domingo, abril 29, 2012

sexta-feira, abril 27, 2012

Bater em morto é fácil, mas é prova de covardia


Lamentável ver como algumas pessoas estão totalmente encarceradas no passionalismo. Tanto para elogiar como para desqualificar. De repente a discussão sobre o assassinato de Décio descambou para a algo análogo ao processo de beatificação ou canonização. Uns querendo provar milagres que possam garantir a santidade, outros querendo provar os pecados para impedir a canonização. Ninguém quer mais saber da realidade e suas possibilidades e impossibilidades.

O que Décio fazia é muito distante do que a grande imprensa faz no Brasil inteiro? Alguém já se perguntou como só uma emissora ou só um jornal pode noticiar material de escuta, além de apresentar tantas outras coisas com exclusividade? É tudo trabalho ético e sem parcerias? Alguém nunca viu em blogues de jornalistas nacionalmente conhecidos ataques sistemáticos e direcionados a uma determinada pessoa, partido político e entidade? Essa fórmula não é uma exclusividade do falecido jornalista. Fórmula também presente nas rádios e televisões. Se esse não é o jornalismo ideal ou desejado, trata-se de uma outra questão.


Choca a covardia praticada contra Décio, no pós-morte . Agora, sem que a parte possa se defender, uns perfeitos seres de boa índole aparecem para desqualificar o jornalista, em puro exercício de mágoa. O que Décio escreveu e na forma como escreveu, sem dúvida, gerou ressentimentos... Alguns ataques eram de antipatias pessoais, mas comuns à vida cotidiana e genericamente praticados por qualquer sujeito social... É bom lembrar que alguns comentários publicados no blogue do Décio eram direcionados contra o próprio Décio e de forma desqualificadora, outros reforçavam o tom do que ele dizia. Era só ele?


Quem não tem algum desafeto? Ora, não se trata de querer privar a mágoa de ninguém. Cada um sabe o tamanho de sua dor ou onde o sapato aperta. Mas há o que se separar. A questão é que o blogue, enquanto página pessoal, não era estritamente um jornal ou página só de notícias e do “puro” exercício de jornalismo. Outros blogues de jornalistas maranhenses também não estão restritos ao que seria propriamente jornalismo. Por lá Décio também expressava sua paixões de torcedor, de seu vínculo político etc. O que temos que tratar agora? É do julgamento ético/moral do jornalismo que ele praticava? Exato nesse momento, e sem o direito ao contraditório? Ou devemos tratar de um assassinato cruel e da expansão escancarada da violência?

Não se trata só da morte de Décio, pois podia ser qualquer um outro cidadão, como vem ocorrendo sistematicamente junto aos quilombolas, líderes comunitários etc., e que merecem igualmente receber nossa solidariedade... trata-se, no entanto, de um estado de insegurança e de uma intensificação da violência promovida pela “indústria do assassinato”. Coisas intoleráveis e que ferem uma das condições de vida digna, independentemente de gostar ou não da maneira como Décio noticiava os fatos ou supostos fatos.


Não há dúvidas que a morte de Décio ganhou repercussão que os outros casos similares não ganharam. Mas por ser um jornalista importante e próximo do grupo político dominante invalida nossa preocupação com a violência e o terror desencadeado pela “empresa da morte”? Repudiar a violência e o terror implantado pela pistolagem é ou não é uma causa digna dos vivos?

O que está em questão são as nossas vidas, não é um julgamento para beatificação ou não do morto. A apuração e punição dos culpados é, antes de tudo, uma justiça para nós, para reafirmamos valores que devem balizar a sociedade que desejamos viver: de Paz e Justiça.

quinta-feira, abril 26, 2012

A REALIDADE E O JABOTI SOBRE UMA ÁRVORE


Jaboti (ou jabuti) não sobe em árvore. Jaboti sobre uma árvore é resultado de enchente ou é obra da mão de gente. Ultimante tentam inventar rapel para jaboti. 

Não existe álibi perfeito. Ou é álibi ou não é álibi. Não é questão de perfeição, mas de existência. 

Para quem quer se livrar de um peso tem que saber aproveitar o contexto favorável para produzir o álibi. Para jaboti grande é preciso combinar mão e enchente. 

Vivemos uma época onde estão convencionando o estar na hora certa, no lugar certo, para desgraça certa.




terça-feira, abril 24, 2012

Assassinato de Décio e o estado de Barbárie



Não devemos nos render à lógica instrumental da violência, nem aos seus "engenheiros".


