sexta-feira, dezembro 02, 2016

A Chapecoense, tragédia e situação dos clubes de futebol


A tragédia que vitimou os atletas e equipe técnica da Chapecoense e demais passageiros comoveu todo mundo. Aquelas coisas do absurdo: faltar combustível perto do local de pouso. Lamentável. Mas há atrás dessa tragédia um monte de acontecimentos anteriores. Falhas antecedentes.   
Quanto às questões técnicas de voo só os peritos podem detalhar e concluir sobre as razões. Porém, pelo tipo de voo e empresa envolvida podemos problematizar sobre a opção do clube e as reais condições do futebol brasileiro. 
Quais as reais condições dos clubes de futebol brasileiro? Quando vamos ter um CBF e clubes mais transparentes? Quando vamos ter campeonatos menos predatórios e melhor para clubes e torcedores? 
As condições de muitos times são ruins do ponto de vista financeiro e ninguém sabe ao certo se por má gestão ou por coisas absurdas e ilicitudes. O certo é que parte desses arruinados financeiramente estão assim por força dos campeonatos e todo o esquema que envolve direitos de publicidade, direito de transmissão etc. Para muitos a conta não fecha nunca. Eu acredito que a situação tende a se agravar e boa parte dos nossos times mais tradicionais de futebol desapareçam por três motivos: o formato do campeonato, gestões desastrosas e interesses empresariais. 
O modelo de campeonato adotado para o Brasil é irracional e atenta contra a existência da maioria dos times, particularmente os que estão fora do eixo São Paulo - Rio. Isso não tem acontecido sem intencionalidade e sem interesses ocultos por trás disso. Esse modelo de ponto corrido com rebaixamento de 4 equipes todo ano é destrutivo e dente a impedir o crescimento dos clubes fora do eixo São Paulo-Rio. 
A organização do futebol brasileiro precisa levar em consideração as dimensões e características do Brasil. É um absurdo querer fazer um campeonato igualmente e com o mesmo número de clubes de países europeus menores em dimensões que o Maranhão , a Bahia, Pará etc., e igual ou menores em população do que São Paulo, Rio e Minas Gerais.. só para exemplificar. A população brasileira é mais da metade de toda a população da Europa ocidental (com 19 países), o que já é mais do que motivo para pensarmos as especifidades em que precisam ser contempladas na organização do nosso futebol. Bom lembrar as desigualdades existentes entre as regiões do Brasil.
Como praças como a Bahia, Ceará, Pará podem ficar sem representantes no Campeonato Brasileiro série A? A resposta começa assim: Nos anos de 2013 e 2014 quando o Cruzeiro foi bi-campeão brasileiro a imprensa esportiva (cheia de imbecis como comentaristas) toda basicamente sediada no Rio e São Paulo começaram exaustivamente a falar em reformulação do campeonato com pontos corridos, e todos defendendo a volta do mata-mata. Bem, 2015 Corinthians foi campeão e ninguém falou mais em reformular o campeonato e acabar com os pontos corridos e  a mesma coisa ocorreu esse ano com o Palmeiras campeão. É isso. Só serve se favorecer aos times grandes do Rio e São Paulo. O monopólio da transmissão faz de uma emissora ser torcedora e opte por fazer campanha em prol desses clubes. 
Lógico que isso tem todo um jogo de interesses que envolve patrocinadores e a prórpia CBF (entidade que precisa ganhar transparência). O ponto corrido é o modelo que faz justiça ao time mais regular no campeonato. O título fica justamente com o time que foi melhor durante todo o campeonato, Justo. Nada contra isso. Pode ser melhorado? Pode. O problema maior hoje é o sistema de rebaixamento que está efetivamente destruindo clubes com grande tradição no futebol brasileiro (a Portuguesa é um exemplo). O futebol no Brasil precisa equacionar melhor isso para que não só Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande Sul possam ter grandes times. Rebaixamento todo ano é mortal contra 95% dos times que disputam a série A e B. Que retorno um time médio ou pequeno pode ter retorno do seu investimento passando só um ano em dessas séries? Não há como. Quem vai investir diante de tamanho risco? O mais justo, plausível e racional é adotarmos o que já é feito na Argentina, cujo rebaixamento é fruto de uma média do desempenho correspondente a três anos. Isso sim, privilegiaria realmente o melhor desempenho e puniria os piores desempenhos e tornam os investimentos menos arriscados. 
Outras medidas podem ser tomadas para manter a alta competitividade do campeonato mudando o sistema de pontuação. Empate zero ponto, derrota menos um ponto, vitória três pontos. E premiações para os cinco primeiros colocados, classificação para outros eventos até o ´decimo colocado. Essas possibilidades de ganhos diversos certamente aumentará o nível de empenho em todas as rodadas e possibilitará também que mais clubes brasileiros possam crescer e serem mais competitivos. 
Agora é preciso termos dirigentes mais honestos, responsáveis e competentes. É preciso exigir mais transparência na gestão dos clubes brasileiros. 
Só estranho os clubes do Nordeste, de parte do Sul, do Centro Oeste e do Norte não se mobilizarem contra o rebaixamento no formato anual. 
Meus pêsames aos familiares de todas as vítimas desse voo trágico em que estava o time Chapecoense. Minhas saudações à brava torcida da Chapa! Vamos ver o que a rica CBF vai fazer. 

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