ELEIÇÕES 2010. PT. QUAL CAMINHO SEGUIR
Marcelo Barros*
Quais os caminhos do PT do Maranhão nas eleições de 2010? Esta pergunta tem sido o foco central do debate sobre as eleições ao governo do Estado do Maranhão.
Elaboro este texto com a intenção de contribuir no debate a ser travado no Congresso de nosso Partido, sem qualquer pretensão de passar uma verdade pré-concebida, mas lançando um olhar bem particular acerca do cenário político das eleições de 2010.
Enquanto petista, nossa avaliação do quadro nacional, sempre afinada com o campo da esquerda no Maranhão, com a aliança do PT com o PMDB na busca pela questionada, mas real, governabilidade, sempre trouxe ao PT do Maranhão, nos anos de Governo Lula, uma situação, ao menos, paradoxal.
Por um lado, a posição do PT no Estado sempre foi marcada pela oposição ferrenha ao que se constituiu como oligarquia Sarney, um reflexo do atraso político que permeia nosso cenário político desde o período da ditadura militar, após a queda de Vitorino Freire.
De outro, Sarney conseguiu adesões políticas em nível nacional, que lhe reservaram uma parcela de poder significativa na estrutura do Estado brasileiro, seja na esfera do legislativo, quanto na do executivo e do judiciário, poder que tem sido, invariavelmente, utilizado pelos sucessivos governos presidências na forma de base aliada.
Tal poder político transformou este cidadão em um verdadeiro curinga, com quem os governos constituídos no executivo federal devem, quase que necessariamente, fazer alianças. E isto não é uma assertiva solta no tempo e no espaço, vez que trata-se de José Sarney, aquele político que esteve, simplesmente, aliado a todos os governos desde a ditadura militar até a atualidade, e, não é leviano dizer, estará também aliado com o próximo governo, seja Dilma ou Serra ou, eventualmente, qualquer outro, independentemente de qualquer coloração política ou ideológica.
Falar em projeto nacional de interesse do PT consiste, senão em uma falácia, mas, ao menos, em uma grande falta de visão do projeto petista para o futuro da política, senão vejamos. O rompimento com as oligarquias no Brasil tem sido a marca de uma nova política, que não aceita mais este tipo de controle de grupos que vêem no agir político somente a forma de se perpetuar no poder e enriquecer seus patrimônios, somente resistindo, infelizmente, a do Maranhão.
O poder político, em verdade, se torna mais democrático na medida em que sua repartição se dá de forma mais ampliada. Uma oligarquia, como a de Sarney, busca a cada vez maior concentração de poder em torno de si mesma, para que possa, habilmente, fazer toda sorte de negociações espúrias e chantagens com o governo constituído, seja ele qual for.
Um projeto político petista, pela sua necessária visão ideológica de fundo, não pode olvidar a necessidade da extinção de uma oligarquia com a de Sarney, muito embora o velho e remanescente oligarca seja o Presidente do Senado, cargo pelo qual o PT já pagou mais do que deveria, isto para manter o assento de Sarney na direção daquela casa.
Quanto ao cenário político nacional, resta claro que, em termos de uma votação para Dilma na eleição presidencial, não há outro cenário melhor que a existência de dois palanques no Maranhão. A perda de votos de Dilma se a eleição aqui se der somente com o palanque PT/PMDB é natural e inquestionável.
As duas maiores cidades do Maranhão, a capital e Imperatriz, governadas pelo PSDB, são historicamente anti-Sarney e colar o nome de Dilma ao Governo Estadual, e somente a ele, trará um crescimento indesejável à candidatura de José Serra. Sem dúvida, eleitoralmente, isto é um fato.
No Maranhão, a figura de Sarney sempre será associada ao atraso político, este um reflexo de sua permanente utilização da máquina estatal em proveito próprio, sem qualquer interesse social pela população de nosso Estado.
Não há como imaginar que um governo ligado à família Sarney possa consistir em qualquer avanço em termos democráticos. O governo Roseana Sarney, na área da saúde, onde encontramos o caricato Ricardo Murad, já havia, até meados de dezembro do ano passado, publicado no diário oficial do estado a cifra de quase meio bilhão de reais em dispensas de licitação.
Esta falta de compromisso com o erário público, feito claramente para encher os cofres pessoais de seus apaniguados e estabelecer um caixa dois para a campanha de 2010 (uma forma de distribuição de renda, logicamente entre o grupo), não pode ser vista como qualquer forma de compromisso com a democracia.