A covardia da empresa do assassinato é uma afronta às formas mínimas de civilidade, de solidariedade, de humanidade, de cristandade... É um insulto ao Estado de Direito e a negação da comunidade política enquanto processadora pacífica de conflitos.


Fere a democracia na sua forma livre de expressão. Trata-se do terror contra os profissionais do jornalismo, concordemos ou não com as ideias de alguns, mas ainda são os profissionais que melhor exercem a vigilância civil no que tange o respeito à coisa pública e ao combate à impunidade


O covarde criminoso e seu contratante se realizaram em quê? A humanidade não cessará diante da brutalidade de vocês, tão pouco a vida! A vida e a humanidade são maiores, são bens maiores! Mas vocês, assassinos, não valem nada!


Décio foi alvejado várias vezes no interior de um bar situado na Avenida Litorânea, em São Luís, por volta das 23:30 do dia 23 de abril. 

sábado, abril 21, 2012

SARNEY E OS TEÓRICOS DO ÓBITO



Há dez anos ouço que “quando Sarney morrer acaba tudo”. O que acaba? O que é esse tudo? É um discurso forte e soa como verdade em diversos círculos tomados pela passionalidade e sentimentos afins. É nitidamente uma fala naturalizada, ideologizada, mas também ingênua.

Sarney enquanto indivíduo/sujeito deixou, há tempos, de ser observado pelas óticas: crítica, analítica, reflexiva, empírica, social, histórica e racional. O sujeito foi deixado em um canto e o mito passou a reinar. A força do mito é tamanha que os seus opositores, inimigos etc. falam do mito como se estivessem falando do sujeito. O pior de tudo isso é que nem se dão conta do mito, o que reforça ainda mais a ilusão de estarem tratando da realidade empírica do indivíduo/sujeito histórico Sarney.

O mito Sarney não está sob o controle do José Sarney. O mito circula, ganha forma e se traveste por inúmeras narrativas, formas de adoração ou repulsa. Mito-herói, mito-inteligência, mito-astúcia, mito-feitiçaria, mito-artimanha, mito-gênio, mito-demônio etc. O mito tem sido, mais que o José Sarney, “analisado”, criticado e combatido. Pergunta: um mito pode ser vencido?

A morte física do senador não desarmará a força do mito, tendo em vista que seus principais detratores, aqueles que recorrem aos xingamentos, insultos e grosserias para atestar sua pureza “política”, sua idoneidade moral, continuarão alimentando o mito. Como? Hiper-dimensionando o sujeito para produzir o supra-humano do mito. 

O Maranhão produziu um tipo singular de oposição: a oposição-fã. Para essa oposição Sarney é tudo e o que ele faz (suposto ou real) produz um efeito festivo nela própria. Quando o José Sarney falecer, muitos do anti-sarneísmo não terão como prever o tempo. Pois até as previsões meteorológicas deles dependem de Sarney. Creem eles. 

O mito Sarney ordena a vida da maioria dessas pessoas da oposição, ele também serve para racionalizar, justificar e legitimar a incompetência e a derrota no embate com José Sarney. Quando o senador José Sarney falecer a oposição-fã ficará órfã e buscará, muito provavelmente, reordenar e justificar sua existência agarrada ao discurso da herança deixa pelo sarneísmo. É muito provável que a ideologia da herança totalize as falas em um futuro próximo. Como eles poderão ser alguma coisa sem Sarney? Difícil. A salvação vai ser se agarrar ao discurso da herança maldita

Por outro lado, esse universo de detratores não é composto só por desavisados, ignorantes e “inocentes-úteis”, não mesmo. Existem os espertos, que se beneficiam desse embate nominado de anti-Sarney. Ficam agindo de forma planejada e calculada para manter o mercado da oposição a Sarney vivo e em alta. Isso rende e é lucrativo para eles. Mas só os investidores que monopolizam essas ações têm ganho real. São os expertos mega-especuladores do mercado anti-sarneísta. Vivem disso, e só. O que é o anti além da recusa ou da simples negação? Eis o perigo. Pois a face da oposição dormita na penumbra, ninguém ver (igualmente à cabeça de bacalhau). Preocupa não só seu corpo heterogêneo, mas as formas de ligação e as argamassas arranjadas para os unir. 

