Foto: o Estadão (recortada) |
Em 2002, quando comecei o doutorado, tratei de conseguir uma entrevista com o senador Sarney. Motivo: a transição, processo de democratização e volta dos governos civis. Passei meses tentando achar um canal de acesso e que viabilizasse essa entrevista, por fim lembrei de uma amiga que o marido era parlamentar e recorri a ela. Fiz algumas perguntas bem simples e mandei, no mesmo documento, meu contato, basicamente meu e-mail para uma eventual resposta. A resposta veio através de um assessor de nome Pedro, e não era mais que um NÃO. Motivo: ano eleitoral. Como no Brasil, vergonhosamente e em total desrespeito ao erário, fazemos eleições em dois em dois anos, mas na prática é campanha em um em um ano, fiquei praticamente desabilitado de entrevistar o senador Sarney até hoje.
No fundo, a minha investigação estava exatamente direcionada à sobrevivência dos aliados da ditadura e o grau de democracia estabelecido, o que democracia acabou sendo efetivada diante de tal processo (?). Era uma empreitada muito ambiciosa. O certo é que essa entrevista que considerava e considero de grande importância para meu trabalho não aconteceu.
Mas, permanece a vontade de melhorar o texto, de buscar fazer uma leitura dessa tal redemocratização por um ângulo diferenciado do que já foi produzido exaustivamente até aqui. Recentemente recorri a três pessoas com acesso ao meio familiar e político do senador Sarney, mas até agora NÃO obtive nenhuma resposta. Queria publicar meu trabalho nesse aniversário de 50 anos do Golpe de 1964, mas isso já não é mais possível. Quem sabe eu consiga publicar no aniversário de 51 anos do Golpe. O problema agora é o senador Sarney querer colaborar com pesquisadores locais como eu, sem referências maiores e sem "pedigree".
Tudo indica que não vou ter mesmo essa entrevista. O senador já está com 83 anos e, como todos os seres humanoides, vai ter a ruptura existencial com esse mundo.
Mas, permanece a vontade de melhorar o texto, de buscar fazer uma leitura dessa tal redemocratização por um ângulo diferenciado do que já foi produzido exaustivamente até aqui. Recentemente recorri a três pessoas com acesso ao meio familiar e político do senador Sarney, mas até agora NÃO obtive nenhuma resposta. Queria publicar meu trabalho nesse aniversário de 50 anos do Golpe de 1964, mas isso já não é mais possível. Quem sabe eu consiga publicar no aniversário de 51 anos do Golpe. O problema agora é o senador Sarney querer colaborar com pesquisadores locais como eu, sem referências maiores e sem "pedigree".
Tudo indica que não vou ter mesmo essa entrevista. O senador já está com 83 anos e, como todos os seres humanoides, vai ter a ruptura existencial com esse mundo.
Ontem, 06/04/2014, o jornal O Estado do Maranhão, de propriedade do próprio senador Sarney, publicou, na página 08, uma entrevista com ele feita pela repórter Laura Grennhalgh, de O Estado de São Paulo, o Estadão. Na entrevista foi tratado alguns bons detalhes sobre o período que me interessa, algumas sutilezas e revelações de bastidores. Porém, os pontos da minha curiosidade não foram atendidos. Os ângulos das formulações, apesar de bons, não são os meus e não atendem a minha investigação, é óbvio. Mas é um material importante para pesquisadores e demais interessados no tema. Vale a pena ler.
Destaco algumas trechos que considero coincidente com o que observei na minha tese:
1- Ele funcionou como uma senha do processo para a transição acontecer dentro dos parâmetros do lento, gradual e seguro. Garantia à garantia dos militares;
2- Era e é um admirador de Juscelino, mas não tem a mesma admiração por Getúlio, a quem destaca o caráter autoritário e busca minimizar a influência da era Vargas, além de reproduzir a tese de FHC de que a superação do estado varguista já está consolidada.
Repito aqui o que já afirmei na tese: Leônidas Pires foi quem deu posse a Sarney, através dele que verdadeiramente a "eleição" de Sarney para Presidente foi efetivada.
Destaco também, a partir dessa entrevista que: 1- Sarney é um exímio semeador de afagos (e contador de histórias). 2- É capaz de criar brechas, em qualquer tema e parte da história, para manifestar gestos necessários a quem possa render apoio e reafirmar a amizade. Exemplos:
A- Ao falar de Getúlio cria uma brecha para tratar do sindicalismo, nisso agracia Lula evocando o tal do novo sindicalismo (o senador não usou a expressão "novo sindicalismo", eu fiz isso), como superação do sindicalismo pelego. No final, mais uma vez, fala do operário concorrendo à Presidência no final do seu mandato;
B- Assume mais a proximidade o alinhamento com Castelo Branco e o apresenta em distanciamento e desalinhamento com Costa e Silva, por fim, ele próprio, mostra-se em tensão com Médici. Com isso, presta homenagem a um amigo e, ao mesmo tempo, afasta sua trajetória política do AI-5. Não duvido de nada, só destaco a habilidade dele de contar. Todo ponto de vista é visto de um ponto... Todos válidos.
Repito: Lula é a chegada atrasada do último contingente produto da ditadura, é a consolidação da transição dentro dos parâmetros do lento gradual e segura. Nada até agora ocorreu fora disso. A democracia que temos foi e é carregada (excessivamente) pelo ideário de democracia da antiga Escola Superior de Guerra. O avanço democrático que se esperava ainda não aconteceu. Vide a proposta recente da OAB, que ao sugerir o recall na reforma política, limitou o dispositivo ao legislativo, alegando o "risco" dos adversários derrotados agirem contra o titular do Executivo. Isso traduz a mentalidade conservadora que não admite o poder com o povo, nem acredita na capacidade do povo, mas o tem sempre com um incapaz que merece de certos cuidados e tutela. Traduzindo: O povo tem capacidade para votar para eleger, mas não tem capacidade de votar para tirar (vai ser manipulado). Alguém entende? Pois é... lenta , gradual e segura (sempre?).
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