terça-feira, abril 29, 2014

Racismo desumanização e macaquices


O racismo é antes de tudo uma violência que busca desumanizar. Não é com desumanização que devemos combater o racismo.
É mais fácil um racista brasileiro acreditar ser macaco do que aceitar a condição cidadã e humana do negro. 

domingo, abril 27, 2014

A Pesquisa M e o mágico de OZ


O pouco que consegui aprender até agora me possibilitou distinguir uma pesquisa de opinião e uma enquete simples. A estatística é um instrumento valioso, mas não sozinho, principalmente, quando se quer aferir representações de posições de sujeitos imersos em um processo de disputa de poder. Mas esse tema é complexo... Vamos à parte prazerosa que esse mundo da disputa eleitoral nos traz. 

Por cá, nesse Maranhão, quanto mais absurda é a ação, mas próxima está da realidade. Ideologias converteram-se em penitência religiosa. Aqui, operando essa fórmula distorcida de pão e circo, onde efetivamente é distribuído o circo com o próprio circo, existem mágicos inusitados, da magnitude do mágico OZ. 

Toda mágica possui três fases: apresentação, a virada e o retorno. Para o mágico carrega a obstinação do segredo e da ocultação, mas a plateia só quer e só busca uma coisa: a ilusão. Aqui o mágico dispensa as fases e o segredo e a ilusão são mesclados. 

A questão é que o Totó sumiu, tem pouco espantalho muito leão e homem de lata. Mas o fundamental é não esquecer que eles procuram o que já possuem. A questão crítica aqui é quem quer a ilusão? Quem vai realizar com perfeição a ilusão? 

Muito antes do período eleitoral mais festivo apareceu uma pesquisa onde Flávio Dino aparecia com mais de 62% das intenções dos votantes... Lá embaixo aparecia Luís Fernando que nem tinha sido confirmado como candidato. Isso ainda no ano de 2012. Lá nessa pesquisa aparecia vários "cenários", onde o senador Lobão acumulava a maior rejeição com mais 30%.  Enquete inusitada e perigosa... Com um tempão pela frente apresentar dados assim é um risco, principalmente para quem está liderando. Mas, por incrível que pareça a divulgação e o alarde foram feitos pelos aliados de Flávio. 

Edinho, filho do Lobão, nem acabou de ser apresentado como o novo candidato do eterno novo de novo (sarneísmo) e os aliados de Flávio aparecem novamente com uma "pesquisa" apontando Flávio novamente com 62% das intenções de voto. A campanha de Edinho nem foi iniciada e o senhor empresário milionário aparece com um confortável rodapé de 12%. Aqui não é tanto saber a fidedignidade ou validade da amostra, mas saber qual o objetivo de tal divulgação, o que os seus promotores querem com isso. Pasmem, novamente a divulgação parte dos aliados de Flávio. Há algo estranho nisso. Imaginem quando Edinho começar a fazer sua campanha glamourosa de helicópteros, caviar, champanhe etc... Com quais números ele vai aparecer? Flávio vai ficar aí nesse patamar intocável? Ou Edinho entrou para seduzir os 3% e os 2% do PSTU e PSOL respectivamente? 

Os maiores adversários de Flávio estão com ele. Os votos de Flávio, na sua maior porção, para sorte eleitoral dele,  é composto pelos que cansaram de ver os Sarney no poder. Noventa por cento dos aliados de Flávio não agregam nada eleitoralmente para a candidatura dele. Hoje mais importa neutralizar Castelo e Eliziane (essa tem feito de tudo para se auto-enterrar). Flávio não pode vacilar muito com essa porção do eleitorado. A adesão pelo cansaço guarda um germe da impaciência. Todo cuidado é pouco. O texto apresentado como Programa de Governo é algo inominável... Esse atos de impulso são perigosos nesse contexto. Para que isso? Bastava uma carta de intenções focada nas áreas que terão prioridade e as ações imediatas de governo. O documento possui trechos cabalísticos e, em outras partes, coloca uma montanha para parir um rato. Não vou destacar...  

