Não há nada de extraordinário na renúncia de Bento XVI a não ser os séculos que separam essa renúncia à última renúncia. O que mais mexe é a concorrência religiosa, onde a falta de escrúpulo de alguns homens de fé religiosa e ala ateia fascista ignoram propositalmente o óbvio: o papa é um indivíduo da espécie humana. Do mesmo modo toda a Igreja Católica é composta de indivíduos humanos e não de alienígenas.
O absurdo de algumas críticas e comentários chegam a ser cretinos, principalmente quando alguns deixam propositalmente o bom senso e a responsabilidade para enveredar pela sordidez.
Sabedoria é recomendada o tempo todo ao homem de fé ao que quer crer. O Conhecimento sempre possuiu uma multiplicidade de vias, ditas de conhecimentos, entre eles o conhecimento religioso e o conhecimento científico. Só por muita ignorância ou má fé alguém pode negar diversos avanços do conhecimento sem a utilização da Razão ocidentalizada, una, única e superior. Há tempos essa unicidade raciológica assumiu o papel do rei nu.
Muitos fingem o esquecimento para provocar o sensacionalismo, durante o papado de João Paulo II o fim da vitaliciedade do cargo foi cogitada e tinha o apoio do papa, a tese foi vencida no âmbito da cúpula eclesiástica e João Paulo II não aceitava a renúncia. O fim da vitaliciedade abriria mais uma porta para o papa ser substituído ainda em vida, além da possibilidade da renúncia. A permanência de João Paulo II tinha um componente fortíssimo além de suas convicções em torno da renúncia e que o forçava a permanecer: sua altíssima e crescente popularidade.
Bento não goza da mesma popularidade, é certo, mas os longos anos presidindo a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), de 1981 até 2005, conferiu-lhe extrema força de articulação e decisão. Acabou sendo uma espécie de vice-Papa. Sua capacidade de fazer respeitar a sua decisão parece não caber dúvidas e seu lastro de influências garantiram sem tumultos a sua decisão.
A escolha pela renúncia não se aplica ao embate de fé e razão, que em boa parte é um falso embate, uma cisão que segue um grande artificialismo em diversos pontos.
Bento XVI fez o que a serenidade e a sabedoria propiciam aos homens de conhecimento: discernimento. Com sua decisão, ao contrário de cindir, muito mais uniu a fé a uma ação-cálculo, ratio.
Quanto Bento foi eleito papa perguntei a amigo religioso: Por que elegeram esse homem tão velho? Ele me respondeu o seguinte: "Por isso mesmo, vai morrer logo!" Dessa engenharia e cálculo eu não sei explicar.
Bento foi um dos maiores intelectuais da igreja a ocupar o Ministério papal, exegeta de primeira ordem, seu livro Jesus de Nazaré, editora Planeta, 2007, é marca significativa da sua qualidade de teólogo. A Igreja segue una, santa e pecadora. "Somos o fermento do Pão". Sempre.