Umas das grandes lições de Max Weber é apontar a constância do poder perpassando todas as instâncias sociais, a sociedade como um todo.
Hoje se estuda aspectos dos aspectos micro-micro do simbólico, das representações etc e tal. Mas desde quando as relações acontecem distantes das normas, das relações de poder, como bem lembra Giddens? O poder mesmo quando consentido, aceito e desejado (legitimado - autoridade) permanece enquanto relação assimétrica. Condicionamento, direcionamento, prevalecia de vontade existem.
Há no poder não só um dimensão cênica e performática ressaltado por Balandier. Certa vez, em uma entrevista, o saudoso Brizola indagado sobre o poder ele disse: "A possibilidade de fazimento". Bem, essa possibilidade de fazer pode ter desdobramentos benéficos e catastróficos. É sempre a parte mais desejada do exercício poder.
Porém, o poder tem algo mais que o fazer, algo que o tira da condição de meio para realizar e o coloca com um fim em si mesmo. Isso ocorre quando agentes entram em um estágio de entorpecimento. Chaplin com uma riqueza estética cinematográfica mostra bem esse estado de entorpecimento no filme O Grande Ditador. O poder vira um vício, desejo e prazer entram em fusão e delírio e realidade em confusão. O indivíduo não tem mais nada a fazer a não ser atos de acúmulo, de manutenção e culto ao poder. Puro gozo e sacralização do poder através de imagens e performances. Nesse momento extremismo emocional suas crenças e ideias ficam reduzidas aos delírios em torno do poder. Nesse estado entorpecido o indivíduo passa a pensar que ele sozinho é o poder e reduz a Política ao poder. Reduzir a Política à dimensão exclusiva do poder possui dois desdobramentos: matar a Política ou morrer.
A teocracia é mais doente, perversa e perigosa manifestação de exercício de poder. A ritualização extremada da ordem, do mando e o apelo a uma superioridade supra-humana sempre resulta em flagelo para a humanidade. Evocar o Divino e converter a crença amorosa em servidão, em cegueira e ações de total inconsequência é uma arma alta destruição. Esse surto conservador/fundamentalista emergente no Brasil, onde valores de República e Democracia são desconsiderados em nome de orientações de cunho inspiracionista e supostas revelações é um ovo de serpente. Essa onda de políticos não se apresentarem como simples cidadãos e homens públicos, mas por postos de sua denominação religiosa é marca de facciosismo e corporativismos que tendem a subjugar o interesse geral e a vontade geral.
Minha ojeriza por teocracia tem dois fundamentos um político e outro religioso. Político: a laicidade está na raiz da política. Convicções democráticas e republicanas não me permitem ter afeição a teocracias. Religioso: como cristão não quero que o reino de Deus seja contrária a própria vontade Dele que disse: "Meu Reino não é desse mundo". "Dai a César (poder temporal) o que é de César (o que pertence ao poder temporal)."
2016 se aproxima e é preciso reclamar o exercício do voto por cidadania e não por vínculo a irmandades e por obediência de fé religiosa, é preciso defender um Estado laico.