No meu Twiitter disse que a candidatura de Edinho tanto fede quanto cheira. Ninguém deu atenção. Mas não foi postada sem nenhum fundamento. Explico agora. Até recentemente... em bastidores e em aparições públicas aliados e articuladores de Flávio andavam em um tipo de amizade-cooperativa com Edinho. Gente de alta patente do comunismo apareceu até recebendo medalha na Difusora, nada demais naquele contexto de conspiração contra Sarney/Roseana. Tudo parecia útil e lucrativo em tentar implodir por dentro o sarneísmo. Certo? Vários blogues publicaram uma fala atribuída a Edinho que ele ameaça implodir ou que seu pai seria o candidato e só não seria candidato se não quisesse etc. Pode não ter sido nada certo. Edinho estava buscando se viabilizar, mostrar diferença e independência em relação aos Sarney, os comunistas e uma trupe da oposição podem ter servido úteis como escada. Subestimando a astúcia do filho do Lobo, pode ter ocorrido o inverso do que planejaram: foram usados por Edinho. Os marqueteiros de Edinho já devem estar pensando em desvincular a candidatura dele do continuísmo de Sarney. O voto de peso é contra a continuação. Isso pode dar certo e, se der certo, fede. O que sacia a plateia que está no circo diante do mágico é a ilusão. 

O que cheira... kkkk. Tudo cheira, né? A burguesia tem dinheiro para comprar perfume. Falando sério. Se essa aproximação com Edinho foi suficientemente planeja e com dados suficiente de sua fragilidade, a fim de escolher o melhor adversário. Isto é, insuflaram Edinho para ter um concorrente melhor de enfrentar no debate, melhor de confrontar em termos de retrospectiva política e administrativa. Se isso for confirmado, foi Certo andar em conluio com Edinho. Pois Luís Fernando não seria um adversário fácil em debate e nem em retrospectiva política e administrativa. Além disso, segundo a tal pesquisa dos aliados de Flávio, acima referida, Luís tinha um índice de rejeição bem baixa em relação aos adversários. O Lobão apareceu com um índice bem maior de rejeição. 

Como ninguém quer esquecer Sarney... Vamos falar dele. O que sobra de ganho para Sarney tendo de um lado Zé Reinaldo e de outro Edinho? Sei lá! Sarney ainda deve estar comendo bolo do seu aniversário por aí e contando histórias na sua coluna de O Estado do Maranhão. Desconfio que Sarney quando foi mudar de nome no cartório também mudou o nascimento dele e virou Matusalém. Mas eu comecei falando do Mágico de Oz e não de Matusalém. Qual o nexo disso como o assunto tratado? É que tanto faz , quanto mais absurdo, mas próximos estamos da realidade. 

Edinho é o candidato perfeito para coroar esse nosso período histórico (ou para coroar o charme de nossa miséria política).  

A Chama de uma vela... Bachelard


segunda-feira, abril 21, 2014

Oposição: monocausalismo, onipotência e fixação


Nosso pensamento, em fase bem infantil, é povoado de noções míticas e mágicas. Mas o tempo vivido, de experiências e vivências, nos coloca na obrigação de raciocínios mais complexos e na tarefa árdua de trilhar no campo reflexivo, analítico e crítico. Nesse processo impõe-se os métodos, as técnicas que oferecem condições para o exercício exitoso do esforço de pensar. Blá, blá, blá... Isto é, pensar de forma consistente e construir explicações significativas e fecundas sobre a realidade social não é tarefa fácil.

O Maranhão não tem nenhuma mágica que faça a sua realidade ser compreendida e apreendida facilmente, aqui existe um micro-cosmo tão complexo e difícil como todos os outros espaços sociais. Não existe conhecimento nem método capaz de abarcar e dissecar a realidade social de uma só vez e por definitivo. Nenhuma sentença ou resultado consegue exato, preciso e cabal. Como uma realidade em movimento constante pode receber uma sentença explicativa por definitivo?

Uma das piores heranças do mandonismo sarneísta é a criação e manutenção de uma oposição-fã, que há tempos entrou em um estado de confusão total (mental). Principalmente quando Lula, Dirceu e todo o comando petista assumiram para a base petista maranhense a aliança com Sarney/PMDB, aliança essa de data bem longa. 

