domingo, junho 29, 2014

Sarney: de Maquiavel a Cervantes


Sarney disse não à candidatura, mas o Amapá também disse não. 
Como tratei em outro post, desde a década de 60 José Sarney não entra em pleito para disputar. Tudo que veio depois dessa data foi participações em que os pleitos eletivos estavam sem concorrentes efetivos. Assim, o senador Sarney lançava candidatura para tomar posse. 

O contexto tem mudado no Brasil. No Maranhão algumas alterações estão em curso, mas no Amapá, desde 2010, mudanças significativas ocorreram no campo político partidário.

Analistas amapaenses apontam a Operação Mãos Limpas como um dos fatores que inicialmente contribuíram para alterar o campo da disputa eleitoral no Amapá. Mas é lógico que um só fator não é suficiente para alterar um campo tão complexo como o político. 

O contexto  atual que produziu Sarney desistindo da sua candidatura a senador pelo Amapá tem uma convergência de interesses partidários locais. O prefeito da capital do estado (Macapá) é um opositor, o governador do estado também é opositor. Esses ingredientes sozinhos somam o perigo necessário para uma candidatura que não pode ter concorrentes reais. Não bastando isso, a confluências de forças contrárias somou a vice-governadora, Dora Nascimento, pertencente ao PT, entrou na disputa pela vaga do Senado. Para completar o fechamento, Davi Acolumbre, do DEM, entrou na disputa para o Senado, mais uma vez aparece um ex-aliado para jogar contra. Dizem que Acolumbre foi incentivado a concorrer pelo senador Randolfe (PSOL), para completar a construção do não amapaense. O não do Amapá ao senador Sarney foi de um extremo a outro do arco ideológico. 

O senador Sarney viu o óbvio, as máquinas estadual e municipal estão contrárias, candidatos eleitoralmente fortes, mais jovens e com maiores vínculos locais formaram o cenário perfeito para uma derrota humilhante. O senador teria que disputar sem a vantagem do apoio governamental e sem adversários incapacitados de disputar. O tempo mudou. 

Como bem diz Maquiavel sobre (tempo/contexto): "Isso se explica tão-somente pela natureza dos tempos que se ajusta ou não à sua maneira de agir". "Experimenta a infelicidade da ruína aquele cujo procedimento não se ajusta à natureza dos tempos." "Assim, que sendo a sorte variável e os homens obstinados nos seus modos de proceder, experimentarão a felicidade do êxito enquanto houver concordância entre modos de proceder e os tempos." (Trecho de O Príncipe) 

Porém, esse não que Sarney precisou lançar para si, de visível contra sabor, representa um ganho pessoal. Na verdade, os opositores do Amapá lhe deram a chance de saída ainda honrosa. Sarney, visivelmente cansado, faz o retorno para casa. Está parecendo que o senador, no seu esforço pelo gosto literário, assimilou também os ensinamentos de Cervantes. Em Dom Quixote existe a dica de que o verdadeiro cavaleiro sabe a hora de voltar para casa. Eis o ensinamento. Sarney, nesse tempo de vida restante,  pode estar recuperando a condição de José de Ribamar, bem como Alonso Quijano recuperou a si retornando para casa. Há tempo o José vive suplantado pelo mito, confundido e confundindo-se nos devaneios do imaginário. 

Nunca é tarde para buscar a liberdade... até mesmo do seu próprio cárcere! O carcereiro acaba vivendo também no cárcere... quase similar aos presos. 

Essa aposentadoria não é nenhuma garantia de melhoria para o povo, ela vale mais para os que estão querendo ocupar de imediato o poder.  Além disso, esse mesmo grupo que está no poder tem tudo para assumir a condição de principal oposição, caso a atual oposição assuma o governo estadual em 2015.  

O povo segue sua vidinha de luta... não há o que comemorar ainda... Maranhão e la Macha permanecem confusos e o risco de um outro nobre assumir as velhas armaduras é muito grande! 

PS.: Quem será esse menino repórter ao lado do senador? 


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