Não há como negar que o PT e PSDB contribuíram decisivamente para esse enraizamento e essa forte influência do PMDB no centro do poder político na atualidade. A situação de governabilidade e estabilidade política ficaram sob o contingenciamento excessivo do PMDB, tudo graças ao par: PT e PSDB. Os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, os dois governos de Lula e um de Dilma tornaram a funcionamento da gestão pública e a estrutura do Estado minada pelo peso e o ônus do apoio do PMDB, partido que opera com sua enorme bancada e um conjunto de partidos nanicos (todos fisiológicos e motivados por corporativismos), que gravitam em torno do gigante (órbitas) para impulsionarem suas forças de barganha.
Essa situação alcançou esse nível porque PT e PSDB levaram ao extremo uma "diferenciação" e "confrontamento acirrado" artificiais criados pelo marketing eleitoral. Esse afastamento forçado e exagerado minou, no campo político, a força de atração mais para a posição de centro-esquerda. Isso criou uma abertura no plano político que potencializou mais as forças de direita e de extrema direita (a extrema permaneceu incipiente no sistema político, já que muitos ficaram imobilizado na postura anti-sistêmica sem resultado). Não só isso, essa postura extrema de rivalização fez emergir forças conservadoras de tipo reacionário, religiosidade fundamentalista anti-laicismo que vão de encontro aos ideários democrático e republicano.
Esse artificialismo de confronto e afastamento exagerado foram, para ser exato, atos irresponsáveis, pois inviabilizou um aglutinamento de forças mais democráticas como as de centro-esquerda, liberais democratas e social-democratas. Essa aposta egoísta de ambos: PT e PSDB, contribuiu para frear o processo de avanço da democracia que vinha ganhando volume com a derrocada da ditadura. PT e PSDB não serviram à radicalização da democracia, pelo contrário, direcionaram o campo político para as velhas forças do conservadorismo reacionário tomassem mais espaço e mais força no sistema político. Dessa forma, abortaram o curso do movimento por mais democracia que pôs fim à ditadura e que tinha vínculo orgânico com setores populares e que defendia uma agenda progressista, de justiça social e liberdades. O PT e PSDB traíram as expectativas de renovação política quando fizeram alianças sem pressupostos, sem parâmetros republicanos mínimos e, para piorar, sem maiores compromissos em alargar a democracia.
O PMDB e as forças anti-democráticas, conservadoras-reacionárias, que crescem nesse período dos governos PT/PSDB, foram beneficiadas, nesse pós-1985, pela opção "política" do PT e do PSDB. Esses partidos assumiram projetos de poder que recusavam composições políticas mais estratégicas visando o fortalecimento de um compromisso democrático e social com o país.
Não é um absurdo uma aproximação do PT com o PSDB, desde que fundada em um projeto em defesa do interesse público e nacional. Seria, para ambos, uma desoneração política e eleitoral, além de produzir melhores condições de formar alianças. Em um aprofundamento de crise a continuidade dessa disjunção exagerada coloca sob risco e no mesmo patamar os dois partidos. Essa articulação não é mescla, não é fusão, mas uma aproximação responsável pelo Brasil, em defesa da democracia e da república. O problema é saber se no PT e no PSDB ainda resta algum espírito público e gente com compromisso político com o Brasil.