Não queremos criar um excludente de responsabilidade para José Sarney, enquanto homem de negócio da política, mas alertar para o perigo de se apostar também em uma oposição em forma de mito. Vide o “governo” da “libertação” e vergonhosa “oposição” de viés castelista.  

O anti faz parte do mito Sarney. Para os dialéticos o anti equivaleria a um dos elementos da unidade dos contrários. Só que não participamos da ideia de dialética positiva, onde a superação é sempre um salto de qualidade, o próximo momento pode ou não acontecer e o nível de qualidade é uma incógnita. 

O que dizem os teóricos do óbito? Dizem: “quando o velho morrer isso tudo acaba”. Ora, assim o sarneísmo fica restrito a José Sarney. É uma verdade forjada sobre o que o mito super-dimensiona, não sobre o que o José Sarney faz. O ser onipotente e capaz de realizar tudo. Isso é qualquer coisa, menos um a visão realista. Se for sonho de esperança, já começa fadado a se transformar em pesadelo. Isso só pode ser uma ideologia consoladora para acalentar o fracasso de não ter vencido o oponente pelo voto. Auto-consolo. 

José Sarney reúne inúmeros fracassos e alguns méritos. No entanto, dentre os feitos atribuídos a Sarney (mito), destaca-se a longevidade no poder, mas isso não é fruto exclusivo do brilhantismo de José Sarney, também é resultado direto da debilidade das oposições que foram aparecendo ao longo desses últimos 50 anos. A morte de José Sarney vai fazer aparecer instantaneamente políticos mais comprometidos com coisa pública,  justiça social etc.? Como? O mundo da política as coisas não se efetivam na forma de magia. 

José Sarney nunca enfrentou sistematicamente uma oposição em bloco, continuamente coesa. O que sempre enfrentou foram ego-feridos e oposições difusas. Os que estiveram à frente ou em situação de destaque nessas oposições foram, em sua maioria, egos contrariados em suas vaidades, mas não representantes de um projeto político diferenciado.

Os sujeitos que historicamente poderiam ter constituído uma Oposição Política, pautada em princípios democráticos, republicanos e com uma visão de mundo diferenciada, infelizmente nunca chegaram a ganharam espaço suficiente, nunca estiveram em posição mais destaca, como figura centrais. Muitos foram eliminados pelos próprios "pares" da oposição. Grandes nomes, com boa reputação empreenderam, na maior parte do tempo, esforços isolados e com baixo rendimento. O jogo interno da oposição ou das oposições no Maranhão ainda é de tipo soma zero.

Ao mito da onipotência precisa ser contraposto o seguinte fato: a oposição nunca teve uma verdadeira unidade. O que foi se efetivando com o passar dos anos foi a manifestação de inúmeras posições contrárias ao Sarney, mas pequenas. Agindo por motivações altamente diferenciadas e divergentes, na maioria do tempo, entre si. Os resultados dessas formas de atuações foram fracos e sem grande alcance. Soma-se a esse fato os sucessivos atos de incompetência, personalismo e vaidade, que reforçaram o caráter fragmentário dessas oposições. Não esqueçamos que todos os líderes dessa oposição, salvo honrosas exceções, acabaram passando “pela mão de Sarney”. Isto é, em algum momento da história acabaram se aliando a José Sarney. Essa lista dos que acabaram se rendendo ou se encantando é grande, tem tanto gente do alto-“clero” como do baixo-“clero” das oposições.

Mérito, não mito, é o fato de ser o político que mais tempo passou no topo do poder nacional durante toda a história republicana. Sarney foi Presidente da República e a maior parte do tempo, desde a abertura política, ocupou postos na linha da sucessão presidencial. Tendo como complemento o fato de ter se colocado à frente de todos os mandões do Brasil, aproveitando-se da sinergia existente entre eles. Soube superar a vitória de Cafeteira ao governo do Maranhão, o fim da Ditadura Militar, os escândalos: da Lunus, dos atos secretos e do processo contra Fernando Sarney, também soube reagir à derrota eleitoral para Jackson/José Reinaldo. Sejam quais foram os fundamentos dessa sobrevivência, mas sobreviveu. Em termos de poder é mérito. Estamos fazendo um exercício de constatação e não juízo ou julgamento moral. Portanto, não há como negar esses feitos. 

