domingo, maio 27, 2012

São Luís: blogues e a mentira como negócio.




Tenho acompanhado atentamente essa dita blogosfera “maranhense”, se é que tal coisa possa assim ser chamada, particularmente aos quesitos índices de acesso e a forma de mercantilização dos blogues. Tem sido um primado dessa blogosfera a mentira sobre os acessos. Isso tudo para viabilizar os blogues comercialmente. Mercantilização selvagem.

Blogueiro é um termo genérico para diversos tipos de autores e proprietários de blogues no mundo inteiro. Os blogues surgiram como páginas pessoais, com marcas de um diário eletrônico. No Maranhão, lugar dos incomuns, tem proliferado uma tentativa de reduzir e oficializar blogueiro como um tipo de “jornalista”. Isso tem sido feito de forma intencional.

Na base da atual “mercantilização blogueira” atuam indivíduos empenhados em estabelecer uma concepção de blogue e de web-informação que lhes proporcione uma reserva de mercado. Em geral, deturpam o conceito de informação, de opinião e notícia, sem falar da agressão ao direito de todos de pensar, expressarem-se verbalmente. Essa tentativa, em si, é um claro surto do provincianismo, paroquialismo e esperteza  do tipo aqui reinante, não só entre os políticos, mas nos mais diversos segmentos e arranjos sociais. Essa tentativa é uma nítida reprodução do conservadorismo e da forma mandonista de Poder, que vigora fortemente no Maranhão. Buscam assumir a condição de versão oficial, igualmente às existentes nos tradicionais meios de comunicação de massa sob o controle desse mesmo tipo de exercício de poder.

Informação é um fenômeno com inúmeros elementos e com diversos níveis de efetivação. A informação pode aparecer em um vasto arco, da escova dental até o penteado dos cabelos da moça M'uíla na puberdade. Nem toda informação tem caráter de notícia, nem é fruto do ofício jornalístico. Talvez falte para muitos a consciência do que é propriamente jornalismo. Para uns isso ajudaria a não acharem que são aquilo não são (jornalistas) e, para outros, possibilitaria a compreensão que aquilo que são (jornalistas) não é tudo aquilo que eles imaginam ser.  

Quem é contra alguém viver de atividades lícitas? Considero válidos e legítimos os esforços que tornam ofício remunerado a atividade de blogueiro. Quem pode querer tirar o ganha-pão honesto de alguém? A questão não é ser blogueiro visando rendimentos, mas a maneira de ganhar (tirar ou arrancar, para não dizer extorquir) tais rendimentos.

Infelizmente alguns “profissionais” enveredaram pelo caminho tortuoso de forjar audiência para obter lucro. Números bizarros são apresentados, particularmente, quando são levadas em considerações variáveis como: parcela da população maranhense que tem acesso à internet; os que são usuários diários; a quantidade de tempo conectado e, por fim, os que são leitores regulares de blogue.

Como estamos tratando de uma rede mundial de computadores, é possível que esse estrondoso sucesso de acesso seja fruto de leitores de outros estados do Brasil e/ou de outros países. No entanto, alguns números apresentados, por conta do tamanho, qualificariam esses blogues para figurarem nas principais listas de ranqueamento e diversos níveis: regional, nacional e internacional. Porém, não é isso que acontece. Por que será?

A chave mais segura de aferir o sucesso de acesso usa o critério de “visitantes únicos” mensal. Isto é, acessos de pontos diferenciados e não só quantidade de visitas, sem distinguir a origem. A fraude comumente ocorre aí. Com duas ou mais máquinas um blogueiro de “sucesso” fica produzindo visitas ao seu próprio blogue. Os IPs são poucos, mas o número de visitas fica astronômico.  Eis a fórmula “profissional” de sucesso nada digna de admiração e credibilidade. É o marketing caça-níquel fraudulento. Qual o grau de credibilidade das informações, notícias, “críticas” e “análises” produzidas por esse tipo de blogueiro? Qual a sua qualidade profissional. No entanto, existem aqueles que o problema é fruto do cego esforço caça-níquel, mas a doença crônica da vaidade. O que temos muito aqui: “famosos mundialmente conhecidos” no Beco do “Caga Osso”.

Diante do exposto, quero manifestar minha indignação aos indivíduos que colocaram meu blogue em medidores de acesso sem minha autorização. Isso é medíocre. Não sou nenhuma ameaça a vocês. Não sobrevivo de blogue. Blogue para mim é sinônimo de custos: pessoais e financeiros. Minha única recompensa é a satisfação de manter minha liberdade de pensamento.  

