terça-feira, março 05, 2013

Sucessão no Maranhão: Barulho cego


Quais as chances de haver alternância política em 2014 no Maranhão? Achei essa pergunta um tanto quanto ampla e fiz outras perguntas: a alternância a quê? Em qual nível de poder político? Por que em 2014? 

A alternância pode ser efetivada de diversas maneiras e em níveis diferenciados. Se essa alternância for no sentido de troca de comando, acredito que é possível. 

No Maranhão há uma ditadura do pensamento, onde uma interpretação simplista da realidade impera há décadas. Nela tudo tem uma única causa e só um elemento motor. Isso também é uma ideologia por onde inúmeros sujeitos do campo político justificam suas atitudes e tentam esconder seus erros, falhas e incompetências. 

Uma alternância de controle não necessariamente implica em mudança da forma de exercício de poder, particularmente no que tange os valores e padrões de concertos. Não só isso, não há grupos isolados e agrupamentos políticos sem nenhum ponto de convergência nos três níveis: municipal, estadual e nacional. 

Além disso, é de se notar uma porosidade imensa nos diversos grupos que compõem a classe política maranhense, principalmente por força das pressões do familismo e a parentela. Outros arquétipos  - tomados aqui  nas acepções dadas por M. Debrun e Oliveira Viana - comuns à cultura política brasileira também propiciam essa porosidade e a permissividade, a saber: o privatismo, o patrimonialismo e a clientela. Esses elementos e  as exigências conjunturais da dinâmica do jogo eleitoral inviabilizam uma alternância sem herança, sem contágio, sem adesões casuísticas. Dentre esses arquétipos o mandonismo tem fortíssimo vigor e tipifica nossa cultura política. Tomar o poder é uma coisa, mudar a cultura política é outra coisa (e bem mais difícil). 

Parafraseando Ferreira Gullar: Mandões somos todos em suma! Uns, por muitas coisas, outros por coisa nenhuma! A superação do mandonismo no Maranhão está enquanto possibilidade histórica e não como um determinismo ou missão de um eleito. O governo arquipélago do Sr. Jackson serve tanto para ilustrar a porosidade/permissividade quando a condição de possibilidade histórica acima referida. 

O Maranhão não é exceção em termos de cultura política de tipo mandonista, autoritária, mas é o local onde isso é sentido de maneira mais aguda. Porque aqui se efetivou uma hegemonia oligárquica muito duradoura e acentuadamente forte em relação às demais oligarquias espalhadas pelos diversos municípios do estado. Famílias exercendo o poder político de forma oligárquica é uma constante em todo o estado do Maranhão. O Maranhão é um conglomerado de oligarquias, mas uma oligarquia  conseguiu tomar com vantagem alargada a hegemonia  estadual, ultrapassando o  localismo das demais e ganhando expressão nacional. 

Essa força avantajada de uma oligarquia sobre as demais fez, nas últimas cinco décadas, inexistir rotação de elites e reduzir os momentos de ajuste intra-oligárquico. A alteração de comando possível em 2014 tem mais chance de efetivação como ajuste intra-elite, bastante matizada por uma forma de transição por conciliação do que por uma forma de banimento e ruptura total com o grupo político dominante. Mais improvável é ser fruto de uma superação do tipo de  cultura política existe. Superar esse tipo cultura política requer muita vontade, esforço e tempo, mas balizados pela probabilidade. Só os tempos sociais e históricos poderão confirma o êxito de tal empreitada. Certeza nenhuma! 

Qualquer pessoa capaz de reter um pouco de suas pré-noções, de seus preconceitos e de seu passionalismo vai ver que existem várias oligarquias menores no Maranhão e que os males do Maranhão não  são frutos de um homem só e de um grupo só. Há por aqui uma cumplicidade em rede, em todos os níveis e em todas as instituições. Não só isso, também está na base. Só não ver quem não quer. Basta circular pelas diversas regiões do estado e perceber que não falta só a vontade do governante. Superar essa ideologia monocausal na forma de verdade, tem que fazer parte do esforço de criar um novo momento, uma nova etapa política para o Maranhão. Essa "verdade" virou um barulho, mas é de pura cegueira!  

Quem tem realmente compromisso com outros valores vai sempre se esforçar para ir depurando os processos, mesmo com tanta porosidade e diante da necessidade de certas conciliações. 

Por isso, quem desejar assumir o controle político do governo estadual é bom não criar expectativas demais. Um pouco de realismo vai ser bastante útil a curto e a médio prazo. 

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