Enquanto Lula é o melhor desempenho no quesito Chegada e Conquista do posto de Poder, Sarney é a melhor performance de Permanência no Poder. A chegada e a conquista do poder por José Sarney contou com mãos fortes à frente: Vitorino Freire, em uma espécie de preliminar e depois, de forma mais decisiva, Marechal Castelo Branco. Lula teve mais trabalho e enfrentou mais obstáculos para poder chegar. Lula teve o mérito de perceber, junto com a oportunidade, a distância que o posto do Poder estava dele e suas condições. Era muito longe, mas habilmente pegou carona nas costas da intelectualidade urbana dita de esquerda. Viu que aquela gente tinha a cabeça feita com o messianismo proletário, logo se investiu da condição de proletário libertador idealizados pelos homens letrados. Foi paciente para aguentar a demora da viagem e o desconforto do animal que montava. Quando chegou mais perto, do posto do Poder, desmontou e pragmaticamente se valeu de todos os veículos que davam acesso ao posto máximo. Logo foi ter um conversa com quem mais entendia de permanecer no poder: José Sarney, dessa parceria e irmandade teve início o sarnepetismo.

José Sarney tem como marca real negativa, dentre tantas, como profissional da política, a situação educacional do Maranhão. Foi onde ele mais falhou. Basta ver os índices de crescimento econômico, posição do PIB do estado e comparar à relação entre renda per capita e nível educacional da população. Se alguém tiver dados que provem o contrário, favor apresentar. A situação é gritante, particularmente por ter implicações conjuntas que envolvem educação, formação, escolaridade e capacitação. O mito entorpece as oposições e aprisiona seus discursos na dimensão da miséria material, como se a miséria pudesse existir sozinha e ser reproduzida isoladamente.

Voltando aos teóricos do óbito – em termos de ingenuidade - acreditam que essa teia enorme de interesses e cumplicidades, que dá existência ao sarneísmo, vai se auto-extinguir instantaneamente. Como se os sarneístas não soubessem que, permanecendo unidos, mesmo sem a presença física de José Sarney, continuarão fortes e influentes. É o grupo que mais tempo está articulado internamente e com maior experiência de exercício de poder.  Reúne a maioria dos grandes ricos. Vão lutar até o último recurso pela manutenção dos espaços ocupados ao longo dessas últimas quatro décadas. Será que esses opositores acreditam que a morte de José Sarney vai ser a “Queda da Bastilha”?

A teoria do óbito - enquanto pesadelo – os partidários dessa tese não percebem que a morte de José Sarney não é garantia de produção automática de políticos eticamente e moralmente melhores. Os políticos que temos hoje não são frutos de José Sarney, mas da nossa própria sociedade. Basta olhar algumas hordas que existem no interior do Poder Legislativo: Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais. José Sarney tem o mérito de manter sob o cabresto inúmeros tipos venais e facínoras que habitam nesses espaços. A que preço e em benefício de quem são questões à parte.

Quem já viu o futuro? Quem pode ter a certeza que a morte de um só homem possibilitará a mudança para melhor de uma sociedade inteira?   A morte dele poderá ser sucedida de um fortalecimento do poder dessa gente venal, produzindo um enorme pesadelo para todos. É uma possibilidade. Não devemos ser otimistas descuidados.

Qualquer pretendente ao poder no estado do Maranhão tem que agir para manter essa laia de perversos nos parâmetros mínimos de civilidade. O Maranhão está diante de uma incógnita perturbadora e não de uma certeza tranquilizadora. Mesmo escondida na penumbra da “política”... é possível ouvir os uivos alucinados de uma alcateia faminta, que espreita sem pudores o nosso futuro...



sexta-feira, abril 13, 2012

CEGA, LOUCA, ILEGÍTIMA E ABSOLUTISTA


Foto: autor que não foi possível identificar


Descansa  em uma pedra a louca cega. Espada baixa, visão obstruída para democracia e republicanismo, ela ignora quem verdadeiramente detém o poder soberano: o povo. Eis uma tradução dessa bela escultura na porta do palácio do Supremo Tribunal Federal (STF). Entidade que ninguém mais sabe o seu papel no Aparelho de Poder do Estado. Longe de um sonho tripartite perfeito (estático), a questão posta aqui é sobre legitimidade, soberania popular e incerteza de legalidade. O perigo sobre Democracia, República e Direito.

Há tempos o STF tem enveredado por campos nebulosos, mas sob a integral cumplicidade dos outros poderes. O papel de vigilância constitucional debandou para o legislar AD HOC, sem rito legislativo democrático e sem o respeito a certeza do controle legal.