Era só mandar uma mensagem pedindo tais informações que receberiam prontamente.
Segue uma pequena lista de blogues com acesso comprovado e que lideram o ranking de acesso (USA): huffingtonpost.comboingboing.net ; techcrunch.com ; kottke.org ; dooce.com ; perezhilton.com ; talkingpointsmemo.com ; icanhascheezburger.com ; beppegrillo.it ; gawker.com .

sexta-feira, maio 25, 2012

A ORDEM DA LOUCURA E OS VENAIS

Foto: Francisco Araujo


O que é um louco? Será que existe uma loucura? Só há um tipo de louco? 
A loucura, antes de ser convertida em patologia, possuía inúmeros significados e simbolizações. A apropriação médica a lançou em um status clínico. Disso bem fala M. Foucault, em A História da Loucura. 

Durante longo tempo, da história ocidental, a loucura serviu para nomear diversas  situações consideradas supra-humanas, extraordinárias etc. Mas isso não era doença, nem algo que pudesse servir para distanciar, isolar e desqualificar em absoluto uma pessoa. Tudo girava no campo do fantástico e da sedução do campo imaginário. Porém, essa percepção da loucura ou status parece ter definhado cabalmente. 

No entanto, a loucura sobrevive fortemente, enquanto discurso, em um lugar não-clínico e é nele que ela assume as formas verdadeiramente perigosas e destrutivas: a ideologia.  A loucura ideologizada é uma arma extremamente perigosa, pois serve exclusivamente ao propósitos de escárnio e desqualificação. Em geral, articulada com preconceitos e discriminações. 

A loucura como desqualificação tem raízes profundas na nossa sociedade e reproduz as marcas de nosso ethos autoritário e  da nossa cultura de intolerância ao diferente e ao contraditório. Essa arma é recorrentemente utilizada por espécies variadas de incompetentes e autoritários que, ao invés do argumento, lançam-se ao xingamento e à desqualificação de quem possa parecer uma ameaça aos seus projetos. Forma mesquinha de autoafirmação e autopromoção. No fundo... o medo de ver seu "grande brilho" ofuscado. Produto muito comum de egos doentios que, não raro, vêem-se gênios de primeira ordem.   

Novamente... e estritamente falando da forma ideologizada: quem é o louco? Que sanidade ou superioridade tem quem usa de tal artifício para se sentir superior? 

Observando alguns indivíduos, clinicamente dados como portadores de problemas mentais, observei que, em alguns casos, certas regularidades são exteriorizadas nessa condição de "diferença". Isto é, de alguma forma esse indivíduo monta uma ordem... Já vi vários indivíduos "loucos" que começam a recolher, prioritariamente, um determinado tipo de objeto. É muito mais que uma coleção, trata-se de um elemento edificador por excelência. Tudo pode ser construído a partir dele.  Por quê? Sem um padrão como existiria a identificação do similar? Sem esses mecanismos como ele poderia encontrar tal objeto igual? 

O perigo maior está naquele que com "sua sanidade" tenta desqualificar o outro para alimentar seu objeto - igual recorrente: a vaidade!

quarta-feira, maio 23, 2012

AULAS, GREVES E PERDA DE LEGITIMIDADE



As aulas e a greve de motoristas e trocadores de ônibus - transporte coletivo. 
São Luís, cidade com mais de 01 milhão de habitantes, só conta com o transporte rodoviário para transporte em massa de pessoas. A greve de motoristas e trocadores de ônibus coletivo afeta, em cadeia, diversos setores e particularmente as escolas, faculdades e universidades. Não são poucos os alunos e funcionários que dependem diariamente do transporte coletivo. Diante da greve... parte das possibilidades do ir e vir cai na incerteza que, por sua vez, gera insegurança e onera ainda mais as pessoas. 

A paralisação dos ônibus afeta não só os que aqui residem, mas as pessoas que aqui chegam ou que diariamente vêm trabalhar, fazer compras etc. Destaco, nessa situação, os alunos dos cursos universitários noturnos, principalmente os que dia-dia  saem de suas cidades para assistirem aulas em São Luís. Só para exemplificar: um indivíduo viaja 120km, ou 150Km para assistir aula, porém, ao chegar na sala de aula constata que a sala está vazia. O que dizer a ele?

O (a) aluno (a) que solitariamente compareceu merece ter seus direitos atendidos, os que faltaram por falta de transporte também precisam ser atendidos nos seus direitos. Isto é, a situação não é fácil. Enquanto isso... o tempo passa, o calendário fica curto para as atividades previstas serem realizadas. O que fazer? 

