Duas décadas depois
Um dia ouvi uma senhora dizer que " a meditação interrompe o fluxo dos pensamentos e você não é perturbado pelos pensamentos". Posso até ter escutado errado, mas isso foi o que captei de forma nítida e audível.
Como interromper a invasão de pensamentos? Como não dar curso a esse rio de pensamentos que toma nossa mente a cada instante? Achei aquilo tão louco, tão incomum e sem sentido. Afinal para que serviria isso? "Limpara mente". "Entrar na mente de forma profunda". Mais complicado ainda. Então ali apareceu uma ideia de mente que se colocava como um universo mental cheio de possibilidades inclusive essa. Pois bem, eu não acreditei na possibilidade mesmo de tal coisa para mim (eu conseguir).
Tempos depois pensei aquilo de uma forma diferente, não só foco na possibilidades da mente mas as possibilidades da mente como uma forma também de percepção do existir. Isto é, o que podemos ser em termos do compreendemos nós mesmos sobre o que somos, a sensação própria do existir, seu significado e a própria percepção de realidade que temos. Isso está relacionado intimamente o temos para construir representações e codificar sensações e emoções diante das múltiplas experiências de vida (contatos, relações, impactos, emoções, vivências etc.) e do uso da imaginação, imagens mentais. Com correlatos sentidos, significações, objetivações. O que você percebe de si e o mundo que existe para si.
Penso que nada disso não ocorre em vazio, sem interferências e pressões de um contexto envolvente: material-físico, social (em todos os seus desdobramentos: político, econômico, artístico, religioso, societal, psico-social etc.) Isso pode até ser resumido como o campo de dinâmica competitiva e conflituosa. Olhando assim vejo uma tensão, ou melhor, um desafio frente a possibilidade ser - continuidade - situações ou estados diferentes. Se esse bloqueio dos pensamentos produz um resultado de instante ao indivíduo, como segue suas sensações posteriormente diante do ambiente que é diverso? Se consegue a continuação do resultado de tal estado da mente em meditação, como existe frente ao mundo diferenciado e conflitivo? Como isso não ser um benefício preso a individualidade? Todos indo na mesma direção e estado?
Qualquer homogeneidade na história tem implicações sobre a diferenciação. Além disso, como aferir igualdade em uma sensação subjetiva que não se expressa na sua efetivação? Pelo resultado, observando as formas de relações posteriormente produzidas? Mas como dissipar qualquer dúvida de que o fator gerador foi o mesmo e em níveis próximos? Isso não é talvez a questão. Não é tanto a prova objetiva. Mas o saber do possível de uma forma de ser, o que podemos ser frente ao mundo, a determinados contextos.
(depois continuo)