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Se todos os indivíduos socializados da espécie humana parassem e, em silêncio, recobrasse todos os seus momentos de vivência social (na dimensão mais objetiva) e experiência de vida (na dimensão mais simbólica e subjetiva) encontraria vários nós explicativos, falta de sentido e direcionamento. Não só isso, calmo e racionalmente recuperando os fatos selecionados da memória, estabeleceria diversos outros parâmetros de julgamento e avaliação de seus atos. Os erros, em parte seriam relativizados, em parte abolidos, mas sempre, parece ser, haverá um erro residual, persistente na memória como uma auto-condenação. Será que é possível ao ser social se despir de todas as suas culpas ou de ser seu próprio juiz? Qual ser social não traz uma porção de controle, restrições e normas ensinadas desde os primeiros instantes de vida? Em geral, em média, do que é ser convencionalmente normal, isso é uma impossibilidade social. Se é uma possibilidade da existência física individualizada, ela não consegue ser também social. Porque na existência social os elementos da vida são transacionados continuamente, o próprio uso da linguagem abre um campo de concorrência entre o que o ser representa e significa no discurso que se estabelece no coletivo. Você se faz o não-juiz de si, mas os outros tentam sempre reconstruir o juiz que você deve ser de si enquanto imagem da vontade do permitido e valorado pelo coletivo. Os erros assim seguem uma cronologia que nem sempre segue a vontade particular do indivíduo na sua classificação individualizada. O sentido do erro teria uma independência significativa no que diz do eu humano, nunca liberto do nós? Em qual medida e condição do real? Tomaria alguma forma perceptível e tangível na realidade? Há um erro estritamente construído pelo indivíduo e totalmente particularíssimo, só sendo erro para ele? Subjetivamente é possível o indivíduo tomar como errada uma ação sem que esse tipo de ação integre o rol das ações repudiadas ou indesejadas pelo coletivo. Também pode estabelecer uma cronologia que desconsidere o tempo físico e social. Porém, o termômetro da sua conduta não fica preso somente a ele, quando ele está vivendo em sociedade. A sociedade sempre fixa um termômetro para a conduta de cada indivíduo que pode estar ou não sincronizado com o que o indivíduo criou para si. Enquanto termômetro subjetivamente utilizado exclusivamente pelo indivíduo só pode ter suas marcações através de um discurso e interpretativo desse indivíduo, o termômetro fixado pela sociedade é possível ser interpretado publicamente, em um ou vários discursos, tendo como fundo um código social de delimitação do permito e do proibido, do certo e do errado. Todo código de dimensão social só existe com um mínimo consenso, seja qual for o ato ou motivação que lhe deu origem. Qual a utilidade da cronologia dos erros? É útil para ordenar a própria avaliação. De si para si vendo que fez e o que não faz mais, avaliando-se positivamente ou negativamente (o reconhecer oculto). Recorrer à pontuação do tempo para atenuar ou anular a culpa, pondo o que poderia ser e que não poderia ser avaliado em um certo período tempo. A culpa não poderia ser cobrada em um momento que o indivíduo gozava de total inocência. Podendo ainda ser atenuado ou diluído o sentido do erro através da evocação ao desconhecimento, à falha de percepção, à desinformação etc. O erro será cronologicamente constituído nos limites da individualidade e da coletividade. O erro em qualquer condição precisa de significado e de avaliador. (Depois continuo)