Antes das manifestações crescerem em São Paulo e ganharem forma no restante do Brasil, ocorreu um alarde que produziu diversos alertas sobre as insatisfações e indignações que vão crescendo entre diversos segmentos sociais brasileiros.
Os tumultos ocorridos nas agências da Caixa Econômica produzidos por dois boatos, um dizendo que estavam pagando um bônus do Dia das Mães e o segundo que o Bolsa Família ia acabar. Isso foi suficiente para levar uma massa de beneficiados pelo programa a procurarem casas lotéricas e agências bancárias para fazerem saques. Esse alarde envolvendo o Bolsa Família foi promovido por quem? O que produziu isso? Surgiu uma investigação da Polícia Federal sobre o caso. Qual o resultado de tal investigação? Nada. Isto é, não chegaram a identificar nenhum responsável. Porém, diretores da própria Caixa, em diversas entrevistas, afirmaram que a Caixa tinha feito uma antecipação, um procedimento não comum etc. Moral da história: o que os diretores falaram não coincidiu com as suspeitas e versões dos membros do governo e do PT. Ficaram as interrogações: a quem interessa explorar o medo usando como causa o fim do programa Bolsa Família? Em ano pré-eleitoral quem lucra assustando as massas atreladas ao Bolsa Família? Os que pretendem se beneficiar com o medo são os que estão no poder ou os que pretendem assumir o poder?
O alvoroço produzido pelos boatos fez emergir vozes e uma delas ganhou muito destaque, a ponto de ser reproduzida pelas redes sociais. Trata-se das declarações de uma senhora inscrita no Programa Bolsa Família, quando entrevistada por uma emissora de televisão. No seu pronunciamento ela criou um dado significativo para pensarmos o potencial das indignações e dos protestos que ocorrem no Brasil atualmente. As declarações dadas por essa senhora está servindo, até agora, para produzir piadas e, em parte, para produzir espanto em setores das classes médias, mas se pensado com mais cuidado e atenção ele é um grande alerta. Vejamos o que disse a senhora:
"Estou com mais de oito anos que recebo Bolsa Família. Não está dando nem para comprar um calça para minha filha. Uma calça para uma jovem de dezesseis anos é mais de trezentos reais.Meu dinheiro nunca aumentou... "
Ora, esse entendimento e sentimento dessa senhora tem muito potencial de não ser um caso isolado e nele encontramos vários indicativos que exigem reflexões e questionamentos. É nítida sua insatisfação, tendo em vista que seu tempo de permanência no programa já contabiliza mais de oito anos e seu dinheiro nunca aumentou. Não teve aumento e o valor que recebe não está sendo suficiente para manter seu poder aquisitivo, o que pode ser uma revelação sobre os efeitos da inflação. Como pode também estar evidenciando uma frustração em não conseguir atingir um patamar de consumo mais elevado após oito anos recebendo bolsa família. Vejam com há um foco no consumo.
A partir disso podemos formular algumas questões:
- Está com mais de oito anos recebendo bolsa família e quantos anos mais vai permanecer no programa recebendo esse auxílio?
- Quase uma década em um programa desse tipo não reflete um certo imobilismo? Ou o programa é falho em aferir quem já superou essa extrema necessidade? Ou o programa, mesmo constatando que a situação econômica do beneficiado melhorou o mantém no programa por questões eleitorais? Ou, o que pior, existem pessoas inscritas indevidamente por força de articulações eleitorais?
Tudo isso precisa ser devidamente averiguado.
Os líderes do PT estão em uma cama de confiabilidade de forma cega e surda. A movimentação massiva e instantânea que ocorreu por força dos boatos demonstra o quanto esses segmentos sociais têm potencial de reação e que nem tudo são flores. Necessidades brotam, sempre há alguma coisa faltando e nem todos estão satisfeitos com as coisas que o programa está proporcionando em termos de consumo. Quem pode ser contra alguém querer algo melhor? Por que não uma calça de trezentos reais?
Para os que insistem em desqualificar ou taxar essas manifestações atuais de classe média juvenil... é bom pensar sobre os índices de aprovação aferidos pelo Datafolha, onde 81% dos entrevistados (4.717) aprovaram as manifestações. Somente 15% disseram ser contrários aos protestos. A pesquisa atingiu 196 cidades brasileiras. Será que aplicaram os questionários somente entre as classes médias? Ou tem mais classes declarando apoio?
Se as manifestações "só" por vinte centavos já produziu sérios desconforto aos poderosos, imaginem quando elas forem "só" por uma calça de trezentos reais.
Muitos estão preocupados em saber quando essas manifestações vão parar. Porém, seria mais prudente pensar quando esses protestos retornarão e de que forma.