O golpe mais duro foi para a base petista local, que herdou a tarefa de constituir sua "tese" de racionalização e coerência da sua ideologia de esquerda e anti-Sarney. Mas, tudo que constitui a tal oposição ao sarneísmo, à oligarquia etc. enfrenta a mesma dificuldade de existir e de discutir os problemas de ordem política sem depender de Sarney, sem alimentar o mito Sarney. Toda a oposição sarneísta no Maranhão insiste em querer andar para frente com a cabeça fixa virada para trás. 

Será que teremos que ouvir por mais quantas décadas a justificação de tudo de errado por força de uma única causa? Quanto mais ainda teremos que ouvir sobre os males herdados do sarneísmo para justificar as promessas não cumpridas pelos os que estarão ocupando o poder? 

O tempo da constatação já passou. Faltar apresentar ideias e propostas embasadas para enfrentar diversos problemas existentes. Apresentar dados sobre isso ou aquilo, prova mais que se estar informado sobre como as coisas estão, a partir de um ponto de vista. As consequências  parecem bem mais fáceis de serem percebidas. Conhecer e compreender as causas requer um esforço contínuo e plural. Tarefa árdua. E o pior nessa ideologia anti-Sarney é o monocausalismo, que tanto produz miopia, opacidade  como uma transparência ilusória da realidade. Quem na sua onisciência achou a causa mestra (ou única) de todos os problemas e desgraças sociais existentes no Maranhão?  Outra coisinha danosa nessa ideologia anti-Sarney é a dupla onipotência, uma para dizer que Sarney pode tudo e logo tudo é produto dele, a outra onipotência é uma auto-atribuição feita pela oposição anti-sarneísta que acha que ela vai poder fazer tudo. O pior é que alguns realmente acreditam nisso. 

Os problemas, questões etc sociais existentes no Maranhão, como em qualquer outro lugar, são multi-determinados, múltiplas causas... A miséria reinante aqui não é grave só do ponto de vista econômico e financeiro. Predomina inúmeras misérias e produzidas para além do restrito campo da institucionalidade. Atentar para o aspecto institucional é importante, mas isso tem limite. Sempre bom conjugar essa abordagem à perspectiva dos processos e à dimensão fenomenológica. O Estado cada vez mais perde sua capacidade regulatória, concentradora, centralizadora e monopolizadora dos meios de gestão da vida. O terrível é a crescente perda de legitimidade do Estado como sociedade política. 

Todo conhecimento é parcial, aproximado e irremediavelmente defasado diante da dinâmica avassaladora da realidade. Quem tem essa exatidão de causas sociais não está no campo científico, mas na esfera mítico-religiosa da onisciência. Não existem fórmulas prontas; vai valer mesmo é vontade, o compromisso e o esforço sem trégua em enfrentar os mais agudos problemas e necessidades. É mais que óbvio que será preciso reunir e somar esforços. 

Não sendo esses fenômenos monocausais, não tem como desconsiderar os fatores culturais. Engana-se que existe uma homogeneidade de percepção, entendimento e representação da própria existência e da sua relação os com os outros. A comunidade cívica, que constituía a polis ou a civitas correspondia a um ethos. Nenhuma ordem social ou uma simples comunidade já existiu sem um conjunto de referências simbólicas e códigos norteadores. Os próximos anos serão a prova dos nove para essa visão de uma Maranhão de causa única, sem complexidade e sem o peso de condicionantes culturais. 

O passado já está concluído, não deve ser a prioridade. É preciso priorizar o presente e olhar para o futuro. Sarney já saiu de cena. Todos os domingos, na sua coluna de O Estado do Maranhão, o PATRIARCA descreve suas memórias... só não ver o seu OUTONO quem não quer. A questão agora na política maranhense é o que vai ser e quem honestamente tem compromisso com mudanças que correspondam a ganhos de qualidade de vida para o povo. O que está aí, não nos iludamos, o atual estado de coisas não alimenta só os que estão à frente do poder, não é, o que não falta na oposição são espertos tirando proveito e dividendos dessa situação. Portanto, bem poucos são os que realmente querem mais do que apenas tirar os Sarney do poder. 