O outro lado dessa história, sem meios termos, É O LEGÍTIMO DIREITO dos motoristas e trocadores de reclamarem salários mais justos para terem vida digna. O Brasil, a 7ª economia do mundo, ainda mantém uma das piores políticas salariais do mundo, com um largo leque salarial e baixa valorização dos trabalhadores. 

Diversas categorias são extremamente mal remuneradas, impera entre diversos setores da nossa economia um brutal injustiça salarial. Dentre os mais explorados e injustiçados salariais estão: motoristas, trocadores, garis, vigilantes, caixa de supermercado, professores, policiais, zeladores, recepcionistas, porteiros e trabalhadores da construção civil. Não importa o quando a situação econômica do pais esteja boa, eles estão sempre ganhando pouco, não só pela baixa remuneração, mas também pelo falta de reconhecimento do valor do seu trabalho. 

A positividade da greve está para além das ações manifestas: revela a acentuada incapacidade e ineficiência das tradicionais entidades mediadoras de conflito dentro do espaço "regulado", além de expor a perda de autoridade das instituições políticas que são basilares para a ordem pacífica-de-direito. Isso, em muito, é consequência da generalizada corrupção e impunidade em vigor no país. O crescente descrédito e perda de legitimidade dos que, originariamente, devem compor os processos decisórios, tornam as soluções cada vez mais demoradas e imprevisíveis...

Enquanto isso... em São Luís... é isso

domingo, maio 20, 2012

Retrato Falado no Maranhão






Retrato falado no Maranhão: você fica o tempo todo ouvindo falar dele, mas nunca ver. Eles falam, falam e só falam. 

O retrato falado surgiu na Inglaterra, a Scotland Yard teve essa ideia, em 1881, na tentativa de capturar Mapleton.

Acredito que no Maranhão houve um erro de tradução... somente isso pode explicar essa nossa modalidade de retrato falado, que só existe na oralidade e nenhum rabisco no papel....

sábado, maio 19, 2012

Walter Rodrigues - um dia - 19 - depois de dois anos

Foto: Francisco Araujo

Hoje é data do falecimento do jornalista Walter Rodrigues. Dois anos completos. 
Conheci o Walter em uma entrevista para minha tese de doutorado. Lembro-me de um enorme cachorro solto no seu jardim. Não sabia se fazia as perguntas ou olhava para o cachorro. Até que pedi para amarrar o cachorro. Isso no ano de 2005. infelizmente essa gravação digital deu problema e não consegui recuperar. Depois disso mantivemos conversas frequentes. 

Tinha versões únicas sobre determinados fatos. A mais incrível foi sobre uma tragédia  ocorrida com uma autoridade, no interior do Maranhão... mas não conto aquilo que o autor não autorizou em vida. O roteiro e o desfecho, confesso, são primorosos. 

Certa vez cheguei na casa dele e ele me perguntou: "Como um professor pode ter um carro desse?" Falava do meu carro, um Peugeot 106. Disse quantos empregos tinha, as minhas despesas e o valor da prestação. Demonstrou ter entendido. 

Quanto jornalista era de uma qualidade ímpar. Dissecava e discorria sobre um assunto de forma pormenorizada. Armava sempre uma estratégia de convencimento. Tinha um impulso de convencer. Detinha a escrita técnica e fazia também na forma de ofício, mas quando era algo de caráter pessoal concentrava todo seu esforço para montar o texto. 

Entre as coisas engraçadas que contava, tem destaque seu plano anti-sequestro. Simplesmente fora do comum. A justificativa era: "detesto a humilhação!"

Deixou uma lacuna no jornalismo maranhense pela qualidade da escrita, pela postura intelectualizada que tinha ao exercer sua profissão.

Achava uma anormalidade o fato de eu não beber bebidas alcoólicas e ser cristão. 
Em em uma discussão que tivemos, finalizou dizendo: "Seja justo comigo!" Eis a minha resposta. Somos todos perfeitos e imperfeitos. Só isso! 

Esteja em paz. Eu continuo dizendo a mesma coisa: Deus existe! 

quinta-feira, maio 17, 2012

A violência e o Cavalo selado: manco, sem dentes e cilha errada


O Maranhão durante várias décadas apareceu entre os estados com os menores índices de violência. Ao mesmo tempo em que aparecia entre os líderes em número de conflitos de terra e assassinatos no campo. Ora, o sucesso da pacificação do Maranhão estava sustentado pela localização social e pela configuração da distribuição geográfica da população que sofria preferencialmente a violência. Colaborava para isso a invisibilidade social sofrida pelas vítimas, que historicamente foram submetidos a uma sub-cidadania. Ao longo de séculos, a sociedade  maranhense naturalizou o conflito no campo e os assassinatos, deles decorrentes, assumiram a condição de normais, algo que é “assim mesmo”. A sociedade não se indignava e nem assumia uma forma de solidariedade mais aguda em relação ao que tiveram suas vidas ceifadas pelo crime de encomenda, a pistolagem.

