Durante todo período eleitoral postei no Twitter alertando para a tal maioria da base de apoio do que seria o governo Dilma.
Questionava se quem tem esse tipo maioria deve se sentir confortável ou preocupado.
Questionava se quem tem esse tipo maioria deve se sentir confortável ou preocupado.
A questão era, resumidamente, Dilma ia ficar massivamente apoiada ou ficar na condição de refém dessa base.
Ainda no período pré-eleitoral, Ciro Gomes diagnosticou, sem rodeios, o PMDB e seus líderes. Apesar do esforço para acalmar os ânimos na base aliada, Ciro não retirou suas palavras.
Dilma Presidente com um vice do PMDB formou o cenário perfeito para as ambições de todo o eixo fisiológico, mandonista e oligárquico que controla o Congresso Nacional. Todas essas facções viram nessa combinação a chance maximizarem a realização dos seus instintos primitivos, desejos e ganhos junto ao poder público.
Por quê? Porque apostaram na estrema dependência dela aos partidos, já que não goza do carisma e popularidade do seu antecessor e principal mentor de sua candidatura: Lula. Mexer com Dilma não tem o mesmo perigo de reação popular. Além de apostarem na rejeição dela no seio de diversas classes médias.
Essa aposta tem início na própria formatação da candidatura Dilma quando foi anunciada como “Continuação do governo Lula, mas com avanços!”. A candidatura nascia sob a sombra da popularidade do presidente Lula.
A popularidade de Lula ficou tão alta que deixou a oposição vacilante, sem força de confronto, sem proposta concreta de novas políticas e estilo de governo diferenciado. Ficou difícil confrontar Lula, pois ele habilmente resumia tudo como se fosse uma ameaça ao patrimônio nacional e às políticas sociais voltadas para os pobres, a exemplo da Bolsa Família. Nada de diferente parecia confiável aos pobres.
O campo onde o Governo Dilma passou a existir foi composto pelos seguintes componentes: oposição vacilante, sem projeto consistente para apresentar ao povo, de um lado, e, do outro lado, uma ampla base governista fisiológica.
A fraqueza numérica/qualitativa da oposição e a dependência de um aglomerado de partidos (incluso aí o consórcio PMDB) tornam o governo Dilma vulnerável aos impulsos conspiratórios da corrupção e do autoritarismo. O ponto que favorece o Governo é a inflação ainda baixa e a economia em situação boa.
Hoje assistimos denúncias que não surgiram sob a força ampla e organizada de um movimento democrático por transparência e moralidade em torno da coisa pública. Não, não. Muito pelo contrário, cada vez mais essa forma de denúncia fica configurada como uma apropriação do mote da transparência pelos chefes da corrupção para efetivarem suas chantagens e ampliarem seus espaços na máquina estatal. Isto é, são forças operando em prol de interesses particulares e escusos, querendo acuar a Presidente, pondo-a na condição refém.
Cabe também observar que não há nenhum projeto ou proposta da oposição de reforma administrativa ampla e focada no combate sistemático à corrupção. É preciso cobrar da oposição a condição de responsabilidade que a democracia lhe confere.
Por outro lado, apesar das manifestações de repúdio da opinião pública contra os casos de corrupção, principalmente através das redes sociais, jornais e revistas, até o momento essa indignação não tomou as ruas. Ainda não assumiu a forma de movimento de massa. É preciso que essa pressão popular seja concretizada e a Presidente se coloque em sintonia com esse reclame dos cidadãos. Não deixar que a coloque como inimiga da moralidade. É preciso se antecipar. Ser sensível ao chamado do povo.
Então, cabe perguntar, quem são os provocadores dessas denúncias e qual o objetivo (?).
Desde o caso Palocci os acontecimentos trazem indícios que as denúncias surgem de dentro do próprio governo, ou melhor, de dentro dessa ampla “base governista” e até mesmo de eminencias pardas do PT. Não queremos inocentar Palocci, mas destacar os interesses outros que estão por traz dessas denúncias e que, tudo parece, não são, em nada, comprometidos com a defesa da coisa pública.
Quem está querendo se servir dela: 1- os corruptos, que querem ampliar seu mando com base na desestabilização do governo Dilma; 2- o autoritarismo golpista. O que está em ação é uma aliança corrupto-autoritária.
A desestabilização do governo Dilma, não é uma mera desestabilização do governo petista, isso é ver pequeno. Isso tem implicações maiores, que recai não só sobre a participação feminina na política, mas também sobre a continuidade da estabilidade democrática.