O Direito enquanto instrumento de controle, o que melhor oferece é a antecipação, em tese, de limites e de consequência para os comportamentos legislados. Isso produz o benefício da previsibilidade e, consequentemente, da segurança. O que se cria hoje com essa forma operativa desregrada e ilegítima de legislar do STF é a incerteza do Direito, que produz não só insegurança jurídica, mas também corrosão democrática.

Está se oferecendo ganhos legais aleatórios, que suprime a soberania popular e devido inquérito sobre o que quer o povo sobre o que é da sua vida cotidiana, dos seus valores. Sobre valores de uma sociedade, o maior advogado, o maior juiz e o maior formulador/reformulador é a própria sociedade, que opera através de inúmeros mecanismos de apreciação, filtragem, significação e criação, em uma dinâmica incessante de fazer e refazer dos grupos por onde os indivíduos ganham são dimensão socialmente humana. Os valores mudam, mas mudam quando os indivíduos percebem a exigência da mudança.

O que se produz hoje no STF, na prática, em um exercício de poder irrecorrível, antirrepublicano e antidemocrático. Essa casa deixou de ser fiscal da constitucional da legislação produzida e de sua aplicação para atuar como anuladora de ordem legal em vigor e gozando de legitimidade. A questão dos anencéfalos tipifica um julgamento sem equação da representação da outra parte: o povo. Principalmente por tratar de questão do interesse geral, coletivo e que pesa sobre inúmeras instituições sociais. Além de anular matéria balizada. Onde fica o direito da sociedade de recorrer contra o Estado ou de parte dessa própria sociedade? Quem, nesses casos, representa fielmente a aspiração da coletividade social? Quem e sob qual fundamentação é legítimo para reformular a legislação? O povo deve ser excluído do parecer final de questões como essa?

Vejo que o exercício atual do Supremo tem viés absolutista. Magistratura absolutista é um perigo em qualquer parte. O que está acontecendo é muito mais que fazer ou não aborto sobre um tipo específico de feto. A morte não paira só sobre um ser em formação, mas também sobre a vida coletiva pautada em democracia e soberania popular. Diz sobre a morte do Direito. Diz sobre a necessidade de se questionar sobre o monopólio do Direito pelo Estado, diz sobre a necessidade de libertar o Direito dos agentes estatais corrompidos e corruptores.

É urgente e necessária uma revisão constitucional redefinindo a competência do STF e particularmente do exercício da atividade de ministro dessa instituição. O Brasil tem consagrado uma mono-composição no STF. Prevalecendo o cabedal tecnicista, doutrinarista e de operador. Esse paradigma tem excluído do corpo de ministros do STF a maior pluralidade em termos de recursos epistemológicos, dimensão intelectual e formativa. É preciso adotar verdadeiramente o que fazem outros países, onde as cortes superiores não são habitadas só com bacharéis em Direito.

Poucos são os ministros que conseguem produzir uma reflexão, ou pensar o Direito de uma forma mais ampla e articulada com as demais dimensões da sociedade, do conhecimento e da moral. Estamos subordinados aos rompantes idiossincráticos de uma cultura (ou culto) bacharelesca instrumental.  A maioria não consegue ter um exercício reflexivo para além da história da prevalência de origem: se o ovo ou a galinha. O que prova que os intelectualmente anencéfalos sobrevivem muito bem.

É necessário implantar o exercício de ministro do STF com mandato por tempo determinado. Dois anos seriam de bom tamanho, além de não poder ser reconduzido imediatamente.
Porém, devemos nos perguntar: O que faz o Legislativo? Qual sua parte nesse problema? O Legislativo não faz. Essa entidade foi tomada por diversas vertentes do banditismo. Imperam hoje no Congresso as bandidagens (não são bancadas) do jogo ilegal (caça-níquel e bicho), da exploração da prostituição, da empreiteiras/construtoras, dos bancos, da saúde, dos transportes, das telecomunicações, da energia e do lixo. O Congresso foi mafializado e opera na forma corporativa e de lobbys. Balcão escancarado dos negócios privados escusos.  Infelizmente...

