A CORRUPÇÃO NÃO É UMA COISA MENOR
A relativização aplicada aos casos de
corrupção praticada por parte da “esquerda” (criminosos da “política’) é
vergonhosa e irresponsável, mas não deixa ter coerência interna com a doutrina
política que abraçam (ao credo religioso que professam). Esse modelo de
esquerda existe enquanto séquito e seu ethos
é de natureza similar aos ethos
encontradas em seitas religiosas. Seguem a apreciação dos fatos e do contexto
sob a ferrenha força doutrinária (que diz o que fazer) e sustentada pela fé
cega (eles creem por creem, sem se permitir pensar sobre os rumos da sua fé e
os efeitos dela sobre o contexto). Essa parte é, sem exagero nenhum, composta
por fanáticos.
O fanatismo é tão exacerbado que buscam
escamotear fatos, em que pese as diferenças e possibilidades interpretativas,
são passíveis de verificação por diversos meios. Mas, como fanáticos de tipo de
seita, estão mantendo a coerência, pois não só isso pode ser racionalizado a
partir da doutrina mãe (marxismo), como por diversas derivações
doutrinárias/pragmática, a exemplo do leninismo. Os meios podem ser justificados
pela causa maior: a revolução. Desta
maneira depredar o patrimônio público material e imaterial é normal, cabível
desde que em consonância com as conveniências dele. Isso por dois motivos: 1-
eles se acham especiais e com um direito supremo de agir sempre conforme sua
visão de mundo (a eles tudo é permitido, ninguém, mesmo que tendo outra visão,
não os pode contrariar); 2- o bem público só alguma coisa e só existe quando é
conveniente ao exercício de oposição ou para lhe servir benefício
(financiamento público de campanha, fundo partidário etc.).
Ora, fica é evidente que o autoritarismo
não é um detalhe nesse meio. Nessa perspectiva política e social não há a opção
em ser ou não ser democrático. O autoritarismo não é qualidade, ele é natureza,
não é uma questão adjetiva. Porque todo o projeto de transformação, condução e
modelação da sociedade defendida nessa perspectiva é autoritário, pois está
expressamente pautado em uma percepção única, em uma vontade única que inevitavelmente
se opõe ao que há de plural e diferenciado.
A matriz (o trabalho intelectual de
Marx) é tida como autoexplicativa, onde não se admite erros e nem limitações. É
algo que não se reconhece (na sua origem) e não é reconhecido pela seita e
fiéis como construção teórica falível e limitada em suas possibilidades
interpretativas e metodológicas. As ações e os projetos desses fiéis estão inscritos
num campo da fé e da crença tomados com uma rigidez absurda. Todas as
formulações feitas como possibilidades explicativas e interpretativas são
tomadas como verdade e dogmatizadas. Reconhecer falhas, erros e crimes não é
algo de fácil realização nesse âmbito, pois tudo em volta pode ser relativizado
em nome dessa verdade. Para tanto, basta recorrer à chave-mestra explicativa e
justificadora: o capitalismo. Os males do capitalismo justificam tudo.
Para observar estado religioso e fanático
profundo basta ver que o devir já tem nome para além da história e as
possibilidades reais; é algo similar a um designo, cujo nome é socialismo. Isso
não é materialismo histórico e nem dialético, mas um plano salvífico teológico.
O reconhecer erros e admitir falhas não é da lógica desse espírito de crença e
dogmatismo profundo, pois ao crente pleno há uma única coisa: a certeza.
A corrupção nunca foi uma coisa menor na
política, sempre foi algo gravíssimo. Porque antes de tudo a corrupção é uma
degenerescência, uma falência e um desrespeito à confiança. Sempre implica em
perda de confiança, de credibilidade e legitimidade. Logo a corrupção não está
restrita ao ato envolvendo elementos econômicos/financeiros, patrimoniais e
materiais. Além disso, a corrupção nunca é um fim mais um meio (seja para
enriquecimento econômico, seja para ampliação de poder ou ambos). E no espaço
da Política brasileira tem sido um meio recorrente e sistemático de
enriquecimento ilícito e ampliação de poder. A manutenção do poder não está
desvinculada de enriquecimento pessoal e sustentação de privilégios e mordomias
pagos com o dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos.
Antes de pensar os males do capitalismo,
como forma de legitimar a corrupção, é plausível olhar os fatos históricos e
sociais: contextos morais existiram em diferentes épocas e a existência e o
respeito à coisa pública são experiências históricas anteriores ao Capitalismo,
com intervalo de alguns milênios.
A “defesa” (ou justificativa)
apresentada pela “esquerda” envolvida em todo esse esquema de corrupção presente
nas páginas de diversos processos, no âmbito da Lava Jato, é irresponsável e de
total desprezo à Democracia e à República. É algo sem precedentes. Trata-se
exatamente de buscar legitimar a corrupção
eleitoral e o caixa dois como necessários, como exigência do sistema e que
ela não foi para enriquecimento pessoal (será a vida ascética do Cinismo?).
Nessa postura da “esquerda” que alçou ao poder (de forma coligada e em
parceria) o atual ocupante da Presidência e que, em ato contínuo, participou da
pilhagem, loteamento e diluição da natureza pública do Estado brasileiro, encontra-se
um misto de apologia ao crime, desfaçatez e fanatismo. Como já referido: tudo
pode ser relativizado por esse séquito, os fins justificam todos os meios e
eles são incapazes de reconhecer que erraram.
Diante disso, não é preciso esforço para
perceber que essa gente não tem compromisso com a Democracia, com a República e
com a Política. O que se espera minimamente em uma Democracia é que as eleições
sejam limpas (sem ilegalidades, sem fraudes), competitivas (condições iguais) e
transparentes (publicidade e passível de fiscalização). Não existe política sem
o espaço público, sem a coisa pública garantida e defendida, pois sem
co-responsabilidade, co-propriedade e direitos comuns fica difícil a defesa do
bem comum, a equação e a crítica às ações e omissões em trono dos negócios
públicos.
Essas pessoas não são a favor da
Política, mas seres nocivos à Política, pois todos os seus meios e recursos
comprometem o ambiente moral, o pluralismo e o governo de lei. Isto é, são
anti-Democracia, anti-República e anti-Política.
“A virtude afirma-se por completo na
prática, e seu melhor uso consiste em governar a República e converter em obras
as palavras que se ouvem nas escolas”. (Cícero)