Não se pode desconsiderar que os tradicionais meios de comunicação de massa foram mantidos sob o agudo monopólio de grupos econômicos e políticos no poder. O que fez com que os veículos de comunicação  não desse a conhecer e nem informassem suficientemente os inúmeros assassinatos de lavradores e quilombolas acontecidos nos diversos povoados existentes no Maranhão. Isso ajudava a produzir, junto à sociedade envolvente, uma sensação de segurança geral e as mortes desses sujeitos como casos isolados. Com o advento da internet, a difusão de notícias sobre esses segmentos sociais, que tradicionalmente sofrem com a violência, ganhou maior espaço e autonomia, em tempo real.

Atualmente, soma-se a essa expansão da informação livre, o avanço da violência sobre segmentos sociais que se sentiam mais seguros. Particularmente protegidos de uma modalidade de violência já institucionalizada no estado: a pistolagem - o assassinato covarde de encomenda. Os pilares corroídos da nossa pacificação ficaram à mostra. 

O cavalo selado é Desdentado: deficiência educacional, persistem os conflitos por terra, precário sistema de saúde; é Manco: problemas de saneamento e abastecimento de água, principal estrada de acesso à capital sobrecarregada, aeroporto em reforma interminável, transporte urbano deficiente e baixa qualificação da mão-de-obra, contingente da força policial abaixo do padrão exigido; Cilha Errada: os grandes projetos aqui implantados: Alumar e Vale, não produziram uma significativa horizontalização da produção, a monocultura da soja desagrega muitos arranjos produtivos e causa danos ambientais irreversíveis, 900 mil famílias dependem da transferência direta de recursos do programa Bolsa Família.

O Maranhão, desde as origens, tem tido governantes sem o domínio da arte de encilhar e o cavalo tem uma ferida crônica no garrote. Esse cavalo só pode ser do cão!


domingo, maio 13, 2012

Brasil todo se ardendo para a Copa

Foto: Francisco Araujo
Até agora as preocupações sobre a Copa são de ordem de engenharia, precisamente sobre as construções dos estádios. Não é para menos. Futebol é jogado em um campo e, em futebol profissional, ele fica no interior de um estádio. Ok. Tudo bem! Mas um evento dessa magnitude tem que oferecer muito mais de estrutura. Ou será de infraestrutura? 

As condições de funcionamento da Copa estão para além dos estádios e os problemas emergem a todo instante. No Rio, a capital turística brasileira, endereço do maior templo do futebol: o Maracanã, saltam aos olhos o descompasso do processo de organização e estruturação para dois eventos grandiosos, a saber, Copa e Olimpíadas. As melhorias nos transportes, até agora, não ganharam nenhuma efetividade. Os hotéis estão praticando preços imorais e, para completar o encarecimento do Rio, apareceu uma taxa turismo.

É isso. Se você for para a maravilhosa cidade do Rio de Janeiro vai constatar que os hotéis estão cobrando a "mágica" quantia de R$ 2,00, denominada de taxa turismo.  Para quê? Para melhorar o Rio, diz a atendente. Ótimo, que bom! Isso pode? Pode. É a lógica dos pedágios. Você é livre para ir e vir, desde que tenha dinheiro para passar. 

Na prática quem chega hoje no Rio, além do dinheiro que inevitavelmente vai ter que deixar com alimentação, transporte, hospedagem etc., vai pagar só por ter a ousadia de ter ido lá. É uma nova modalidade de incentivo ao turismo. O Rio vai melhorar com essa contribuição do visitante. Assim pensam os donos do poder. No fundo, a regra do "pedágio",  inúmeras vezes imposta por foras-da-lei, em diversos bairros de n cidades brasileiras, parece ter ganho uma via institucional de existir. Enquanto isso, na sala de justiça, o Rio continua lindo, mas onde sempre foi lindo, e só! 

Na Lapa houve mudanças na ocupação e exploração dos imóveis, atrações e empreendimentos novos surgiram. Não significa que as medidas foram acompanhadas de compensações. Alguns moradores de cortiços estão "residindo" na rua. Ainda são muitos os "moradores" de rua nessa área. Por outro lado, não há como negar que setores de classes médias estão frequentando os bares e restaurantes lá instalados. Se é só uma moda ou algo parecido, só com o tempo isso poderá ser revelado. Até agora a revitalização está baseada mais na ideia de "higienização", que é produzida com ações de expulsão dos considerados "socialmente indesejáveis' para os negócios. 

