É
recorrente, entre humanos, buscar recursos de simplificação que possam ajudar no
processamento de equações do tempo, do espaço, do lugar, das situações, dos fenômenos
etc. O dualismo é um desses recursos e, talvez, o mais operativo.
O
exercício comparativo e percepção de similaridades são as chaves propulsoras do
sucesso da simplificação dualista. No entanto, não nenhuma simplificação
simples, por mais simplificador que possa ser seu resultado.
A
composição, organização e inserção do Partido dos Trabalhadores (PT) no
contexto político maranhense são recorrentemente pensadas e alisadas sob o
recurso da simplificação. Ora, a utilidade desse recurso repousa sobre um leque
enorme de fins e interesses. Exemplo: simplificar para camuflar, dissimular,
iludir, racionalizar tendências etc.
1-
A aliança PT/Sarney
é, antes de tudo, uma criação do comando nacional do partido. Tudo em
conformidade com a lógica partidária predominante em torno da disputa do poder
político, pela via eleitoral. Onde a justificação é toda montada na condição de
governabilidade e de um “projeto nacional”.
2-
O PT no Maranhão não
se reduz aos senhores Dutra e Washington, mas são os dois que monopolizam a guerra
intestinal do partido, sendo também os maiores coletores dos frutos dessa lide.
3-
A classificação entre
sarno-petismo e resistência mais esconde do que revela. Trata-se de
simplificação para alimentar ocultações.
4-
NO SARNO-PETISMO TEM
UMA ENORME VARIAÇÃO. CITO ALGUMAS:
a- Operacionais - vão para onde o partido mandar, ordenam suas vidas a
partir do partido e atuam como funcionários;
b- Boss-políticos - (empresários, religiosos, marqueteiros etc.) pessoas de negócios, vivem da política, a convicção
muda conforme as oportunidades do mercado político, entram e saem do partido movidos pelo montante de vantagens;
c- Desterrados-de-jackson
- aqueles que não barganharam
nada no governo da libertação e estavam buscando uma oportunidade de vingança;
d- Piratas - estão sempre atrás de tesouros e têm um olho escondido por trás do
pano preto. Ficam jogando nos bastidores com suas peças preferenciais:
chantagem e traição. Vivem do partido e seu foco é ascender socialmente de uma
forma fácil. Flertam e fazem gestos tentadores para a Resistência sempre que
querem arrancar mais alguma coisa do núcleo central do sarno-petismo.
e- “Inexplicáveis” – são aqueles enquadrados na teorização lobatiana: “Aquilo
que não se explica ou é C..., D... ou P....”.
f- Ex-órfãos de Jackson - participaram do governo da "libertação" e ficaram VICIADOS nas benesses do poder e da boa vida palaciana. Descobriram o brilho da "carreira" de cargo comissionado e querem a todo custo se manter nisso. A doce vida.
5 – A RESISTÊNCIA TAMBÉM TEM INÚMERAS VARIAÇÕES. DESTACO:
a- Dutra - o Guerreiro de Saco das Almas, trata-se de uma
personagem constituída e mantida no embate frontal com o sarneísmo, tem a
hegemonia e preferência do nicho eleitoral constituído pelos anti-Sarney. Ele tem vida
eleitoral-política própria, seu fãs o adoram independente de partido. Ele é por ele e se auto-traduz;
b- Devocionários - existe um PT que só eles veem, fruto de uma crença, de uma paixão total. Mas é uma entidade ideal que é projetada na realidade na forma de uma miopia intensa. Só eles conseguem experimentar essa realidade fora da realidade. Em alguns, isso se manifesta como uma mistura de transe e delírio. São
incapazes de encarrar o PT que existe na realidade política do país e no
governo. Até hoje não admitem que foi Lula que procurou Sarney, que a aliança
Sarney-PT, antes de chegar no Maranhão já era uma realidade polpuda no plano
nacional – o Maranhão não é nacional. Não admitem que essa aliança nacional impôs
uma humilhação ao petismo maranhense, além de priorizar e favorecer a continuidade
do mandonismo sarneysista. Levam porrada direto, mas são incapaz de tecer
críticas ao partido. A culpa toda é de Sarney ou Washington. Tudo se justifica
pelo projeto nacional ou tendência;
c- Dutristas – várias frações e grupos com certa autonomia, mas que
gravitam em torno de Dutra, sempre acompanham os lances e ações dele para se
posicionarem. Alguns são dependentes políticos do guerreiro;
d- Caos-petismo – são castelistas envergonhados, que fazem uma política
de inserção no ninho tucano de forma camuflada. Estão na resistência fazendo teatro,
gente que só quer uma certificação de ter lutado contra Washington/Sarney. Isso
para depois justificar, em nome do anti-sarneísmo, sua adesão ao tucanato castelista. Querem encobrir
com o anti-sarneísmo a condição neoliberal e de extrema-direita de Castelo. Tudo justificado pela luta contra Sarney;
e- Revoltados
masoquistas – não aceitam aliança com
os Sarney, fazem críticas abertas ao partido, não encontram mais coerência
entre o discurso e a prática partidária. São indivíduos que não sentem mais identificação
com o partido, mas permanecem no partido como uma forma de autopunição, autoflagelação;
f- Órfãos de Jackson - aqueles que tinham um espaço comissionado no governo da "libertação". Uns estão tentando achar uma posição sem a luz das benesses do poder. Outros agem em busca da recuperação. Ficaram traumatizados com a cassação e ainda não se encontraram no espaço tempo da política, gente magoada;
g- Resistentes – são os que propriamente compõem a resistência. Assumem críticas ao partido, lutam por ampliação de espaço dentro do partido e apostam em uma retorna de foco do projeto partidário
pela via democrática, progressista e popular. Não fazem concessões à direita
política. São pessoas com serviços prestados ao partido. Não vivem da política nem
do partido. Vivem para a política e para o partido. Acreditam na Política como
espaço humanizado e humanizador. São opositores firmes ao sarneísmo, sem farsas
nem proveitos pessoais. Mas é uma minoria política e numérica.
É óbvio que estamos diante
de uma tipificação incompleta, muito aquém da variedade existe na realidade. Coloco em destaque, para melhor
entendimento, que cada tipo desses pode estar combinado a tantos outros tipos.
No corpo de um operacional sempre cabe um pirata e vice-versa.
No entanto, a visão dualista
corrente é muito estreita e contorcionista, particularmente ao tratar da aliança
PT-Sarney, tanto no que tange a autoria como sua abrangência e consequência.
Por outro lado, é sempre bom
frisar que anti-sarneísmo não é atestado de idoneidade moral, nem de competência.
O anti-sarneísmo tem sido utilizado como guarda-chuva sob o qual diversos tipos
venais estão escondidos. Somo a isso a malandragem enganadora de justificar
apoio a Castelo em nome do anti-sarneísmo. Não há nenhuma coerência nisso, e
petista que é oposição aos Sarney não pode apoiar Castelo, pois não estaria
fazendo um voto melhor, mas um voto muito pior, pois esse senhor é um
subproduto, um resíduo político tóxico do mandonismo sarneysista.
Superar o mandonismo
saneísta é derrotar e remover da arena político-partidária seu núcleo e todas
as suas crias malévolas. Não superação sem traumas. Todo parto é um fato-dor..
por mais belo que possa ser o nascimento!