade de um bloco de forças em projeto. É uma candidatura e um projeto e não somente uma pessoa. Uma atitude de mudança, sem dúvida. De mandões e magos já estamos cheios!

Nesse particular destaco uma situação para ser pensada. No ato de administrar, o projeto deve levar em consideração o seguinte: tem cargos e funções que não podem ser ocupadas pelo critério único da militância. Notórios conquistadores do poder nem sempre carregam qualificações suficientes de como gerenciar a coisa pública. Aí caberia ao PT (Partidos dos Trabalhadores) começar a pensar o projeto de forma mais técnica e sistemática. Governos só de militância e/ou só de personalismo não precisamos mais. Também caberia ao PT buscar frear tanto personalismo (no seu intestino) e estabelecer um objetivo político para o partido como um todo. Não é só estar no governo, mas como efetivamente participar, visando contribuir para consecução de determinados objetivos.

É preciso destacar a perspectiva de estabelecimento uma nova configuração política, com um campo democraticamente mais competitivo e ampliado. Considero importante um diálogo mais ampliado, que envolva os partidos considerados mais a esquerda. Não é uma coligação, mas buscar o entendimento de que o alvo deve ser um só. A tarefa principal agora não é um embate entre a esquerda e a extrema esquerda, a esquerda e a verdadeira esquerda, mas dos setores progressista e engajados contra o que há de mais atrasado e arcaico da direita brasileira. Depois do campo limpo... Põe-se em pauta quem ou não a verdadeira esquerda. Agora o alvo tem que ser um só. Todos os setores progressistas e de esquerda devem mirar no mesmo alvo.

Segundo, chegar ao poder é diferente de conseguir comandar a máquina administrativa. No Maranhão, a história recente nos dá um exemplo grandioso: o governo Jackson Lago. Jackson foi um governo arquipélago, onde cada secretaria era uma ilha etc., etc. Só palavra não vai ser suficiente. Só dizer quem está no comando não funciona. Por que? Porque é uma “usina de vícios”, como bem disse o próprio Deputado Flávio. Uma das bases desses vícios decorre da implantação por “concurso” ou outros meios, em todos os órgãos importantes da administração, de séquito devotado à família e devedores de favores, que estão atuantes, ano após ano, para garantir o patrimonialismo e a pilhagem da coisa pública.

Faz-se necessário uma canetada democraticamente firme, que instaure novos fluxos de decisões e de processos, estabelecendo novos postos de comando, visando tirar do topo da hierarquia alguns fiéis seguidores do mandonismo e do patrimonialismo, para que a teia não se retroalimente. A engenharia política necessária para o momento envolve uma engenharia administrativa.

Terceiro, é bastante positivo pensar a economia como múltipla, pensar em envolver setores e desenvolvimento integrado. Tenho particular dificuldade de aceitar, do ponto de vista acadêmico, o conceito de “vocação”. Mas deixemos quieto... O mais importante é que há uma nítida vontade de reconhecer e incorporar a inventividade social na agenda dos programas governamentais. Para tanto, serão necessários estudos mais técnicos e especializados sobre os arranjos produtivos locais. Que possam servir para intervenções que resulte na elevação da renda, maior empregabilidade, melhoria na qualidade dos produtos e maior agregação de valor. Também exigirá o aperfeiçoamento e barateamento das técnicas, visando lucratividade e sustentabilidade. Aqui vejo que é fundamental trazer as universidades para essa empreitada. Hoje, diversos arranjos produtivos, com grande empregabilidade, correm riscos de retração por conta da matriz energética, que não está sendo substituída por falta de investimento em pesquisa.

Porém, não vejo como democrático e nem republicano um conservadorismo festivo, fruto de uma antro-pologia sem Antropologia que, em nome das tradições, assiste a perpetuação da miséria “sem grilo”. São os pesquisadores embalsamadores que, para eternamente explorar seu objeto de estudo, buscam forjar um imobilismo de diversas comunidades. Tudo na cultura é dinâmico. Essa idéia de pureza e imóvel não tem sustentação nem na cultura nem na história. A identidade é sempre uma existência arranjada no contexto presente. A memória só existe pelo presente.

Tradição demais mata qualquer civilização, pois impede a chegada das inovações que podem responder às novas necessidades. O Maranhão é o maior colecionar de projetos fracassados junto às chamadas “comunidades tradicionais”. Não basta levar um artefato de tecnologia, faz-se necessária levar a cultura dessa tecnologia para dialogar com o valores locais. É preciso pensar as intervenções com noções de ciências de tecnologias de baixo custo e as dificuldades e limitações sociais locais.
Do lado do projeto de produção tem que existir um projeto de escoamento, de beneficiamento e de comercialização dos produtos.

Falta, nessas populações, alguns outros saberes e técnicas necessárias para que respondam melhor às múltiplas necessidades atuais. Não seria nenhuma apologia ou culto ao capitalismo difundir noções de empreendedorismo (já são empreendedores, mas falta incorporar alguns elementos aos seus negócios), cooperativismo etc. no interior dessa população. Por outro lado, falta uma política educacional de qualificação de mão de obra in loco. Falo inclusive da qualificação para explorar as próprias potencialidades locais disponíveis e, muitas vezes, sub aproveitada.

Vejo que setor industrial deve entrar nessa pauta e temos potencial para diversificar o parque industrial. O problema maior aqui no setor industrial é a falta de uma política de atração mais agressiva e o maldito esquema dos %. Capital produtivo não vai querer enricar ninguém de graça. É por isso que aqui a livre iniciativa é fraca, pois ninguém pode ter iniciativa livre. Quem vai querer sair de São Paulo para implantar algo aqui tendo que entregar, de mão beijada, parte do seu negócio?

Esse cuidado do Deputado Flávio com a produção e o desenvolvimento é também importante, porque aponta para um problema gravíssimo no Maranhão: miséria e produção. Graças ao Governo Lula, com a bolsa família, os índices de miséria baixaram no Maranhão, mas isso não tem se revertido automaticamente (e em mesmo grau) em independência econômica dos beneficiados. A produção, em alguns setores, não cresceu com a garantia do mínimo calórico para a população. A garantia do mínimo calórico não foi acompanhada de um aumento de produção e da produtividade. Muitos não foram incorporados ao mercado formal de trabalho por falta de qualificação profissional. Se for retirada essa ajuda (bolsa família) as consequências serão de agravamento da qualidade de vida para essas pessoas. Observei que em alguns povoados o ciclo de reprodução do grupo foi sensivelmente afetado. Algumas atividades produtivas foram parcialmente abandonadas. Tem gente só vendo o aumento do nível de consumo, mas não analisa o que está sustentando isso. É preciso combinar o benefício à produção de autonomia.

O setor da produção alimentar necessita ser cuidado com urgência. Se continuar do mesmo jeito... vamos, em breve, importar até piaba do...

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