  

sexta-feira, abril 18, 2014

A cruz e o desejo de salvação...


Não existe vida boa, perfeita sem sacrifício. Isso não é a vida. Não é a vida do cristão. A mais singularíssima e original visão do cristianismo é do sociólogo Durkheim: "Eles matam o Deus deles". O Deus é posto na condição humana, não é um guerreiro ou herói, mas um subalternizado que aceita a humilhação, oferece a outra face para apanhar e caminha para a morte. Não esboça fuga, não pede socorro. O fasta de mim esse cálice não é dúvida, fraqueza do Deus, não é. Trata-se de um ensinamento que revela a verdade da condição humana: todos possuem limitações e estão submetido à dor. O Deus não sofre mas se coloca na humanidade para exclusivamente sofrer. Nas nossas orações, em geral, pedimos o afastamento do sofrimento, queremos a salvação, mas sem dor. O mais perfeito paradoxo. Não é para cada um carregar sua cruz? Somos fracos. Deus tenha piedade de nós.
Jesus se colocou como resgate para a nossa Salvação, o grande sacrifício de expiação. Estabelece por definitivo a primazia da Vida. Deus que "morre" é a Vida plena e absoluta. A morte não é o fundamento, não é futuro, não é nada.  
A misericórdia de Deus é infinita, mas nenhum humano pode definir o merecimento da misericórdia de Deus, somente Ele define os merecedores dela. Quem pode invocar ser o Juiz ? O convite é geral e irrestrito para o banquete, mas pouco serão os escolhidos. 

quarta-feira, abril 16, 2014

Jogo do poder: conciliação e complicações internas


Existem muitos palpites e posturas facilmente tomadas por quem não tem a responsabilidade de decidir e que responde diretamente pelo sucesso e, mais ainda, pelo insucesso. 

O jogo é para ser jogado. Uns jogam só pelo deleite de jogar, pouco importa vencer ou perder. Mas quem quer e precisa vencer no jogo tem que ser sagaz para identificar e deter os recursos disponíveis e necessários para garantir a vitória. Isso, dentro de certo limite, não fere a questão da responsabilidade diante da coisa pública. A responsabilidade com a coisa pública, a ética da responsabilidade precisa ser mostrada é no exercício do poder político, quando efetivamente se é o ocupante do posto de comando. 

Maquiavel deixou um um belo legado, não é nada dessa enxurrada de frases sórdidas tomadas isoladamente. O grande legado é perceber o poder como produção social, tratar o poder como ele é e dentro de contextos que mudam. Mudando o contexto é necessário perceber as mudanças e responder eficazmente às mudanças. 

Nem sempre a vitória vem combinada com o tipo de derrota desejado ao adversário. Se for preciso algum grau de conciliação para vencer, quem quer vencer concilia. Nesse campo de disputa todos estão espreitando o que é melhor para si. 

Só resta uma coisa para Flávio Dino agora... decidir se quer vencer ou só jogar por jogar. Ele já lançou a sorte faz tempo, está encharcado da água do rio, não pode mais abrir brecha para o azar. Só resta jogar para vencer. Agora, nesse contexto, o que estava servindo apenas para fazer lastro tem que ser deixado no porto ou lançado ao mar. O espaço tem que estar livre para a mercadoria útil. O momento está ótimo para descartar pesos inúteis, que não agregam e provocam desgaste, como o chorume vindo da situação. Gente com posições dúbias devem ser abandonadas agora. Caso contrário, a barca vai quebrar na areia da praia ou vai chegar no porto em processo de alagamento. Nesse jogo não tem espaço para o indivíduo querer ser Noé. Alguns vão ter que encarrar a fúria das águas. 

Sarney e Lula são dois dos melhores operadores em torno do poder. O Sarney é melhor na manutenção, na permanência e está jogando certo para uma saída honrosa, conforme sua própria fórmula: "saia por onde entrou". Lula é excelente em tomada de poder... sabe caçar cada obstáculo e conhece exatamente o peso e os riscos das alianças que fez. 

