A realidade é dialética, contraditória, mas não necessariamente com a unidade dos contrários, tal como pensou Marx e muito mais ainda seus seguidores apóstolos. A realidade é dialética, porque também encarna paradoxos, as alteridades, o caos etc.
O Brasil é uma realidade que sempre pôs os paradigmas nos seus limites. O país foi inventado pós-moderno, fazendo-se nação fora dos tradicionais paradigmas de nacionalidade etc.,etc.
Nesse momento inaugural, quando o Estado brasileiro, na forma republicana, recebe pela primeira vez uma mulher na Chefia do Estado e na Chefia de Governo, uma presidente, o que celebra a continuidade democrática do país, presenciamos, por outro lado, um paradoxo democrático/republicano: o Maranhão sagrou a Primeira Rainha de uma “república”.
O quarto mandato da Senhora Governadora não tem mais efeito democrático, porque confirma um campo político sem alternância e esvaziado da credibilidade competitiva. Ao lado disso, avoluma-se a negação da virtude cívica quando todos os demais indivíduos são postos na condição de súditos. Aos comuns há a privação real de vida em sociedade política: sem chances de igualdade perante a lei. Negando democracia e república ao mesmo tempo.
Essa situação anti-republicana é ampliada pela existência da supra-cidadania, os cidadãos incomuns, que são imunes à ordem e intocáveis por qualquer instituição. Tamanho é o poder e mando personificado. Eles podem tudo! Qualquer ato solene é mera reverência das “autoridades"-súditas (servis voluntários) aos perpétuos donos do poder.
O Maranhão é um estado privado familiar. Somos inquilinos, ou melhor, sou um inquilino! A primeira, a segunda, a terceira, a quarta e outras posses que possam existir, não terão mais essência pública enquanto a “política” for apenas uma formalidade e o mando (formalmente regulado ou não) for privativamente deles. Sendo assim, todos os seus governos serão os melhores para as vidas Deles! Só para as Deles!