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(parte I)
Admitindo que a educação não se efetiva fora de um campo de correlação de forças e nem de interesses, dado as múltiplas dimensões que inter-incidem sobre ela e a compõe, é possível ver o quanto é importante e difícil pensar essa questão.
Enquanto área específica, especializada da vida social e um elemento de interesse econômico, a educação vai assumir uma dinâmica processual nem sempre coerente, nem sempre pacífica, nem sempre funcional diante dessas duas dimensões.
A educação passou a ser utilizada de maneiras diversas, ora para atender exclusivamente a lucratividade e os rendimentos, ora para cumprir sua responsabilidade formativa, socializadora, recorrendo a valores maiores e universais (conforme a orientação doutrinária). Os empreendimentos privados, voltados para educação, são os exemplos mais cabais dessa dinâmica instável, desarmonizada, fluida e incerta, que tem como par o ensino e o lucro.
(parte II)
Nesses espaços de ensino privado, os alunos assumem simultaneamente a forma de discentes e clientes. Enquanto consumidores e estudantes fazem emergir um rol de motivações, objetivos e interesses difíceis de conciliar. Por exemplo, aprender e não fazer esforço. O conforto do cliente é muitas vezes incomodado pelos afazeres e exigências do aprendizado acadêmico.
Notamos, nos últimos anos, que o espaço do ensino tem sido convulsionado pela afirmação da supremacia do direito de consumidor sobre os deveres do discente, os privilégios de cliente sobre a autoridade do docente etc. (cada vez mais a vida acadêmica é jusdicializada, o aluno tem ou não nota sob mandado judicial).
Todas essas questões produzem problemas na ordem didática e profissional. Como desenvolver uma atividade pedagógica acadêmica respeitando e atendendo a esses diversos interesses e objetivos (do cliente, do patrão, dos operados da lei etc.)? Que recurso de aprendizagem contempla as exigências da formação do discente (competência, crescimento intelectual e profissionalização) sem contrariar o cliente (que paga por um produto, que não quer perder dinheiro, que não pode perder tempo)? Como ser profissional da educação mantendo sua dignidade, coerência e convicções morais sem perder o emprego? (originalmente publicada em 11/06/2007 - ethospolitico.zip.net).