Ninguém vai poder dizer depois que o velho Sarney não fez bons gestos: 1- Livrou Luís Fernando de sabotagens internas e o deixou encaminhado para crescer sozinho, é só ele saber aproveitar; 2- Fez a sorte sorrir para Flávio, o cavalo agora realmente está selado; 3- Vai responder sem alardes aos que internamente complicaram o jogo.
Nesse contexto é  bom lembrar Maquiavel... quando diz que para uns a sorte brilha, mas lhe falta a virtú. 

Onde for necessário fazer gesto ao adversário para garantir a vitória, quem está no jogo para vencer, tem que fazer. Não é ser bonzinho e nem frouxo, é ser eficaz. Se é moralmente diferente e tem outros propósitos à frente dos negócios públicos é só provar durante o período que ficar como Governante. 

Para os Sarney a vida vai seguir tranquila mesmo perdendo a eleição para governador... é um grande grupo empresarial, ainda vai ter largo acesso ao Governo Federal, com ou sem Dilma, o PMDB já provou que sabe se adaptar a qualquer governo. Pode ter um ganho imediato perdendo em tamanho. O tamanho da teia hoje é um peso que onera muito as ações. A grande hegemonia política vai acabar, mas eleitoralmente sobreviverá aqui e ali. A questão é: quem vai servir, do que restar, para renovar o quadro, manter um núcleo mínimo coeso e, nas crises, coordenar ações de grupo (?). 

Aos pobres e humildes (como nós) resta lutar, berrar e rezar por dias melhores, pois as questões postas até aqui são exclusivas dos que habitam os andares superiores... 

Ps.: O PT com Sarney é novidade ou espanto para quem? 

segunda-feira, abril 07, 2014

Sarney: o Golpe de 64 e Transição para a democracia

Foto: o Estadão (recortada)
Em 2002, quando comecei o doutorado, tratei de conseguir uma entrevista com o senador Sarney. Motivo: a transição, processo de democratização e volta dos governos civis. Passei meses tentando achar um canal de acesso e que viabilizasse essa entrevista, por fim lembrei de uma amiga que o marido era parlamentar e recorri a ela. Fiz algumas perguntas bem simples e mandei, no mesmo documento, meu contato, basicamente meu e-mail para uma eventual resposta. A resposta veio através de um assessor de nome Pedro, e não era mais que um NÃO. Motivo: ano eleitoral. Como no Brasil, vergonhosamente e em total desrespeito ao erário, fazemos eleições em dois em dois anos, mas na prática é campanha em um em um ano, fiquei praticamente desabilitado de entrevistar o senador Sarney até hoje. 

No fundo, a minha investigação estava exatamente direcionada à sobrevivência dos aliados da ditadura e o grau de democracia estabelecido, o que democracia acabou sendo efetivada diante de tal processo (?). Era uma empreitada muito ambiciosa. O certo é que essa entrevista que considerava e considero de grande importância para meu trabalho não aconteceu. 

Mas, permanece a vontade de melhorar o texto, de buscar fazer uma leitura dessa tal redemocratização por um ângulo diferenciado do que já foi produzido exaustivamente até aqui. Recentemente recorri a três pessoas com acesso ao meio familiar e político do senador Sarney, mas até agora NÃO obtive nenhuma resposta.  Queria publicar meu trabalho nesse aniversário de 50 anos do Golpe de 1964, mas isso já não é mais possível. Quem sabe eu consiga publicar no aniversário de 51 anos do Golpe. O problema agora é o senador Sarney querer colaborar com pesquisadores locais como eu, sem referências maiores e sem "pedigree". 

Tudo indica que não vou ter mesmo essa entrevista. O senador já está com 83 anos e, como todos os seres humanoides, vai ter a ruptura existencial com esse mundo. 

