O Maranhão é o estado federativo recordista em índices negativos de desenvolvimento e qualidade de vida, mas sobra no que tange as astúcias na disputa do poder político. Tornou-se, com todos os méritos, o estado pioneiro na transição do formato de mando cru, incorporado pelos Dons e pelos coronéis, para o mandonismo pós-moderno, esse, pautado e articulado na institucionalidade político-jurídico. Nada fora lei!
Isto é, o próprio mandonismo e patrimonialismo encarnados no corpo da própria lei. Uma lei a serviço de poucos, porque não consegue se universalizar, exceto como cota ilustrativa, a fim de barganhar algum grau de legitimidade.
Tudo é soldado, anexado ou expelido em conformidade com os interesses dos que compões a teia que alimenta e sustenta o mandonismo. Na verdade, uma rede de composição complexa, mas muito prática e objetiva. Sendo capaz de multiplicar criaturas "singulares" para ilustrar uma pluralidade fictícia e de dissenso.
No fundo, são as faces de uma mesma moeda: o mandonismo "político". Moeda feita de vidro transparente, onde a face e a coroa acabam soprepostas, independente do lado de onde é vista. De qualquer ponto de vista a imagem da face estará ligada à coroa. É a mesmice ao quadrado.
Nenhuma mudança será possível no Maranhão de forma mágica e/ou pautada em ações isoladas, como se a história fosse produzida por atos de um homem só. Na amplidão da totalidade... existem diversas variáveis que necessitam ser pensadas e levadas em consideração.
O Maranhão ainda é composto por uma população muito pobre e com baixo acesso à informação e formação formal. Também é um lugar onde cinema, teatro, bibliotecas são coisas raras e só para alguns.
Por outro lado, o controle brutal dos meios de comunicação de massa, restrita a poucos proprietários, faz com que os diversos veículos de comunicação só existam em poucos municípios. Isso tem impedido que a grande maioria da população conheça opiniões e versões diferenciadas sobre os assuntos públicos. É quase inexistente a participação direta da opinião popular nesses meios. Toda a programação vive sob o julgo da censura patronal.
Soma-se a esses fatores a existência pouco numerosa de classes médias intelectualizadas. Além disso, elas não conseguem estabelecer um diálogo acerca das opções políticas sobre o controle do poder. Falta também a diversos segmentos sociais médios recursos para participarem mais livremente do processo eleitoral. Essa situação fica agravada pela inexistência de mobilizações sociais visando garantir a existência efetiva de participação com poder (voto livre e que vale), enfrentando e minimizando a vulnerabilidade das eleições diante dos arrastões da corrupção eleitoral.
Destacamos também a falta de uma economia mais dinâmica e capaz de proporcionar sustentabilidade financeira para os cidadãos, livrando-os eleitoralmente do favor "financeiro" e da condição de clientela eleitoral. Tirando os órgãos estatais, em cada município, da condição de maiores ou únicos empregadores. Minimizando a servidão eleitoral imposta pelos cargos de confiança, as contratações eleitoreiras etc.
Será difícil um projeto de alternância e renovação política vingar sem que os acontecimentos "políticos" do Maranhão estejam sincronizados e integrados aos interesses das diversas forças que atuam no plano nacional. Faz-se necessário tirar o Maranhão da condição de "uma questão menor" ou "coisa local".
Enfim, qualquer mudança política para ter êxito aqui necessita de uma convergência de fatores que estabeleça um processo de alteração de atitudes, mentalidades e qualidade de vida. Infelizmente tudo que aí está é reprodução das velhas fórmulas, oportunismo barato e adesões de mera conveniência pessoal.
Mais fluidas e desfiguradas não podiam estar nossas faces. Moral da história: "Nada é tão ruim que não possa piorar" !
(publicado originalmente em 22/04/2009 - ethospolitico.zip.net)