Participar de um governo como esse é, nada mais nada menos, do que concordar com essa forma de gerir o dinheiro público, como se não tivéssemos qualquer responsabilidade histórica com tal fato. Não dá para tratar um assunto como esse de forma leviana, achando que esse é o verdadeiro jogo da política real.
Tais ações da família Sarney, em relação ao erário, devem, por nós de esquerda, como sempre fizemos, ser rechaçadas veementemente, sem qualquer concessão, sob pena de nos aliarmos por pura omissão. Não dá pra ficar vendo e fazer de conta que isso não existe. Logo nós, que sempre assumimos esta responsabilidade histórica...
O decantado projeto nacional do PT não pode se ver subsumido a situações como esta, vez que o PT, caso componha com o PMDB, deverá protagonizar uma parte deste governo, logo compondo seu todo, devendo ser, além de vitrine, conivente como todo tipo de prática que sempre questionamos e repudiamos em nossa história de vida.
E não há como, de forma ingênua, achar que o PT do Maranhão, a partir de 2010, vai mudar a forma de gerir a coisa pública, fazendo com que o PMDB e o DEM, através de todos que estão acostumados com a farra do dinheiro público, digam: Olha, agora vai ser diferente porque o PT do Maranhão está compondo o governo e não vai haver mais nada ilícito!!!
Esta é o grande nó desta história! Se for em nome do projeto nacional, para que Sarney continue sustentando o governo Lula, que o PT do Maranhão não coligue com ninguém, saia com candidatura própria, mas sem compor com o PMDB, única forma de se livrar da pecha de oportunista.
Tal se dá pela simples compreensão, que acredito ser unânime, de que os governos capitaneados pela família Sarney nada mais buscam do que o sangramento da máquina estatal, sem qualquer compromisso com um projeto político de uma sociedade mais justa e igualitária.
Assim, a defesa do projeto nacional poderia ser o lançamento de uma candidatura própria, que não propiciasse ao PC do B de Flávio Dino o apoio do PT, seu tempo de televisão e a capilaridade do PT no estado, o que faria com que, grosso modo, Roseana pudesse ganhar a eleição no primeiro turno.
Temos plena convicção de que a participação em um futuro governo Roseana, por si só, torna inexeqüível, pelo PT, qualquer projeto real de desenvolvimento político no Estado, bem como qualquer perspectiva de crescimento do partido.
Não podemos imaginar que qualquer avanço seja possível com o PT compondo um governo com as figuras de Roseana, Ricardo, Cutrim, João Alberto, Mauro Fecury e tantos outros. Companheiros, sinceramente, não há ingenuidade em uma afirmação contrária a esta.
Se é pelo projeto nacional, que não apoiemos ninguém e pensemos em uma candidatura majoritária própria e na simples manutenção de nossas bancadas estadual e federal, se bem que acho que acabaremos perdendo eleitoralmente com esta opção.
Compor com a famíla Sarney, subir no palanque com eles, é um verdadeiro tiro no pé e uma mácula na história de nosso partido, que nunca conseguiremos apagar. Em momentos pretéritos, e até hoje, sempre lembramos, com certo escárnio, que o PC do B compôs o governo Roseana, nos achando a última coca-cola do deserto.
Agora, talvez por ironia da história, estamos prestes a protagonizar o mesmo tipo de fato histórico no cenário político do Maranhão, com a argumentação pífia de que estamos subsumidos ao projeto nacional de 2010.
Por outro lado, este, nosso ver, mais condizente com o nosso partido, temos a candidatura, já lançada, festejada e constantemente reafirmada de Flávio Dino, pelo PC do B, o qual, também sem qualquer cerimônia, pretende o apoio do PT.
Há que serem traçadas algumas distinções fundamentais entre a candidatura de Roseana e de Flávio. Não pela posição ideológica ou pelos campos que ambas ocupam, diametralmente opostos, mas pelas suas eventuais importâncias para a construção de um Partido dos Trabalhadores mais forte no Estado do Maranhão.
Enquanto no governo Roseana a participação do PT se daria meramente como de atores coadjuvantes, talvez até bem remunerados pelos cargos e estruturas de governo colocadas à disposição do PT, na de Flávio Dino realmente o PT seria protagonista do governo, além de estar presente, muito provavelmente, em muitos mais cargos e estruturas de governo do que no PMDB.
Por outro lado, se a intenção não for meramente por cargos, a discussão de um projeto político para o Maranhão, com Flávio Dino, não se veria subsumido aos interesses burgueses que sempre foram o ideário da família Sarney, facilitando a consecução de um projeto político de governo realmente democrático.