Dormita até hoje a tal da reforma política e o enriquecimento ilícito ainda não é um crime hediondo e sem direito a prescrever. Está na hora da sociedade civil acordar.

sábado, abril 07, 2012

PT SEM MEIOS TERMOS



Já é do conhecimento de todos e muito bem comprovada a Aliança entre o PT(partido dos trabalhadores) e José Sarney. No plano da direção nacional petista... esse concerto tem mais de uma década. Salvos os contorcionismos mirabolantes... Não há mais o que discutir sobre quem traiu quem. Sarney procurou Lula ou Lula procurou Sarney? Resposta está estampada aos quatro cantos. Vide as eleições de 2010, quando o então Presidente da República, Lula da Silva, veio ser cabo eleitoral ou garoto propaganda da candidata Roseana Sarney.


É fato líquido e certo: o PT que existe é aliado e governa em parceria com o senador José Sarney, que hoje é, sem dúvida alguma, a maior legenda dentro do Congresso Nacional.

José Sarney, senador do Amapá, reúne atualmente mais apoio e maior número de parlamentares que a maioria das siglas partidárias presentes no Congresso. Ele tem uma das ou a maior das bancadas no Congresso Nacional. É uma influência que se estende aos outros poderes sem nenhuma limitação ou constrangimento. Esse fenômeno mescla patrimonialismo e absolutismo, mas mantendo sempre o verniz da via dos ritos institucionais. Esse mandonismo age no interior das entidades institucionalizadas do aparelho de poder. É um mando que vem se sustentando através de diversos arranjos de pactos de cumplicidades recíprocas, articulados cuidadosamente em cada uma das instituições políticas brasileiras.  

O que assistimos no PT do Maranhão é um acontecimento tardio, algo já em descompasso com o ritmo partidário nacional. Macaxeira não inventou a aliança Sarney/PT, ele apenas tem sido um fiel executor das medidas de ajustamento. É óbvio que nessa labuta de cumprir as tarefas ditadas pela direção nacional, está agindo de forma a maximizar a realização dos seus interesses. Isto é, colher o bom preço da obediência. 

As declarações que Macaxeira sarneyzou o PT sozinho ou que é o mentor disso é puro exercício de enfrentamento. Algo compreensível e válido para o modelo de Arena de Rinha petista. Mas a realidade apresenta provas divergentes. Por outro lado, aquilo que era para ser um destrato acaba sendo um elogio ao Comandante Macaxeira. Pois ele é colocado em uma posição que ainda não ocupa e em uma condição que também não tem: o de negociar (poder falar não quer dizer Poder de negociar) diretamente com Sarney. 


Sem nenhum desmerecimento ao Sr. Macaxeira, mas Sarney não vai descer da sua cobertura para negociar no térreo com ele, não no atual contexto. Os acertos do senador Sarney com o PT são feitos diretamente com o ex-presidente Lula e com a Presidenta Dilma. José Sarney sabe o lugar que ocupa e o que tem nas mãos.

Boa parte das brigas internas do PT nasceu de querelas pessoais. Algumas não passam de  auto-justificações, particularíssimas ao extremo. Além disso, existe uma dependência quase absoluta entre alguns indivíduos (ele só é algo se outro continuar existindo). São os que não sabem viver sem o "inimigo". Toda pureza e correção deles está justificado nos defeitos e vícios dos adversários. São aqueles que transformaram a inimizade no próprio mote de vida partidária. São casos que a psicanálise e a psiquiatria não têm e nem tentam apresentar respostas ou quaisquer explicação.


No PT todos já mediram o temperamento e a coragem do outro (um troca-troca de forças). Por outro lado, todos os segredos, não são verdadeiramente segredos, o que torna bastante fácil as operações visando atender interesses e desejos reprimidos das partes em lide. Isto é, quem quer o quê e o porquê de querer. Para muitos arena de rinha é chave central de ordenação e significação da vida, sem esse palco e com as cortinas fechadas a vida não terá sentido, não serão nada no mundo. 

Logo – logo serão acionadas as máquinas ideologizadoras das tendências, de um lado para justificar as adesões à candidatura de Washington e de outro lado para justificar a manutenção do dissenso. Tudo vale se a vala vale a vida! Podemos assim resumir essa lógica.

Para justificar o consenso (ou simples adesão) não faltam dados de realidade: PT contra os tucanos malvados (PSDB); o “projeto nacional” (2014); a “tomada de poder por dentro” etc. O certo e bastante provado é que o PT nacional e seus principais líderes estão em aliança com o senador Sarney há tempos. 


