segunda-feira, janeiro 16, 2012

Buda também chupou manga




Através de Gabriel García Márquez, em O general no seu labirinto, descobri que a mangueira não era nativa. Apesar dessa constante presença na paisagem brasileira. A manga é originária do sul e sudeste asiático e chegou às Américas por volta de 1700.

Há vestígios que datam a existência da manga entre de 25 a 30 milhões de anos. O que torna plausível dizer que esse fruto vem sendo utilizado pelos humanos desde tempos mais remotos.

A manga é a fruta mais consumida no mundo, para alguns é a "fruta rei”. No Brasil, essa fruta foi introduzida pelos portugueses, que transacionavam os frutos com os indianos, na exploração do mercado  de especiarias. Os lusitanos logo perceberam a possibilidade de adaptação climática e passaram a disseminar a planta através das sementes. Deu muito certo e a mangueira passou a compor nossa paisagem.

No Maranhão, nos povoados rurais, existe o entendimento que a existência de mangueiras é sinal que o lugar já foi habitado. Dizem os lavradores: “ ali já morou gente”. Para além desse fato, alguns animais da nossa fauna fazem com que a planta vá se espalhando sobre determinadas áreas. São espécies que transportam os frutos para locais mais distantes da árvore, a fim de consumi-los. Porém, deixam as sementes intactas e prontas para germinarem.

Esse povo (nós) também tem um dizer interessante sobre a manga: "Esses políticos são como periquitos, só aparecem em tempo de manga!"  Ou, "Em tempo de manga, toda mucura é gorda". 

Em se tratando de Maranhão, os bosques de manga representam o maior e mais eficiente “programa” "espontâneo" de "segurança alimentar". Graças a esse fruto e sua abundância que a maioria das crianças pobres maranhenses - do interior, ganha sobrevida, adquirindo algumas vitaminas e outros nutrientes para enfrentarem o período sem as mangas. 

Como sabemos, até hoje, os recursos da merenda escolar têm servindo, em grande parte, para alimentar a corrupção nos municípios, enchendo os cofres particulares de prefeitos insensíveis que, logo após iniciarem seus mandatos, passam rapidamente a adquirir caminhonetes, helicópteros, apartamentos caríssimos etc. Enquanto as crianças, nas escolas, ficam só comendo salsicha, macarrão e presunto o ano inteiro. Mas existem escolas onde nem isso é oferecido aos alunos. A merenda simplesmente some. 

A manga é um fruto sagrado para os indianos hindus, representando o amor e a fertilidade. As flores e as folhas são comumente utilizadas em rituais. A folha seria a vida vibrante. Na Índia, conta a tradição hindu, Shiva teria aparecido na sua forma fálica em frente a uma mangueira.

A tradição budista também traz referências à manga. Buda tinha preferência pelos bosques de manga para descansar e meditar. Diante de uma multidão de descrentes fez uma mangueira germinar instantaneamente.

A manga foi meu suplemento alimentar durante a minha infância. Além disso, costumava fazer, da copa da árvore, um refúgio. Ficava lá em cima sempre que o mundo lá em baixo assumia um tom tenebroso. Passava horas lá em cima pensando, observando a paisagem e sonhando acordado. Às vezes, no final da tarde, deitava sobre a areia do quintal, próximo a uma grande mangueira, para ficar olhando para o céu, esperando as primeiras estrelas se tornarem visíveis. 

Sempre que passo pelos povoados, às margens das estradas, fico observando as crianças brincando debaixo das sombras das mangueiras ou vendendo os frutos em pequenos utensílios no acostamento da pista. Fico questionando se tudo mesmo é fruto do sujeito histórico ou se, pelo mesmo de vez enquanto, há uma mexidinha divina, colocando uma saída para os menos favorecidos quando a história deles é uma sequência de desgraças e péssimos governos.

Como seria o Maranhão sem mangueiras? 

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