Mas, lá mesmo na Lapa, os banheiros químicos instalados contradizem a lógica da campanha contra os que urinam na rua. Os banheiros não estão recebendo manutenção adequada e são verdadeiros purgatórios de plásticos. Você entra e perde todos os seus pecados lá dentro. Sujeira total! 

Os principais pontos de atração e comércio estão menos perigosos, hoje o risco mais constante são os puxadores ou batedores de carteira, que pegam alguma coisa da vítima e saem correndo. Porém, esses indivíduos estão sob a pressão constante do famoso "cerol fino". 


Essa maior segurança carioca está baseada na alteração do controle da territorialidade, onde grupos e sujeitos específicos são deslocados ou empurrados para locais mais distantes. Produzindo alterações e desarticulações de atividades consideradas perigosas e potencialmente produtoras de violência. Vide as comunidades pacificadas, onde o tráfico e os traficantes foram forçados a assumir uma outra dinâmica e  outros modos de operar, a partir de uma situação de  desarmamento e presença ostensiva dos aparelhos repressivos do Estado. 


Os traficantes continuam nessas comunidades pacificadas. Os que foram mostrados pela televisão correndo em fuga, não eram do Alemão, mas de outras comunidades que tinham ido se refugiar lá. Os operadores nativos mais graduados da comunidade se evadiram antes e durante a ocupação e os operadores menores, os "sem ficha na polícia", ficaram quietos em casa. Vamos dizer que agora virou um tráfico "pacificado". No entanto, não se pode negar a existência de uma satisfação na maior parte da população. O comércio tem melhorado nessas áreas. Mas, o poder público ainda precisa atuar mais nessas áreas para garantir os serviços essenciais aos cidadãos. Enfim, o espaço para outros negócios lícitos foram abertos nessas áreas. Vide o teleférico do Alemão, que virou atração turística. 


Bem, quanto a parte que sempre foi linda, está tudo lindo. Em Copacabana, uma das prais mais famosas do mundo, os quiosques da orla estão novinhos e em diversos pontos foram instalados banheiros novos, subterrâneos. Os postos de observação do salva vidas também estão reluzentes. Isto é, continua lindo e como mais segurança. presença constante da Guarda municipal no Calçadão. Aí é ir e curtir. É zona Sul. 


Fora desse mundo da especifidade do brilho carioca, temos diversas obras em passos lentos como a Transcarioca, que visa interligar a Barra ao Galeão. Os telefones públicos viram painéis de propaganda de prostituição com fotos explícitas de sexo. Sendo que a maioria desses aparelhos estão só enfeitando a paisagem. O sinal de telefonia móvel é péssimo. Hoje, em pleno domingo do dia das Mães, a rede só dá "sinal" de ocupada. Só aí já possível ver o quanto ainda precisa ser feito além de estádios. 



quinta-feira, maio 10, 2012

A ESTÉTICA DO PODER E A POLÍTICA COMO PIADA



Apesar do Maranhão nunca ter sido batizado de estado-fascista, é a unidade político-administrativa que mais tempo vem sustentando uma política na forma de espetáculo. O poder foi posto em cena e convertido em ritualização publicitária, tanto na fórmula “romana” adulterada: do circo e circo, como pela via da força midiática, usada pelos governos. 

Sucessivamente os programas de governo e os pronunciamentos dos governantes não passam e de meras peças publicitárias, em sedução e fantasia.  Trata-se de um processo contínuo de espetáculos de sedução, onde governar é seduzir, é manter o povo entorpecido por promessas grandiosas, atos e obras megalomaníacas, frutos não do planejamento ou da percepção das prioridades dos negócios públicos, mas de rompantes, vaidades e idiossincrasias.  

O altíssimo gasto público com publicidade deixa inequívoco seu caráter predominante na forma de governar. Mitos, fantasias, falseamentos, apelos sentimentais e a exploração do medo, promessa de amparo e proteção são elementos recorrentes no preenchimento das peças publicitárias, que são transformadas em alimento para os anseios políticos, já totalmente despolitizados.


A ritualização pública dos feitos, inverídicos ou falseados, tem sido a tônica da publicidade do governo municipal de São Luís, cujo ocupante se convenceu que pode a todos convencer, porque acredita que suas versões fazem a realidade ser o que ele bem quer que os outros vejam. Estado mental análogo ao dos líderes de regimes autocráticos que, em surtos agudos de personalismo, viam-se como pessoas especiais, portadores de uma revelação e uma verdade superior. Assim age o atual prefeito de São Luís. Ele está convencido de que sabe convencer e por isso a realidade não influi no juízo das pessoas.