Ontem, 06/04/2014, o jornal O Estado do Maranhão, de propriedade do próprio senador Sarney, publicou, na página 08, uma entrevista com ele feita pela repórter Laura Grennhalgh, de O Estado de São Paulo, o Estadão. Na entrevista foi tratado alguns bons detalhes sobre o período que me interessa, algumas sutilezas e revelações de bastidores. Porém, os pontos da minha curiosidade não foram atendidos. Os ângulos das formulações, apesar de bons, não são os meus e não atendem a minha investigação, é óbvio. Mas é um material importante para pesquisadores e demais interessados no tema. Vale a pena ler. 

Destaco algumas trechos que considero coincidente com o que observei na minha tese: 
1- Ele funcionou como uma senha do processo para a transição acontecer dentro dos parâmetros do lento, gradual e seguro. Garantia à garantia dos militares;
2- Era e é um admirador de Juscelino, mas não tem a mesma admiração por Getúlio, a quem destaca o caráter autoritário e busca minimizar a influência da era Vargas,  além de reproduzir a tese de FHC de que a superação do estado varguista já está consolidada.

Repito aqui o que já afirmei na tese: Leônidas Pires foi quem deu posse a Sarney, através dele que verdadeiramente a "eleição" de Sarney para Presidente foi efetivada.

Destaco também, a partir dessa entrevista que: 1- Sarney é um exímio semeador de afagos (e contador de histórias). 2- É capaz de criar brechas, em qualquer tema e parte da história, para manifestar gestos necessários a quem possa render apoio e reafirmar a amizade. Exemplos: 
A- Ao falar de Getúlio cria uma brecha para tratar do sindicalismo, nisso agracia Lula evocando o tal do novo sindicalismo (o senador não usou a expressão "novo sindicalismo", eu fiz isso), como superação do sindicalismo pelego. No final, mais uma vez, fala do operário concorrendo à Presidência no final do seu mandato; 


B- Assume mais a proximidade o alinhamento com Castelo Branco e o apresenta em distanciamento e desalinhamento com Costa e Silva, por fim, ele próprio, mostra-se em tensão com Médici. Com isso, presta homenagem a um amigo e, ao mesmo tempo, afasta sua trajetória política do AI-5. Não duvido de nada, só destaco a habilidade dele de contar. Todo ponto de vista é visto de um ponto... Todos válidos. 


Repito: Lula é a chegada atrasada do último contingente produto da ditadura, é a consolidação da transição dentro dos parâmetros do lento gradual e segura. Nada até agora ocorreu fora disso. A democracia que temos foi e é carregada (excessivamente) pelo ideário de democracia da antiga Escola Superior de Guerra. O avanço democrático que se esperava ainda não aconteceu. Vide a proposta recente da OAB, que ao sugerir o recall na reforma política, limitou o dispositivo ao legislativo, alegando o "risco" dos adversários derrotados agirem contra o titular do Executivo. Isso traduz a mentalidade conservadora que não admite o poder com o povo, nem acredita na capacidade do povo, mas o tem sempre com um incapaz que merece de certos cuidados e tutela. Traduzindo: O povo tem capacidade para votar para eleger, mas não tem capacidade de votar para tirar (vai ser manipulado). Alguém entende? Pois é... lenta , gradual e segura (sempre?).

domingo, abril 06, 2014

11 anos (sem) você e a vida..


