Dados não faltam para constatar o resultado desse longo domínio político de José Sarney. No entanto, afirmar que ele seja 100% responsável por todas as mazelas que vive o Maranhão é puro artifício ideológico. Discurso performático e para distrair plateia desavisada. Não é 100% responsável por tudo defeituoso que existe no Maranhão. Só se fosse onipotente e onisciente. Que oposição coloca um indivíduo humano como Deus? Tem uma parte real e inegável de descaminhos e desacertos provocados por esse longevo domínio, existem fatos indefensáveis, mas outra parte é pura ficção eleitoreira. Jogo de cena para barganhar voto e popularidade.
Basta ver as mudanças ocorridas no Estado brasileiro, o processo de descentralização ocorrido nos últimos anos e tal municipalização dos serviços, federalismo fiscal, os repasses diretos etc. O que está acontecendo nos municípios de aliados ou não aliados políticos de José Sarney?
Ocorre que, nos últimos anos, pessoas inteligentes deixaram de pensar de forma crítica e enveredaram pelo exercício de um pensamento puramente passional, parcial e pautado no ódio ou no desejo de vingança. Cada um sabe onde o sapato aperta. Também não devemos pretender tirar dessas pessoas seu "direito" ao ódio. Porém, isso não é a oposição propriamente política. Não é fazer verdadeiramente uma política de superação dessa situação ruim que vivemos. A doença de Sarney está provando que sofremos de inúmeras doença graves, entre elas a doença da falta de um contraponto comprovado de densidade moral significativamente diferenciada. Isso precisa ser comprovado, particularmente se algum grupo de oposição assumir o poder. Essa comprovação não foi efetivada no breve governo da libertação.
Nos últimos dias e, particularmente ontem, vi em diversos perfis de Facebook e em blogues posteres extremamente bizarros, onde anunciavam a morte do senador sem qualquer cometimento, muitos recheadas rancor. Quem não gosta do que está aí precisa é mostrar uma postura diferenciada.
Ora, quem não morre? Só na bíblia encontramos pessoas que não morreram, caso de Elias que foi arrebatado... tem mais uma personagem bíblica que não experimentou a morte (não recordo quem é no momento). Que vitória política é essa pautada no óbito? Isso é um atestado de incompetência, pois atesta que para ganhar é preciso que o outro não exista. Isto é, faz-se necessário não ter competidor. Moral: se ele continuar existindo, nós, na nossa infinita incapacidade de vencer, continuaremos perdendo politicamente.
Isso prova que, entre tantas desgraças que temos, vivemos uma muito grave: a Política. O que esperar desses contras da apologia do óbito quando estiverem no poder? Esperar tolerância? Falta de projeto e falta de densidade moral mais qualificada é o que representa essas aberrações espalhadas pela internet. Isso é ódio, não é convicção política. Chega de tanta miséria!!!
Saber diferenciar os momentos não obriga ninguém a gostar e nem a se aliar. Ninguém é obrigado a gostar. Saber ter sabedoria e visão de contexto é uma necessidade da vida.
Quando o senhor João Castelo adoeceu, na época era prefeito de São Luís, também vi muitos desses posteres bizarros difundidos pela internet, sempre desejando o pior para ele. Fiz um post desejando saúde para o senhor Castelo e pedindo que ele voltasse logo, pois queria tirá-lo pelo voto, não pelo óbito.
A biografia de José Sarney está encerrada, morrer hoje, amanhã ou mais adiante, não vai alterar mais significativamente o que ele foi enquanto político e pessoa. Se ele ainda vai ser candidato ou não e se vai perder ou ganhar as próximas eleições diz muito mais respeito à biografia dos outros do que da dele. Vai significar muito mais para a biografia dos opositores e aliados, do que par a sua. José Sarney já tem 83 anos...
O que está em aberto e pode ter resultado significativo é o julgamento histórico. Que não se completou porque ele permanece como representante de um tipo de dominação política - com características mandonistas e oligárquicas. Todos os esforços do senador de provar, argumentar e ponderar a seu favor em inúmeras e sucessivas biografias, esforço inútil, pode ser alcançado com a sua saída do controle do poder político. A ausência de outros sujeitos no exercício poder, ao longo de quase 50 anos, para comparar, inviabiliza qualquer atenuação ou relativização do seu longo domínio. Não é preciso inúmeros livros biográficos, mas a chegada de outros à frente do poder para que se possa ver até onde José Sarney é ou não responsável sozinho pelos graves problemas que assolam o Maranhão inteiro. Além disso, pode ele, saindo do controle político, ver, em vida, se os seus opositores e detratores significam alguma mudança qualitativa, uma superação política do oligarquismo, mandonismo, nepotismo e falta de transparência a ele atribuída.
O julgamento histórico vai se efetivar, com ou sem óbito imediato. Somos carregados por comparações...
Essa torcida sarcástica não é Política... Política é ter competência de vencer sem precisar de óbito e fazer diferente, fazer melhor com espírito de interesse público.
Com a morte do senador Sarney os prefeitos e vereadores envolvidos com corrupção, em diversos municípios do Maranhão, vão sofrer uma transformação automática, passando todos à condição de grandes exemplos de homens públicos? Assumirão a condição de bons gestores de forma imediata? E os deputados estaduais e federais?
Ps.: Se não acordarem, PODEM até levar o executivo estadual, mas sem maioria na bancada estadual e federal... Aí vão ter quatro anos..sangrando no trono. Podem está no sentido gritante de probabilidade. Como quero o julgamento histórico, meu voto é certo na oposição.
Outro detalhe: o senador fica aí vivinho, sai todo energizado lá desse Sírio-Libanês, e resolve ser candidato a senador pelo Maranhão... Quem vai ser o adversário da oposição para vencê-lo? Tradando-se de uma eleição majoritária de maioria simples, mesmo que ele tenha 85% rejeição, ele pode barganhar uns 15% dos votos válidos. Quem acha que ele não tem simpatizantes? Se nenhum concorrente conseguir sozinho mais de 15% Sarney vence, mesmo com tanta rejeição... Quem está na Política precisa se preocupar é com isso. A morte ninguém pode prever e nem evitar. Na hora que é para ser ... é.