Tempos em tempos aparecem uns especialistas do oportunismo que, apregoando um novo saber, hipnotizam legiões de pessoas ávidas por soluções, salvações, novidades etc.
Com o ciberespaço, mundo virtual da internet, não foi diferente. Hoje há uma multiplicação acelerada de especialistas sobre “coisas” da Internet, do espaço virtual.
O certo é que bem pouco dessa enxurrada de “novas especializações” do “conhecimento” pode ser classificado de trabalho sério, cujo produto seja fruto de estudos e investigações minimamente sistematizadas.
Por outro lado, os achistas, os inventores do já inventado etc. ganham espaço a cada dia e barganham multidões de seguidores. Como todo espaço edificado a partir da intervenção de múltiplas ações de indivíduos socializados e permeado por intersubjetividades está sujeito a manipulações (ações intencionais, conscientemente visando determinado fim) diversas.
A mais recente jogada relacionada ao espaço virtual é a etiqueta na internet. Surgiu um monte de especialistas com um museu de novidades sobre as maneiras "corretas" de usar a internet. Apesar de serem apresentadas como de "utilidade pública" e, como sempre, carregadas de boas intenções, é preciso questionar seus fins.
O conteúdo de tal etiqueta serve, como o conteúdo de qualquer código que envolva a conduta humana, ao controle social. É certo que o controle faz parte de todas as expressões de vida coletiva, mas essa etiqueta da internet está alinhada ao controle assentado no autoritarismo e não na autoridade (poder consentido). O que nos leva a suspeitar que suas raízes são de tipo totalitário.
Há indícios que remetem ao desejo totalitarista de sincronizar a vida, mesmo no âmbito privado, aos interesses dos poderosos, dos chefões, dos senhores proprietários e acionistas das grandes corporações. Isto é, querem que a participação dos indivíduos na internet sirva para diluir a separação entre vida privada e a relação empregatícia, não respeitando o limite da condição de empregado, funcionário, servidor etc. diante do direito cidadania. Trata-se de uma estratégia de destituir o indivíduo do seu direito de resguardo de vida privada e íntima. Na qual o patrão e a empresa não podem e não devem querem conduzir.
Há indícios que remetem ao desejo totalitarista de sincronizar a vida, mesmo no âmbito privado, aos interesses dos poderosos, dos chefões, dos senhores proprietários e acionistas das grandes corporações. Isto é, querem que a participação dos indivíduos na internet sirva para diluir a separação entre vida privada e a relação empregatícia, não respeitando o limite da condição de empregado, funcionário, servidor etc. diante do direito cidadania. Trata-se de uma estratégia de destituir o indivíduo do seu direito de resguardo de vida privada e íntima. Na qual o patrão e a empresa não podem e não devem querem conduzir.
Essa etiqueta da internet (ou netiqueta), em grande medida, está a serviço desse propósito reacionário e contrário a expansão da liberdade, da livre manifestação cidadã. Qual sua prioridade imediata? É defender os interesses corporativos empresariais, mas de um forma dissimulada de promover a ética na internet.
Pois o objetivo (latente) desse suposto refinamento é estender sobre a vida cidadã os regulamentos corporativos, as normas e regras das organizações empresariais de formal integral e total.
A netiqueta não é uma inovação, mas uma maquilagem das forças contrárias ao potencial libertário da inventividade humana. É o velho poder dos reacionários conspirando contra a liberdade. Nesse particular, contra a pluralidade das livres manifestações produzidas na internet.
Os lobbies da etiqueta internáutica querem a todo custo defender as marcas, a imagem, a lucratividade das grandes empresas e, de quebra, manter o empregado de sob seu total controle, fazendo com que suas ações fiquem integralmente submetidas aos interesses da empresa.
Desta maneira, o empregado, mesmo fora do serviço, não pode escrever e nem postar aquilo que a empresa julgar comprometedor para sua imagem e não condizente ao seu código interno de conduta. Isso é um ataque frontal à Liberdade, tanto na perspectiva do liberalismo político como na perspectiva democrática.
Trata-se de totalizar o controle e retirar do cidadão sua liberdade pública de contestação. Qual direito tem uma empresa de monitorar o que um funcionário, fora do horário de trabalho, diz nas redes sociais e grupos virtuais? Onde fica o gozo de sua condição de indivíduo livre e de cidadão?
Isso não fere a liberdade do cidadão de se expressar publicamente? Cadê o direito do cidadão de manifestar livremente suas opiniões e convicções?
Essa regra de etiqueta - por mais bem intencionada que possa ser - já nasceu lotando o inferno. Ou dizendo diferente, já trouxe consigo o inferno inimigo da liberdade: o totalitarismo!