Foto: Francisco Araujo |
O que é um louco? Será que existe uma loucura? Só há um tipo de louco?
A loucura, antes de ser convertida em patologia, possuía inúmeros significados e simbolizações. A apropriação médica a lançou em um status clínico. Disso bem fala M. Foucault, em A História da Loucura.
Durante longo tempo, da história ocidental, a loucura serviu para nomear diversas situações consideradas supra-humanas, extraordinárias etc. Mas isso não era doença, nem algo que pudesse servir para distanciar, isolar e desqualificar em absoluto uma pessoa. Tudo girava no campo do fantástico e da sedução do campo imaginário. Porém, essa percepção da loucura ou status parece ter definhado cabalmente.
No entanto, a loucura sobrevive fortemente, enquanto discurso, em um lugar não-clínico e é nele que ela assume as formas verdadeiramente perigosas e destrutivas: a ideologia. A loucura ideologizada é uma arma extremamente perigosa, pois serve exclusivamente ao propósitos de escárnio e desqualificação. Em geral, articulada com preconceitos e discriminações.
A loucura como desqualificação tem raízes profundas na nossa sociedade e reproduz as marcas de nosso ethos autoritário e da nossa cultura de intolerância ao diferente e ao contraditório. Essa arma é recorrentemente utilizada por espécies variadas de incompetentes e autoritários que, ao invés do argumento, lançam-se ao xingamento e à desqualificação de quem possa parecer uma ameaça aos seus projetos. Forma mesquinha de autoafirmação e autopromoção. No fundo... o medo de ver seu "grande brilho" ofuscado. Produto muito comum de egos doentios que, não raro, vêem-se gênios de primeira ordem.
Novamente... e estritamente falando da forma ideologizada: quem é o louco? Que sanidade ou superioridade tem quem usa de tal artifício para se sentir superior?
Observando alguns indivíduos, clinicamente dados como portadores de problemas mentais, observei que, em alguns casos, certas regularidades são exteriorizadas nessa condição de "diferença". Isto é, de alguma forma esse indivíduo monta uma ordem... Já vi vários indivíduos "loucos" que começam a recolher, prioritariamente, um determinado tipo de objeto. É muito mais que uma coleção, trata-se de um elemento edificador por excelência. Tudo pode ser construído a partir dele. Por quê? Sem um padrão como existiria a identificação do similar? Sem esses mecanismos como ele poderia encontrar tal objeto igual?
O perigo maior está naquele que com "sua sanidade" tenta desqualificar o outro para alimentar seu objeto - igual recorrente: a vaidade!
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