Qual a qualidade de gestor público ou que projeto de governo Castelo possui? O prefeito de São Luís na ausência desses requisitos prende a atenção do eleitor e tenta levar a opinião pública a tratar de uma matéria que não sua: o humor do poder. Buscar entreter fazendo galhofa, ridicularizando e caricaturando as questões públicas, ao passo que traveste sua raiz autoritária e hereditária do Golpe Militar de 1964 assumindo o papel de um humorista, de um piadista ou stand-up. Isso tudo para que o Castelo real: autoritário e truculento seja ocultado por uma pessoa “engraçada”.

Nesse cenário circense, a estética do horror "político" se impõe ao  debate público: o ilusionismo toma o lugar das questões públicas. Ao invés do compromisso público e do gestor público/estadista aparecem, respectivamente, a piada e uma pessoa exótica de cara pintada!  É por isso que o fascismo é uma constante ameaça às democracias! 

sexta-feira, maio 04, 2012

Espiritualidade e Religião

Autor: não foi possível identificar.

                                                                                              Frei Betto*

A religião é a institucionalização da espiritualidade, assim como a família é do amor. Há relações amorosas sem constituir família. Do mesmo modo, há quem cultive sua espiritualidade sem se identificar com uma religião. Há inclusive espiritualidade institucionalizada sem ser religião, como é o caso do budismo, uma filosofia de vida.

As religiões, em princípio, deveriam ser fontes e expressões de espiritualidades. Nem sempre isso ocorre. Em geral, a religião se apresenta como um catálogo de regras, crenças e proibições, enquanto a espiritualidade é livre e criativa. Na religião, predomina a voz exterior, da autoridade religiosa. Na espiritualidade, a voz interior, o "toque” divino.

A religião é uma instituição; a espiritualidade, uma vivência. Na religião há disputa de poder, hierarquia, excomunhões e acusações de heresia. Na espiritualidade predominam a disposição de serviço, a tolerância para com a crença (ou a descrença) alheia, a sabedoria de não transformar o diferente em divergente.

A religião culpabiliza; a espiritualidade induz a aprender com o erro. A religião ameaça; a espiritualidade encoraja. A religião reforça o medo; a espiritualidade, a confiança. A religião traz respostas; a espiritualidade suscita perguntas. As religiões são causas de divisões e guerras; as espiritualidades, de aproximação e respeito.

Na religião se crê; na espiritualidade se vivencia. A religião nutre o ego, pois uma se considera melhor que a outra. A espiritualidade transcende o ego e valoriza todas as religiões que promovem a vida e o bem.

A religião provoca devoção; a espiritualidade, meditação. A religião promete a vida eterna; a espiritualidade a antecipa. Na religião, Deus, por vezes, é apenas um conceito; na espiritualidade, uma experiência inefável.

Há fiéis que fazem de sua religião um fim e se dedicam de corpo e alma a ela. Ora, toda religião, como sugere a etimologia da palavra (religar), é um meio para amar o próximo, a natureza e a Deus. Uma religião que não suscita amorosidade, compaixão, cuidado do meio ambiente e alegria, serve para ser lançada ao fogo. É como flor de plástico, linda, mas sem vida.

Há que tomar cuidado para não jogar fora a criança com a água da bacia. O desafio é reduzir a distância entre religião e espiritualidade, e precaver-se para não abraçar uma religião vazia de espiritualidade nem uma espiritualidade solipsista, indiferente às religiões.

Há que fazer das religiões fontes de espiritualidade, de prática do amor e da justiça, de compaixão e serviço. Jesus é o exemplo de quem rompe com a religião esclerosada de seu tempo, vivencia e anuncia uma nova espiritualidade, alimentada na vida comunitária, centrada na atitude amorosa, na intimidade com Deus, na justiça aos pobres, no perdão. Dessa espiritualidade resultou o cristianismo.

Há teólogos que defendem que o cristianismo deveria ser um movimento de seguidores de Jesus, e não uma religião tão hierarquizada e cuja estrutura de poder suga parte considerável de sua energia espiritual.

O fiel que pratica todos os ritos de sua religião acata os mandamentos e paga o dízimo e, no entanto, é intolerante com quem não pensa ou crê como ele, pode ser um ótimo religioso, mas carece de espiritualidade. É como uma família desprovida de amor.

O apóstolo Paulo descreve magistralmente o que é espiritualidade no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios. E Jesus a exemplifica na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37) e faz uma crítica mordaz à religião em Mateus 23.