Basta a ver a saída arrogante do ex-Ministro da Defesa e as questões levantadas em torno do seu sucessor, Celso Amorim. A quem serve provocar uma tensão entre o governo e as Forças Armadas difundindo fofocas e intrigas? Ou dizendo de outra maneira, quem quer assumir o controle do Governo?
Não precisamos de golpe, necessitamos é de um amplo combate à corrupção, que atinja todas as esferas do Estado e da Administração Pública. O povo precisa ver mudanças na legislação que sejam capazes de acabar com a impunidade, que as penas sejam mais duras e os processos mais céleres nesse tipo de crime.
A oposição de base democrática e republicana é pequena e para piorar a outra parte é equivocada sobre o próprio Liberalismo. Essa inconsistência na oposição torna a situação favorável aos corruptos inimigos da República e da Democracia. Grande parte da oposição, por falta de projetos, acaba sendo usada em prol desses interesses obscuros. Cabe a oposição, responsavelmente, não só exigir a apuração das irregularidades, mas ir mais longe: ser propositiva e apresentar uma proposta concreta de combate à corrupção.
Cabe à Presidente Dilma entender que oposição, em regimes democráticos, não é uma concessão, mas um direito e estabelecer um diálogo direto com a mesma. Fazendo com que a oposição assuma seu papel de defensora da institucionalidade democrática.
É preciso um choque de Política no Governo Dilma. O diálogo e o compromisso com diversos setores em defesa da coisa pública e democracia não são rendição, nem humilhação é defender o Brasil dos seus inimigos. A Presidente não pode se preocupar apenas com apoios específicos, mas também com o apoio difuso. Ela tem chamar para si a responsabilidade do compromisso público de combate à corrupção.
Já fica claro que submeter o Governo inteiramente a uma lógica de manutenção do poder estritamente na ótica do partido pode inviabilizar o Governo e, consequentemente, o próprio desejo do partido.
A corrupção tem várias raízes, vários troncos, galhos e folhas (em uma botânica política), mas as que mais diretamente recaem sobre o Governo e à Administração Pública são as que estão vinculadas ao sistema eleitoral/partidário hoje existente. Todo o sistema político/eleitoral é fomentador dessa corrupção, que desde o período pré-eleitoral compromete os recursos públicos com a “lógica das campanhas”.
Vícios que se perpetuam através das coligações, dos doadores de campanha, da falta de um teto para os gastos de campanha, a falta de metas no funcionamento dos partidos, calendário eleitoral. Reforma política ampla e profunda é condição de sobrevivência e moralidade para todos os futuros governos ou a corrupção vai se institucionalizar no país.
A corrupção não é uma exclusividade desse Governo, pois em outros Governos esses mesmos partidos e essas mesmas lideranças estavam também presentes. Desde a redemocratização as denúncias de corrupção ocupam a cena política. Cabe a esse Governo responder aos problemas, contribuir com moralidade e o fortalecimento da democracia no país. Pois os inimigos da democracia tendem a associar a corrupção à vida democrática, visando por em prática seus anseios autoritários.
Os mesmos que estão fomentando dissimuladamente essa situação aparecerão depois como os mais fiéis aliados, mas como uma fatura muito mais alta para ser compensada. Esse roteiro já é conhecido.
A Presidenta necessita estabelecer diálogo direto com a oposição, emagrecer (enxugar) essa “ampla base de sustentação partidária”, pois o custo da manutenção dessa maioria está ficando muito mais alto que o custo de uma oposição mais densa. Além disso, a Presidente deve assumir diante do povo o compromisso de combater a corrupção.
Gestos concretos precisam ser feitos no sentido de melhor aparelhar a Polícia Federal e retirar empecilhos para que ela atue e cumpra seu papel legal eficazmente em todos os estados da Federação a começar pelos os estados das lideranças da base aliada.
A tese de que o nosso presidencialismo força o chefe do Executivo a formar uma mega-aliança para o país ter governabilidade é uma ideologia autoritária que, antes de tudo, concebe o espaço político sem o contraditório e a pluralidade.
A ingovernabilidade ganha forma concreta quando o governo é ruim, é impopular e incapaz de formar consensos. Não é por existir oposição. Em democracia oposição é parte oficializada e regulada do sistema, acaba sendo útil ao Governo.
Está na hora do Governo Dilma começar a ser um Governo com algo mais que ser a continuação do Governo passado. Esse parece ser o caminho para construção de uma verdadeira base ampla de sustentação.