É importante ressalvar que em 2010 temos a possibilidade de um fato histórico para o PT do Maranhão, que somente poderá ser verificado com o apoio à candidatura de Flávio, vez que plenamente descartado em uma aliança com o PMDB/DEM, qual seja, a unidade do PT no Estado.
Várias são as análises que estabelecem que o PT pode se ver unido em torno de Flávio Dino e que tal fato seria salutar para todas as correntes internas do Partido, potencializando as vitórias eleitorais de Dutra e Washington e aumentando as bancadas de Deputados Estaduais e Federais de nosso partido.
Em um cenário com PT, PC do B e PSB, seriam quase certas as eleições de Dutra e Washington a Federal e o aumento da bancada estadual, para três ou até quatro Deputados, isto face o poder de aglutinação que teria uma campanha formada pelos partidos do campo de esquerda, tão emblemático quanto foi a campanha vitoriosa de Flávio Dino para Prefeito de São Luís.
Por outro lado, a vaga de Vice-Governador seria nossa, o que poderia contemplar a CNB, enquanto que o outro campo ocuparia a vaga do Senado.
A unidade do PT traria uma nova luz ao cenário político e as crises internas do Partido estariam, senão ilididas, ao menos minimizadas, fazendo com que o PT fosse novamente visto como protagonista das reais mudanças sociais no Maranhão.
Por outro lado, colar a imagem do PT ao PMDB de Sarney somente nos trará prejuízos eleitorais, não havendo argumentação possível ante o eleitorado acerca de tal aliança. O PT, com efeito, sempre lutou por uma sociedade mais justa e igualitária e somente com este tipo de argumento se poderia conquistar mentes e corações para um projeto político qualquer. Se aliar com o PMDB no Maranhão e participar de um governo com eles somente nos trará a pecha de oportunistas, transformando-nos em mais uma partido fisiológico.
Como vamos enfrentar as massas? Qual será nosso discurso? De defesa do governo de Roseana? Vamos dizer que estamos passando uma chuva ou vamos dizer que somos o próprio governo, que o abraçamos com unhas e dentes? E os discursos do passado contra a oligarquia? A oligarquia mudou? Agora é revolucionária? É só pela governabilidade do governo Lula, mesmo perdendo votos para Dilma em 2010?
Tais questionamentos, por certo, já passaram pela cabeça de todos os filiados que buscam o crescimento de nosso partido, mas o debate parece estar descambando, novamente, para as picuinhas internas das tendências do partido, fato que pode gerar a maior catástrofe política dos últimos anos para nós petistas.
Não podemos entrar no esquema das eleições conquistadas através das máquinas eleitorais das prefeituras municipais, pela venda de voto no varejo, pela influência da família Sarney junto aos Prefeitos.
Este não é o ideário do Partido dos Trabalhadores que queremos. Ainda somos românticos, utópicos e não aceitamos que a eleição se dê através das máquinas eleitorais que fazem dos eleitores mera peça de barganha entre candidatos e caciques eleitorais.
Se eleger desta forma, como fazem tantos outros ligados ao PMDB de Sarney, não pode ser o nosso sonho de alcançar o poder político. Nosso sonho é sonhado com a participação popular, com o debate, a consciência política, as bandeiras de luta, as conquistas das agendas dos movimentos sociais etc.
Somos algo com mais dignidade nessa máquina de moer gente, não podemos operar essa máquina ou sermos por ela beneficiados se não for para chegarmos em casa e perceber que nossas eleições, nossa conquista do poder político, não foi legítima. Nós que sempre questionamos os abusos de poder, político e econômico em campanhas, agora vamos usufruir deles sem o menor pudor, estando junto com aqueles que sempre criticamos.
Em suma, esta é a nossa compreensão, precisamos olhar para o futuro de nosso partido com mais responsabilidade, sem permitir que sejamos cooptados por aqueles contra quem sempre lutamos, precisamos olhar para dentro de nós mesmos, para a história de luta que cada um de nós, militantes de esquerda, construímos ao longo dos anos, desde a fundação do PT, para que possamos tomar a melhor decisão. Sorte a todos os delegados deste Congresso estadual do Partido dos Trabalhadores. Saudações petistas. Pela unidade do Partido dos Trabalhadores em torno do nome de Flávio Dino para Governador do Estado do Maranhão em 2010.
*Advogado e Sociólogo. Filiado ao PT/MA