Para alguns companheiros, que até há bem pouco tempo estavam na resistência, não existe outra alternativa, a curto e médio prazo, de voltar a ter o abrigo do poder a não ser pela via Macaxeira. Esse abrigo corresponde exatamente ao mundo paradisíaco dos cargos comissionados, ser posto à disposição de algum gabinete e, consequentemente, FICAR longe e livre do fardo da rotina do trabalho. Além de se alforriar de todas as coisas fadigantes destinadas aos cidadãos comuns. Preço: macaxeirizar-se. 


Alguns companheiros petistas provaram o gosto da cereja (as benesses do poder) e querem voltar a sentir esse sabor. Já perceberam que o tempo também passou para eles e outras oportunidades poderão não mais surgir. Portanto, estão no limite das chances históricas e precisam barganhar algo agora. Assim refletem alguns de posse da lógica "pragmática". Para eles essa situação-limite tende a piorar com a confirmação da não-candidatura de Flávio Dino. No final das contas, se aderirem à candidatura Washington/sarneísmo não estarão fazendo nada de diferente do que a cúpula do partido já selou. Eis uma forte justificativa. 

Para o dissenso de Washington não tem justificativa fácil. Inúmeras questões emergem de pronto: votar nulo? Votar em outros partidos? Apoiar Castelo? Omissão? Adesão ao sarneísmo?

Tendo em vista que o senador Sarney é o aliado preferencial do PT no Maranhão, será que apoiar o governo Dilma é fortalecer indiretamente o sarneísmo? Nem sempre, pode ser  o argumento. Essa adesão indireta, o fortalecimento por tabela não é automático e depende muito das opções tomadas pela Presidente. Mas quais são as opções da Presidenta? O fortalecimento do governo Dilma poderá ser a condição de criação de novas potencialidades para a disputa do poder no Maranhão ? Isso está em aberto. 

Quem quer manter a coerência de não aderir ao sarneísmo tem também que não aderir ao castelismo (sub-produto do sarneísmo). Voto nulo ou abstenção favorece Castelo. Castelo significa um retrocesso político que ficou como legado do governo Jackson.

Votar em outro partido é um direito do cidadão que está acima do dever partidário. Além disso, votar em outro partido nem sempre significa trair o partido. Mas qual o partido que estaria bem mais acima do bem e do mal do que o PT? Qual partido no Maranhão que não acumula alianças esdrúxulas, em descompasso com o discurso?

O certo é que a saída de Flávio Dino da disputa municipal de 2012 alarga mais as chances de permanência dos setores mais conservadores à frente do poder político local e adia, no mínimo, por mais 08 anos as chances de um início de alternância política no Maranhão. O desenho de uma "transição" "conciliada" mais à direita parece querer tomar forma, o que provocaria a minimização da alternância... 

PS.: Nossas obras são vistas por outros olhos... A vida não finda para os que recebem a Salvação; para os que bebem da Fonte Viva. A Páscoa é a celebração da vitória da Vida sobre a morte. A vida na sua plenitude e abundância. Feliz Páscoa! 

domingo, abril 01, 2012

SAÍDA PELO VOTO, NÃO PELO ÓBITO


Este post é alusivo ao Golpe Militar de 1964, que muitos dizem ter acontecido no dia 01 de abril, dia da mentira. O segundo ato ditatorial, depois do próprio golpe, foi manipular a data e antecipar para 31 de março. 

Por ser alusivo à Ditadura, não podia ser diferente, expresso meu desejo da morte e do enterro político de João Castelo, enquanto resquício da Ditadura. Ele e todos os que ainda alimentam o autoritarismo, o mandonismo, o personalismo como forma de manutenção do exercício do Poder. Todos que tentam anular a Política e seu ethos democrático humanizante devem ser sepultados (em uma forma de superação). O Brasil precisa caminhar mais em prol de consolidação de Democracia, Justiça e valores Republicanos. 

Enquanto ex-governador biônico e aliado da ditadura, Castelo figura como um fóssil de um dos piores momentos da nossa vida Republicana. No entanto, não quero que ele saia pelo óbito, mas pelo voto. Foi com o voto (livre expressão da opinião e da vontade soberana do povo) e será com ele que iremos continuar sepultando o autoritarismo e os vícios dos anti-republicanos/anti-democráticos que agem contra o Estado Brasileiro e sua comunidade política.

Democracia e Política para vivermos de maneira verdadeiramente humana!

 SEM PROPOSTAS - ELEIÇÃO PRESIDENCIAL 2022 O que tem movido os eleitores brasileiro diante das candidaturas à presidência da República este ...