A espiritualidade deveria ser a porta de entrada das religiões. Antes de pertencer a uma Igreja ou a uma determinada confissão religiosa, melhor propiciar ao interessado a experiência de Deus, que consiste em se abrir ao Mistério, aprender a orar e meditar, penetrar o sentido dos textos sagrados.

*Frei Betto é escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros. Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br].

ORIGINALMENTE PUBLICADO EM: CORREIO MFC (Movimento Familiar Cristão) - BRASIL, Nº 284, 30 DE 2012. 

quarta-feira, maio 02, 2012

Jornalismo: Discurso e ideologia - De Gorila a Homo Sapiens


Foto: Francisco Araujo


                                                                                                                                                              Marcelo Barros*
A morte de Décio Sá, para muito além do ato de covardia perpetrado contra sua pessoa, e que deve ser objeto da mais rígida apuração pelos organismos que tem como função dar segurança à sociedade (na qual incluo, além da Polícia, o Ministério Público e a Magistratura), motivou um debate bastante intenso sobre os limites do jornalismo enquanto um discurso que se publiciza para a sociedade e, como não poderia deixar de ser, forma opinião.

Creio que não há imparcialidade em nenhum lugar, nem mesmo nas pesquisas que pretendemos, no meio acadêmico, ver revestidas de maior objetividade e isenção, através da aplicação de complexos métodos, buscando ora afastar o pesquisador de seu objeto, ora aproximá-lo.

Na atividade jornalística, por certo, também há seus métodos de busca das informações e uma ética no tratamento das mesmas, sendo que o jornalista deveria, idealmente, também, ao sintetizar suas informações como notícia, se abster de emitir seus juízos de valor, éticos e morais, próprios, dando lugar ao que sua investigação realmente trouxe a lume.
Como na atividade de pesquisa a escolha do objeto e os pressupostos a serem estudados (comprovados) já consistem em posicionamento ideológico, a pauta no jornalismo da mesma forma também consiste em posicionamento eminentemente ideológico.

Não vamos ver o jornal da Mirante pautando as inúmeras compras realizadas com dispensa de licitação da Secretaria de Saúde do Estado, mas também não se verá o Pequeno tratando de assuntos delicados em relação ao Município de São Luís. O primeiro é Roseana e o segundo é Castelo. Ponto final.

Me acostumei a ler todas as notícias que chegavam a meu alcance, me resignando a fazer meu próprio crivo sobre as mesmas, razão pela qual sempre li Décio Sá, mesmo sabendo que ele tinha lado, que defendia aqueles que lhe propiciavam a necessária subsistência. Mas, justiça seja feita, Décio Sá era muito bom, tinha uma rede de contatos excepcional e trazia aos que o liam informações preciosas, a que poucos jornalistas tinham acesso.

Como ele tratava também dos interesses inconciliáveis dentro do próprio clã e de seus aliados, era interessante, para mim, saber destas nuances que ele expunha com muita propriedade, às vezes desnudando práticas nada éticas internas do grupo. Também, através de seu discurso, dava para perceber os movimentos ideológicos dentro do grupo, suas estratégias políticas, quem os preocupava etc.

Faço tais considerações por achar que não consigo perceber em tal jornalismo algo nefasto em si mesmo, até pelo fato de que Décio jamais escondeu sua filiação ideológica, sendo que várias vezes vi comentários indignados em seu blog de pessoas que lhe perguntavam se ele não postaria algo sobre tal ou qual mazela do grupo ao qual pertencia.

Por certo, jamais postaria algo assim, vez que não era de “seu” interesse. O discurso é sempre ideológico, seja de que lado for. Há problemas, falhas e erros em toda ação política. Ao proferir qualquer discurso, crivamos, sempre, o que não é bom, para que possamos tornar público aquilo que é bom, que possa reafirmar nossa ideologia perante aqueles que são destinatários de tal discurso.

Ao ler o Estado, o Pequeno ou o Imparcial, sei bem quais as linhas ideológicas que os mesmos seguem, e, até, os interesses que cada um busca, sutilmente por vezes, resguardar. Nenhum é isento ideologicamente. Silenciam e bradam consoante os interesses que defendem, ou, aos quais, circunstancialmente, se aliam.

Quanto aos “gorilas diplomados”, não considero os jornalistas que defendem posições de grupos políticos dessa forma, vez que a relação, a meu ver, é de profunda submissão. Para além dessa compreensão, e muito mais séria, a relação é de profissionais que são “utilizados” por aqueles que estão imbricados nas redes de poder, muito antes de exporem seus próprios juízos de valor sobre os fatos. O jornalista que assim age, defendendo, visceralmente, interesses que não são os seus próprios, mesmo que em busca de sua subsistência, corre o risco de se indispor com pessoas inescrupulosas. Compra uma briga, que, em verdade, não é sua.