Desenvolvi, ao longo de minha trajetória de vida, percepções e equações bem diferenciadas sobre a existência. Desde uma pequena idade ficava olhando para o céu, o azul, o movimento das nuvens. Contemplava aquele inexplicável. Final de tarde ficava observando o céu para ver as estrelas despontarem, deitado na areia do quintal, próximo a uma grande mangueira. Todo esse tempo eu gastava tentando entender o que estava diante de mim.  
Desse exercício de pensar a existência dessa realidade veio uma crença para além de religiosa, uma crença na própria sensação do mundo, em um raciocínio da condição de existência e de uma coincidência que é por demais consequente e, em muito, lógica. Tudo pode perde-se em ser só coincidência? Não consigo não acreditar em Deus. Não consigo não acreditar na vida como algo que ultrapassa esse momento. 
No dia 04 de abril de 2003 minha mãe morreu... Na última vez que a vi viva ela estava sentada em uma cadeira, em um apartamento de hospital, quando fui me despedir ela segurou na minha mão, apertou e balançou. Ali, sem nenhum outro pensamento, senti o fim. Saí já com a sensação da perda. Eu perdi. 
Depois, quando ela já estava morta, peguei sua carteira de identidade dela...comecei a pensar no que eu sempre acreditei: na vida. A vida nova que ela estava ganhando, do alívio que estava recebendo das enfermidades do corpo e  a libertação da tarefa árdua de sobreviver com a responsabilidade de criar e educar três filhos sozinha: duas meninas e um menino (eu). Nos criar foi algo que ela tomou de uma forma radical. Hoje comparo esse esforço a uma entrega brutal. Ela sofreu e se superou várias vezes nessa tarefa.
Crescemos, nos formamos, conseguimos obter a formação universitária, quebramos com o marco do improvável. Filhos de uma negra pobre, solteira, do interior do Maranhão, conseguiram mais que sobreviver à fome, às doenças e à precariedade da casa. Conseguimos nos dar sentido, sentir orgulho e conquistar espaços competindo sem apadrinhamentos, sem nepotismo. 
A vida vence... a vida segue adiante... aqui e em um outro lugar. Só a vida em movimento faz sentido e pode valer a pena dessa existência. 

sexta-feira, abril 04, 2014

A greve dos policiais chega ao fim

Ainda pouco fui informado que a greve acabou. Espero não ter sido mal informado.
O fim pareceu mais que acertado com a reunião na OAB. O detalhe é que João Alberto não foi lá e mandou recado para os grevistas irem na casa dele. Pois é. O papo lá deve ter sido mais técnico e mais cheios de detalhes administrativos. Nada como uma boa conversa ao pé do ouvido.. com fortes elementos de convencimento. 

quarta-feira, abril 02, 2014

Três dias de Roseana: deixar ou permanecer à frente do Governo Estadual

Três dias de Roseana: deixar ou permanecer à frente do Governo Estadual. Qual o significado e a importância disso? A importância e significado disso estão resumidos ao fato das frações de oposição e diversos segmentos partidários ainda existirem na forma de satélites.  O campo político no Maranhão é muito estreito e densamente eclipsado por uma ideologia dualista. Difícil não pensar como uma hegemonia exercida pelo grupo político que controla o governo estadual. Essas frações ainda não pressionam significativamente a composição da pauta política, não conseguem estabelecer os temas dos debates, não possuem a capacidade de selecionar as prioridades das questões. As ações deles acabam sendo reativas, buscando responder com críticas. Até mesmo as denúncias têm sido de pouca significância em termos de consequência. A resultante é que os feitos e defeitos da situação impõem o ritmo, as condições e ocupa toda a pauta de forma muito absoluta.

Essa situação faz com que as atenções fiquem fixas sobre o que a governadora vai fazer nesse período de tempo, exato até 05 de abril. Essa questão ganhou uma centralidade desproporcional, ocupou todas as pautas. As oposições se condicionaram muito a esse fato. A continuação ou não de Roseana é problema mesmo para o grupo político dela. As oposições vão ter praticamente os mesmos desafios, dificuldades etc.

Onde pesa é na situação. Na verdade, a retirada de Washington da linha de sucessão e a eleição de Arnaldo Melo para presidência da Assembleia Legislativa tem revelado que as articulações não foram bem combinadas com todos do grupo situacionista. Caso típico de jabuti em árvore, mas na fórmula que um professor veterano me apresentou: “jabuti sobre árvore foi enchente, mão de gente ou milagre.” Segundo esse professor o pároco da sua cidade natal repetia a fórmula sempre acrescentando a variável “milagre”.

Todos sabem e não é de hoje, que o grupo político da Roseana está desgastado. Esse grupo não soube perde uma ou duas eleições para criar novos nomes fortes e para descaracterizar o continuísmo. Agora vão fazer o exercício de sobrevivência, de manter participação significativa na política, mesmo sem esse domínio brutal. O ideal para eles era fazer tudo como queriam: presidente da Assembleia elegia o pré-candidato a governador pela situação ou outro nome de confiança pela via  indireta, a governadora saía candidata a senadora e trabalhariam para garantir a maioria absoluta das bancadas federal e estadual... Isso seria o melhor resultado em caso de perda do controle do governo do estadual, pois ficariam calçadíssimos e podendo pressionar a partir de Brasília o ocupante da cadeira dos Leões. Essa via não funcionou bem até hoje e nem parece que vai funcionar até o dia 05. Algo forte emperra. A posição de Melo e outros parecem ter calços.

