O que Décio fazia é muito distante do que a grande imprensa faz no Brasil inteiro? Alguém já se perguntou como só uma emissora ou só um jornal pode noticiar material de escuta, além de apresentar tantas outras coisas com exclusividade? É tudo trabalho ético e sem parcerias? Alguém nunca viu em blogues de jornalistas nacionalmente conhecidos ataques sistemáticos e direcionados a uma determinada pessoa, partido político e entidade? Essa fórmula não é uma exclusividade do falecido jornalista. Fórmula também presente nas rádios e televisões. Se esse não é o jornalismo ideal ou desejado, trata-se de uma outra questão.
Choca a covardia praticada contra Décio, no pós-morte . Agora, sem que a parte possa se defender, uns perfeitos seres de boa índole aparecem para desqualificar o jornalista, em puro exercício de mágoa. O que Décio escreveu e na forma como escreveu, sem dúvida, gerou ressentimentos... Alguns ataques eram de antipatias pessoais, mas comuns à vida cotidiana e genericamente praticados por qualquer sujeito social... É bom lembrar que alguns comentários publicados no blogue do Décio eram direcionados contra o próprio Décio e de forma desqualificadora, outros reforçavam o tom do que ele dizia. Era só ele?
Quem não tem algum desafeto? Ora, não se trata de querer privar a mágoa de ninguém. Cada um sabe o tamanho de sua dor ou onde o sapato aperta. Mas há o que se separar. A questão é que o blogue, enquanto página pessoal, não era estritamente um jornal ou página só de notícias e do “puro” exercício de jornalismo. Outros blogues de jornalistas maranhenses também não estão restritos ao que seria propriamente jornalismo. Por lá Décio também expressava sua paixões de torcedor, de seu vínculo político etc. O que temos que tratar agora? É do julgamento ético/moral do jornalismo que ele praticava? Exato nesse momento, e sem o direito ao contraditório? Ou devemos tratar de um assassinato cruel e da expansão escancarada da violência?
Não se trata só da morte de Décio, pois podia ser qualquer um outro cidadão, como vem ocorrendo sistematicamente junto aos quilombolas, líderes comunitários etc., e que merecem igualmente receber nossa solidariedade... trata-se, no entanto, de um estado de insegurança e de uma intensificação da violência promovida pela “indústria do assassinato”. Coisas intoleráveis e que ferem uma das condições de vida digna, independentemente de gostar ou não da maneira como Décio noticiava os fatos ou supostos fatos.
Não há dúvidas que a morte de Décio ganhou repercussão que os outros casos similares não ganharam. Mas por ser um jornalista importante e próximo do grupo político dominante invalida nossa preocupação com a violência e o terror desencadeado pela “empresa da morte”? Repudiar a violência e o terror implantado pela pistolagem é ou não é uma causa digna dos vivos?
O que está em questão são as nossas vidas, não é um julgamento para beatificação ou não do morto. A apuração e punição dos culpados é, antes de tudo, uma justiça para nós, para reafirmamos valores que devem balizar a sociedade que desejamos viver: de Paz e Justiça.