Quanto ao jornalismo sobre o tema política, sobre este assunto especificamente, acho que não há qualquer órgão de imprensa neutro. Se filiam, todos, ocasionalmente, a grupos políticos ou discursos ideológicos, sempre pautando discussões que sejam do seu interesse. Logicamente, não podem se furtar de noticiar sobre a ordem do dia, as que não tenham estabelecido, mas acham sempre o “jeito certo” de minimizar fatos e omitir opiniões desfavoráveis.

Não considero, por fim, que Pedrosa tenha se posicionado, em essência, de forma preconceituosa, e até acho que sua fundamentação é bastante consistente, razão pela qual concordo com sua leitura da função jornalística, mas com as ressalvas que fiz acima. O erro, a meu ver, foi o termo “gorilas diplomados”. Não fosse tal termo e seu artigo seria somente mais um, expressando uma opinião coerente e, por certo, bem fundamentada.

Em suma, o que percebo em tal questão não difere essencialmente do pensamento de Pedrosa, mas somente não acredito em posições jornalísticas que se queiram acima do bem e do mal, em discursos que não sejam perpassados pelo componente ideológico, em atos eivados de imparcialidade, vez que considero o jornalismo somente mais uma esfera do discurso ideológico. Esta é a luta ideológica, da qual fazemos parte, sem qualquer isenção, seja na direita, centro ou esquerda.

Acredito no ser humano, no homo sapiens, que busca o reconhecimento de seus pares, imageticamente em sua busca pelo domínio territorial através da força, bem instintivo, e como ser de linguagem, através da imposição de seu discurso.

Fosse assim e os Magistrados cumpririam, em sua totalidade, sua função de distribuir justiça, mas, como seres humanos que são, criados em ambientes socialmente determinados, não raro obnubilados pela visão das classes dominantes, não conseguem, muitos, apesar do imaculado lócus do qual proferem suas decisões, que se quer ideologicamente neutro, perceber o liame existente entre distribuir justiça ou exarar posicionamentos ideológicos.

Inobstante meu posicionamento, acho que os jornalistas precisam realmente discutir este tema, vez que a eles isto interessa sobremaneira, inclusive pela exposição a que eventualmente são submetidos. Quanto a questões éticas da profissão, confesso que não as conheço em profundidade e me eximo de emitir, neste momento, juízo de valor quanto a isso, mas, acho que o debate talvez tenha como ponto central o pressuposto de que há ideologia no discurso jornalístico, não raro servem a interesses de classe e que tal filiação não é incongruente com a prática jornalística. O que não pode haver na atividade, a meu ver, é hipocrisia (não assumir que tem lado) e mentira.

Quanto a Décio Sá, a certeza, que é minha, de que exerceu a atividade jornalística de forma brilhante, por certo com alguns equívocos (principalmente quando entrava na esfera privada de algumas pessoas), mesmo que eu não concordasse com seus posicionamentos políticos em defesa do grupo político que governa o Maranhão por quase meio século.

Em relação a Pedrosa, meu reconhecimento como cidadão preocupado com uma sociedade mais livre, justa e democrática, que o considero, sem qualquer preconceito que possa lhe ser impingido, vez que pessoa que sempre lutou, além de tudo, pela igualdade entre os socialmente desiguais.

* Advogado e Cientista Social. 

terça-feira, maio 01, 2012

Trabalho. O que é o trabalho..


O que é o trabalho? Trabalho é o esforço desesperado em um tempo fadigante para conseguir remuneração com a finalidade de ser revestida em obtenção de bens? Não. O trabalho assim seria reduzido ao trabalho subordinado, voltado mais para a sobrevivência material. Esse tipo é comum no capitalismo. Porém, o trabalho não é um fenômeno restrito à satisfação de necessidades imediatas, inatas, orgânicas, tais como comida e bebida. O trabalho é algo mais, portanto não pode também ser reduzido ao emprego, a relação formal de subordinação do trabalho ao capital. Trabalho é algo que não depende da economia. O que depende da economia é emprego. O trabalho não atende só necessidades imediatas, mas realiza satisfações, posiciona inovadoramente o indivíduo diante da natureza, do mundo e do seu grupo, pois implica na faculdade transformadora de se constituir humanamente. Trabalho não é só valor econômico. A utilidade e importância de diversos trabalhos não estão no preço, nem no lucro, mas é satisfação emotiva de realização, coisa que não é possível mensurar. 

 SEM PROPOSTAS - ELEIÇÃO PRESIDENCIAL 2022 O que tem movido os eleitores brasileiro diante das candidaturas à presidência da República este ...