Outra via seria os dois (Roseana e Sarney) saírem como candidatos ao Senado ela pelo Maranhão e ele pelo Amapá. Isso ficou mais improvável agora. A outra via seria em garantir um dos dois no Senado. Mas essa vaga, onde parecia ser mais fácil está revelando-se uma dificuldade: ela deixar o governo e ser candidata ao Senado. O pai já tem o peso da idade, a carreira já concluída, não tem mais o que ocupar no Congresso e a imagem da continuidade pesam sobremaneira. A permanência no Senado seria mais fácil na figura dela.

Mas vamos refletir também com o acréscimo do padre: o milagre, para acrescentar mais uma via. Sarney ser novamente candidato pelo Amapá e Roseana permanecer no governo. O Amapá existe tal qual o Maranhão, tem árvores, jabutis e pode ter esse milagre. O senador Sarney pode enfrentar mais uma eleição e um mandato pelo Amapá. A atual governadora do Maranhão permaneceria no cargo para empenhar todas as forças que os Leões podem somar em prol do candidato deles ao governo do estado. Essa via, como já dito, é jabuti em árvore por milagre.

O certo é que as condições para Roseana sair do governo com boas garantias de disputa para seu candidato ao governo estadual ruíram a partir da retirada de Washington da linha sucessória, quando o direito de sucedê-la passou ao Presidente da Assembleia. Parece que essa dificuldade foi criada e está sendo mantida por ações endógenas. Sendo uma força interna que persiste, o prejuízo menor vai ser permanecer no governo e jogar tudo na candidatura de Luiz Fernando e garantir a maioria da bancada federal.

A oposição tem que se preocupar é em fazer campanha e saber explorar o cansaço do eleitor com o continuísmo. Roseana permanecendo no governo... a oposição tem que saber encarar o peso total da máquina administrativa dos Leões. Ou a oposição faz o povo pirar nessa ideia do basta ou não vai levar essa.

 Não existe soma zero ainda para o grupo da governadora. Vejamos: ela não sai candidata ao senado, a “oposição” ganha a vaga para senador, Luiz Fernando ganha o governo e eles conseguem maioria na bancada federal, estarão mais do que no lucro. Ela não sai candidata ao senado, a oposição ganha a vaga de senador, a oposição ganha o governo, mas se a maioria da bancada federal ficar com o grupo dela e o candidato deles ao governo for muito bem votado em São Luís, vai perda média, dependendo da atuação dos vencedores. Pois o grupo da governadora vai para a oposição dobrada: estadual/municipal e certamente serão os principais adversários da situação na disputa pela prefeitura de São Luís. Podem ocupar pela primeira vez a prefeitura pela via direta. Basta ter continuidade esse desgaste de Holandinha e tropeços do novo ocupante dos Leões logo no primeiro ano de governo (como os que ocorreram no governo da Libertação). Muito improvável o grupo da governadora perder em todos os níveis. Para o Senado, sem a governadora disputando, eles entram praticamente  com 50% de chances, já que a oposição firmou um candidato. Para a Câmara Federal dificilmente não conseguirão obter a maioria das vagas, com os velhos chapões 1 e 2. O risco real é perder os Leões.

O grupo tem o peso do desgaste, mas ainda respira. A oposição é que não pode perder, em mais de um nível de disputa, principalmente do Executivo. Pois aí a possibilidade de mais 12 anos de continuísmo fica bem real, principalmente se o candidato da oposição, melhor colocado nas pesquisas, perder e perder dentro de São Luís...



terça-feira, abril 01, 2014

 SEM PROPOSTAS - ELEIÇÃO PRESIDENCIAL 2022 O que tem movido os eleitores brasileiro diante das candidaturas à presidência da República este ...