Uma dos fantasma brasileiros é a qualidade da Educação. A importância do professor no processo educacional ainda é significativa, mas nem por isso há um verdadeiro reconhecimento profissional.
A docência nunca fez parte das políticas de Estado e enquanto política pública é uma sucessão de improvisos e paliativos. O descaso é tamanho que não há uma política salarial e quase todo ano os professores precisam recorrer às greves para ter simplesmente reajuste, diante de perdas reais do seu poder aquisitivo. O descaso é tamanho que nunca os reajuste e revisão dos salários dos professores entram no planejamento e gestão dos recursos como algo prioritário e permanente.
Eu comecei a lecionar no ano de 1995 como professor substituto da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, apoós aprovação em um processo seletivo simplificado. Logo depois comecei a lecionar na Universidade Ceuma e, em 2003, através de Concurso Público adquirir a condição de professor efetivo do magistério superior na Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Não são poucos anos de exercício de ofício e isso é o que faz ter conteúdo para algumas considerações que farei sobre esse dia 15 de outubro de 2016.
Uma observação: sou sociólogo e nunca deixei de ser em aula alguma. Isso, obviamente, tem implicações sobre como vejo, analiso, critico e interpreto o processo educativo e o modelo educacional.
A ortodoxia e conservadorismo são duas pragas terríveis sobre a Educação formal brasileira. Todas estão vinculadas a posturas ideológicas inflexíveis de direita ou dita de esquerda. Além disso, ambas são patrocinadoras da "obrigatoriedade" e muito avessas à autonomia do ensino, da escola e ao livre pensamento.
O caso Paulo Freire. Não faço parte da turba que queimar tudo de Paulo Freire porque representa um pensamento de esquerda. Não suporto fascismo nenhum, seja de direita ou de esquerda. Freire tem sua contribuição assim como tantos outros, mas há uma problema: a mística e a doutrina criada em torno do seu pensamento. Virou dogma, algo a temporal e autoexplicativo. Isto é, perdeu o mínimo de face acadêmica e entrou no campo religioso do dogma. O que é de natureza acadêmica está passível a ser superado, tem sempre limitações e está sujeito a adequações diante do tempo que muda produzindo novas necessidades. Isso precisa ser superado urgentemente.
Outra praga perigosa é a visual mistificado do professor que produz essa guloseima demagógica em torno da profissão escudada em uma ideologia perversão da vocação. No fundo só serve para neblinar a os direitos profissionais negados e a injustiça salarial quanto à categoria. É pura hipocrisia dos que não respeitam o valor do trabalho do professor. Sempre no dia 15 de outubro essa lai de descompromissados recorrem ao mesmo discurso de que tem que "ter vocação, devoção, é um sacerdócio". Isto é, ser capaz de qualquer sacrifício mesmo diante da ultrajante usurpação e negação de seus direitos de cidadão e trabalhador. Mais que isso, um imbecil útil capaz de renunciar sua dignidade em prol do ensino. Professor tem que ser é útil, eficaz na formação e consciente que tem direito a um salário proporcional ao seu esforço e qualificação. Escola não é família, professor não é parente; escola é escola e professor é só professor. A tarefa da escola é o ensino formal, técnico e científico em primeiro plano. O professor é um professor que tem que ter técnicas, habilidades, competência e domínio do que deve ensinar. Precisa receber salários dignos e correspondente à complexidade do nível de ensino que pratica.
A carreira de professor é hoje a que mais tem desistência, evasão de profissionais, uma com maiores índices de insatisfação com os salários e com as condições de trabalho. Índices preocupantes de doenças de ordem psicológica como a depressão, ansiedade etc.
Hoje no Brasil não existe nenhuma carreira com maior exigência de produtividade e volume de títulos e com tal nível salarial. Basta comparar com os salários iniciais de várias outras carreiras (muitos já buscaram equiparação: ministério público, justiça, delegados, defensor público, advogado da união, procuradores etc). Não existe uma referência de equipação a um minimo de decência em termos salariais. Deveria existir uma equiparação no nível do Professor Adjunto válido nacionalmente, mesmo que service de teto, mas que existisse. Algo que sinalizasse uma remuneração equivalente à qualificação exigida.
A qualidade do ensino passa pelo professor, mas ele não é milagreiro. Esse modelo foi construído para aumentar a lucratividade das editoras de livro didáticos, um esquema que articula agentes políticos e empresários da educação. Essa quantidade de aulas, esse número exorbitante de disciplinas é surrealismo puro. Temos que acabar com essa ideia que todas as disciplinas tem que estar como obrigatórias.
O que tem que existir obrigatoriamente é uma matriz curricular nacional mínima mesmo. Com um conteúdo enxuto e focado no que é mais essencial. Fora isso é deixar as escolas terem autonomia e exigir que elas ofereçam múltiplas conteúdos e práticas que fique a critério da escolha dos alunos: música, esportes etc.
Mudar essa forma de avaliação é uma necessidade.
É preciso tirar os professores desse sacrifício de dar cinco, seis disciplinas diferentes. É um absurdo o que fazem com os professores do ensino fundamental. Isso sim é desejar um feliz dia dos professores e não essa demagogia barata com essa ideologia para conformar os professores ao auto-desrespeito.
Certamente existem outras questões muito pertinentes a serem. Existem sim. Eu também tenho algo para dizer além do já dito: Foda-se guloseima ideológica! Sou profissional e quero ter bom salário tal qual os políticos!