Assustadoramente durante mais de 12 anos a intelectualidade brasileira, salvo honrosas exceções, como Francisco de Oliveira, ficou omissa, acovardada ou com seu intelecto alugado à facção política no poder. Nenhum quis enxergar ou tentou minimamente questionar o óbvio, p. ex.: como foi a tal saída de milhões brasileiros da pobreza? Quem e por qual critério criou a classe "média" C? Que números eram esses apresentados e qual a viabilidade e sucesso de programas sociais que cujos os inscritos aumentava a cada eleição? Ninguém questionava o tal sucesso e conquistas de Lula. Omissão absurda.
Nesse segundo governo de Dilma, a maior máscara de marketing de todos os tempos, o povo votou em uma mentira, quem falava quem dizia tudo era um marqueteiro. A campanha do PT não tinha política não tinha político, tinha uma peça publicitária e um marqueteiro. No mais.. foram os apoios costurados sobre a nossa esquisita engrenagem de repasses de recursos, emendas parlamentares etc.
A intelectualidade calada. Calada mesmo quando tudo já era irremediavelmente clara a subida dos preços, os gastos absurdos e não-transparentes com a Copa e, mais bizarro, a tal base de apoio de governo (ampla e absurdamente heterogênea). Sobre essa base de apoio as explicações foram das mais variadas possíveis, desde a já batida e não comprovada "presidencialismo de coalizão" ao gigantismo do PMDB. Ninguém ousou dizer que o problema não está no Presidencialismo e seu desenho institucional. A constituição coloca na competência do Legislativo bastante poder. O que estava atrás dessa ampla base é uma absurda máquina de pilhagem do Estado e a velha alma autoritária, que não quer negociar, trabalhar com consenso progressivo, cooperação etc. Os governos pós-abertura, em plena democracia, nunca quiseram negociar e reconhecer a importância da oposição na condução política do país. Nenhuma governo quer ou se dispões a negociar sobre projetos etc.
Aí vem novamente a pergunta: cadê a intelectualidade brasileira? Agora só que aparece com dedos. Só agora algumas entidades fazem nota, mas para reclamar sobre corte de verbas para a pós-graduação. Isto é, notas extremamente corporativistas e nada mais. No mais apareceram alguns intelectuais brasileiros, mas que não vivem no Brasil, para afirmarem absurdos sem nenhuma correspondência com a realidade atual do país, sem apresentar nenhum dado que sustente tais afirmações. Afirmação que o avanço do conservadorismo no Brasil é sem paralelo no mundo não merece a menor credibilidade.
Primeiro, no Brasil o conservadorismo não avança, apenas voltou a se manifestar de forma mais aberta, pois estava silenciado desde a redemocratização. O conservadorismo mais atuante é tradicionalista, não é reacionário. Não existe organização em torno do ideário nazistas ou fascista como existe na Europa. Quando o Brasil teve a maioria de sua população apoiando o ideário socialista, marxista etc. ? Nunca teve. Segundo, crítica não é golpismo, oposição não é ser conservador. Pelo contrário, é vida democrática no seu contraditório. Absurdo é todo uma intelectualidade querer justificar todos esses crimes contra a república e a democracia como o argumento de um suposto golpe de direita. Ora, quem compõe o governo do PT desde o primeiro mandato de Lula? Exatamente os antigos aliados da ditadura, a direita mandonista, nepotista, patrimonialista, familista etc. Se algum risco foi criado pelo próprio PT e seus governos. Foram eles que alimentaram e deram espaço para esses setores, o golpismo não está nas vozes que criticam e fazem oposição nas redes sociais e nas ruas.
A Dilma não sai porque ela é útil ao PMDB e demais partidos nanicos que estão lucrando nesse apoio. O PMDB não assume porque não assumindo não responde diretamente pela crise econômica e pela pilhagem do Estado. Dilma é uma presa fácil, disse isso desde a primeira eleição dela. Mais fácil ser mantida como refém desses senhores que lotearam o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Mantê-la sangrando até o final é o melhor para esse senhores manterem seus domínio sobre a coisa pública. Quem realmente fez críticas as essas relações estranhas intergovernamentais? Por que nunca houve questionamento sobre a real situação em que Lula entregou o Governo a Dilma? Dilma é parte, mas também, em parte, é vítima do jogo de poder do Lula e os demais chefões do PT. Por que toda a intelectualidade brasileira (com raras exceções) não questiona Lula?
Por outro lado, nós nunca tivemos uma fase democrática tão longa sem oposição. Venho destacando isso há tempos. Existe um vazio. O PT no poder deixou um vazio no ativismo porque aparelhou diversos movimentos e entidades, engessou movimentos e enfraqueceu o ativismo organizado na sociedade civil. O que resta partidariamente de oposição é de formalismo, restrito ao parlamento, mas sem nenhuma vontade e compromisso político maior do que o eleitoral. Não é propositiva e não tem projeto algum. Vide a tal reforma política, onde nenhum apresentou nada consistente. Cadê a intelectualidade brasileira sobre a questão da reforma política?
Por que a intelectualidade brasileira não defende coisa pública, valores republicanos e democráticos abertamente e enfrenta os que estão pilhando o Estado brasileiro, o patrimônio político e econômico do Brasil? Por que a intelectualidade brasileira não questiona a postura moral dos que governam de querem se justificar argumentando que outros também fizeram igual (crimes)?
Por que nossa intelectualidade está abdicando de participar ao lado dos descontentes, dos que estão indignados? Será toda essa intelectualidade envelheceu demais? Envelheceu biologicamente ou em ideias/ideais? Ou estão todos muitos estabelecidos juntos ao poder ao ponto de terem direito somente ao silêncio? Quantos ganharam muito como conselheiros, consultores desse gente que ocupa o poder atualmente?
A ausência de uma intelectualidade crítica e ativa é preocupante. Todo intelectual tem lado, preferências políticas e não há nada errado nisso. Porém, intelectual não pode alugar e nem vender sua consciência intelectual. O intelectual só existe meso com uma margem de liberdade inegociável.
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